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Anolis como essa espécie voltam para casa enfrentando todos os obstáculos | Manuel Leal/The New York Times
Anolis como essa espécie voltam para casa enfrentando todos os obstáculos| Foto: Manuel Leal/The New York Times

Pode chamar de “o caso dos lagartos que acham sua casa”. Esse é um mistério com uma pergunta central que já gerou muita investigação científica: como os animais encontram seu caminho para casa?

Nesse caso, os lagartos são anolis — pequenos répteis abundantes no Caribe. A espécie é o Anolis gundlachi. O detetive é Manuel Leal, biólogo da Universidade de Missouri. Ele estuda o comportamento do anolis há mais de 20 anos.

Há cerca de três anos, Leal tem tentado entender como o anolis encontra seu caminho de volta para seu território depois de ser levado para longe. E o caso está longe de ser encerrado.

Os anolis são particularmente abundantes nas florestas tropicais de Porto Rico. Cada espécie está ligada a um ambiente específico. Por exemplo, muitos vivem em troncos de árvore, mas apenas em uma parte específica do tronco.

Alguns vivem apenas no espaço entre o chão até mais ou menos dois metros do tronco. Outros vivem acima disso, na copa das árvores. Os anolis dos galhos vivem bem mais no alto.

Há alguns anos, Leal estudava a competição entre duas espécies. Ele pensou: se removesse todos os anolis do solo, os lagartos da copa estenderiam seu território mais para baixo da árvore? Porém, surgiu um problema. Ele levou os lagartos do solo para longe de seu território de origem para abrir espaço para os vizinhos de cima, e em seguida os libertou. Mas eles não ficavam longe. “Os lagartos continuavam voltando para o território de onde foram removidos”, ele disse.

Leal questionou se novos anolis apareciam no território vazio ou se os antigos estavam retornando. Mas, como um lagarto que nunca saiu de casa poderia encontrar seu caminho de volta por quase 20 metros na densa floresta tropical?

Primeiro, ele estabeleceu que os animais de fato achavam o caminho de volta. Um estudante de pós-graduação pegou uma lagarto, colocou-o em uma caixa, sacudiu-a para desorientar o animal, caminhou cerca de 75 metros em uma direção escolhida aleatoriamente, agitou a caixa novamente e soltou o lagarto. Levou algumas horas ou dias, mas cerca de 80 por cento deles encontraram o caminho de volta.

Como fizeram isso? A caixa e a sacudida garantiram que o lagarto não conseguiria controlar o caminho. Não havia pistas visuais, disse Leal.

Alguns pássaros e insetos podem detectar a luz do sol polarizada, que lhes dá um senso de direção. E alguns animais conseguem usar o campo magnético da Terra. Então, a equipe colou ímãs minúsculos na cabeça dos anolis.

Mesmo assim, os lagartos voltaram. Mesma porcentagem. Mesmo intervalo de tempo.

Então, os pesquisadores cortaram bolas de tênis de mesa e as puseram nas cabeças dos animais para interferir com a luz polarizada, que pode chegar a uma área no cérebro chamada olho parietal. Algumas pesquisas mostraram que lagartos podem detectar a luz polarizada com esse órgão, e não com os olhos.

A equipe não bloqueou toda a luz para o olho parietal porque ele controla os ritmos diários do lagarto. Se ela for bloqueada completamente, disse Leal, “depois de um dia, eles param de se mover”. Normalmente eles ficam quietos à noite. Se sempre for noite, eles ficam parados.

E como os lagartos se saíram?

Eles voltaram de novo. Mesma porcentagem. Mesmo intervalo de tempo.

Por fim, a equipe de Leal criou simulações de computador de caminhos aleatórios, imaginando que apenas vagando aleatoriamente os lagartos chegariam em casa. Os lagartos na simulação não voltaram.

Seu próximo passo para resolver o mistério foi anexar um dispositivo de rastreamento GPS aos lagartos para ver que tipo de caminho eles fazem para casa.

Qualquer pessoa que tenha uma sugestão sobre como resolver o mistério pode mandar um e-mail para lealmizzou@gmail.com. Ele irá responder a qualquer mensagem com ideias promissoras. Pense nisso como uma linha de dicas de ciência.

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