O novo presidente do Afeganistão, Ashraf Ghani, é um homem com pressa de fugir ao estilo de governo do seu antecessor.
Os jantares luxuosos que eram marca registrada das reuniões do presidente Hamid Karzai já foram cortados, e Ghani quer passar a mensagem de que reuniões no palácio são para negócios, não prazer.
Em apenas algumas semanas de seu mandato, Ghani já se pronunciou em relação a algumas grandes questões, incluindo a assinatura de um acordo de longo prazo com tropas dos Estados Unidos.
Karzai usou um estilo cortês para manter rivais trabalhando junto, ciente de que, no Afeganistão, os convidados esperam ser alimentados, e a tradição vence a experiência.
Ghani, por outro lado, só pensa em eficiência e estruturação de instituições. E seu desejo de rapidez vem junto com seu temperamento. Alguns aqui se preocupam que esse seu temperamento, estilo ocidental e abordagem didática, aperfeiçoados por sua carreira no Banco Mundial e no meio acadêmico, possam alienar colaboradores afegãos.
Por exemplo: para andar por Cabul, Ghani renunciou às comitivas enormes das quais Karzai gostava, e utiliza apenas alguns carros. Isso certamente será um sucesso de relações públicas entre a população, pois as comitivas de Karzai paravam o tráfego por horas.
E essa medida também permite que Ghani faça inspeções surpresa. Em visita a soldados feridos no hospital militar de Kabul, disseram-lhe que havia médicos de plantão o tempo todo. Quando Ghani voltou mais tarde e não viu ninguém por perto, muitos foram prontamente demitidos.
"Agora, ele está concentrando 95 por cento do seu tempo às instituições e cinco por cento à política", disse um antigo funcionário afegão, que falou sob a condição de anonimato para não parecer estar criticando o presidente. "É preciso haver mais equilíbrio".
Aliados de Ghani dizem que esses medos não se justificam e que seus esforços para sinalizar uma mudança na abordagem dos direitos da mulher, por exemplo, exemplificada pelo papel de alto escalão de sua esposa na vida pública, procuram ser um exemplo de liderança progressista.
Alguns especulam que esse estilo durão poderia ser atenuado pela presença de Abdullah Abdullah, seu rival nas eleições, que agora é o executivo-chefe de um governo de coalisão com Ghani.
Mas Ghani não perde tempo com suas atitudes.
Ele ordenou que os ministérios apresentassem uma lista de todos os empregados contratados, com suas qualificações e currículos. Exigiu também seus contratos e os documentos relacionados na tentativa de trazer o processo para o âmbito presidencial.
No mês passado, cerca de mil dignitários se reuniram na propriedade do governador de Kunduz, província atingida por uma onda de violência talibã nas últimas semanas.
Líderes da região, alguns vivendo sob o regime talibã, se reuniram para ver o novo presidente, que teve sua programação atrapalhada apenas por dificuldades técnicas da videoconferência, durante a qual ele foi visto fazendo algumas anotações.
Depois dos discursos, Ghani reconheceu que a situação em Kunduz representava uma ameaça à segurança nacional e prometeu desarmar as milícias que espalham o caos.
Então, prometeu mudança o que foi feito imediatamente.
"Já aprovei o novo governador da província", disse ele para a multidão chocada, incluindo o governador repentinamente demitido.