Um painel exibe o custo da corrupção desde o início do ano letivo| Foto: adriana zehbrauskas para The New York Times

Em todo o México, as crianças começam um novo ano letivo, mas muitas acabam em prédios caídos, sem água potável, apostilas novas ou professores treinados.

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Dinheiro não é problema, pois o país investe mais em educação, proporcionalmente ao PIB, que Brasil, Espanha e Suíça. Então, para onde ele vai?

De acordo com os cálculos que aparecem no "abusômetro" – um painel gigantesco em um cruzamento bem movimentado da cidade – cerca de US$2,8 bilhões todos os anos vão para o bolso de 298.174 professores, diretores e funcionários que ganham sem trabalhar.

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"É o roubo do século, e acontece todos os anos. A corrupção é absurda", desabafa Claudio X. González Guajardo, da Mexicanos Primero, organização educacional responsável pela denúncia.

Os dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico há muito apontam para o desempenho educacional fraco do México, com 93,3 por cento do orçamento gasto com funcionários, mais que qualquer outro país membro da instituição. Nem as necessidades básicas da escola são preenchidas.

Segundo o censo mais recente feito pelo governo, quase um terço das escolas públicas mexicanas não tem água potável. Onze por cento não tem energia elétrica e em algumas áreas indígenas de Chiapas e Oaxaca, os problemas de infraestrutura são muito piores. E o abusômetro é uma crítica direta e incomumente ousada que usa a vergonha para gerar indignação.

Com um site e a hashtag #abusometro no Twitter, a campanha é um sinal inegável de que a sociedade civil mexicana está ficando mais sofisticada. E também enfatiza a divisão entre uma classe média crescente e cada vez mais digitalizada – que espera transparência, decisões baseadas em dados e resultados rápidos — e a velha guarda dos funcionários públicos, que ainda depende imensamente do sigilo e da burocracia.

O governo mexicano ainda não se manifestou em relação ao abusômetro, mas Claudio sabe que está prestando atenção. Aliás, os números que ele usou na verdade são do censo feito pelas próprias autoridades antecipando uma lei da reforma educacional à qual muitos professores são contra – e demonstraram seu descontentamento acampando na praça principal da capital durante semanas.

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Agora, as evidências que o governo reuniu para forçar a aprovação da legislação — que supostamente incluiria avaliação e treinamento aos futuros educadores — estão sendo usadas para exigir uma "limpa" no quadro docente.

Sem dúvida, é o que muitos pais querem. Recentemente, depois de passar pelo outdoor com o filho de cinco anos que trazia da escola, Adriana Reyes, de 35 anos, disse que o governo tem que se agilizar para melhorar o ensino.

"Ficam se gabando do dinheiro gasto na educação, mas a qualidade nunca melhora", lamenta ela. Olhando mais uma vez para o medidor, que mostrava 440.186.899 pesos (mais de US$33 milhões) desperdiçados antes do fim da primeira semana de aula, acrescentou: "Há mudanças, mas elas são tão lentas".

Luis Urrieta Jr., da Universidade do Texas, disse que a burocracia educacional, mais que os professores, é culpada pela corrupção; ao mesmo tempo, depende-se dela para promover mudanças mais amplas, o que exige um equilíbrio delicado.

Alguns especialistas temem que, após décadas de nepotismo e trocas de favores, com cargos passando de um para o outro nas famílias — e gente recebendo o salário de parentes há muito tempo mortos — promover cortes, principalmente nas áreas rurais, mais pobres, poderia levar a uma nova onda de protestos que ameaçaria parar todo o sistema educacional de vez.

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Claudio, por sua vez, continua insatisfeito. Ele diz que o dinheiro gasto com professores e funcionários que não fazem nada poderia ser usado para aumentar o salário dos bons profissionais, construir 24 escolas novas por dia ou equipar praticamente todas as escolas de ensino médio com computadores modernos.

"Eles sabem — sabem que têm um problema imenso. Só precisam de vontade política para mudar as coisas", conclui.