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arte e design

O que os sem-teto veem quando olham Paris

“Aqui Onde Tudo Deve...Acabar”, uma das 27 fotografias feitas pelos sem-teto e exibidas na prefeitura de Paris | Dmitry Kostyukov /The New Yokr Times
“Aqui Onde Tudo Deve...Acabar”, uma das 27 fotografias feitas pelos sem-teto e exibidas na prefeitura de Paris (Foto: Dmitry Kostyukov /The New Yokr Times)

As imagens capturam uma Paris diferente daquela amada pelos turistas: o conteúdo de um saco de lixo que poderia ser confundido com um

a flor na água; um túnel úmido que se abre para uma avenida cheia de luz e árvores; a silhueta de uma figura de cabelos compridos usando um casaco pesado em uma janela, profundamente sozinha.

Não é de surpreender que elas estejam expostas no gradil de ferro que circunda o histórico prédio da prefeitura no centro de Paris, a capital internacional da fotografia. A diferença é que os fotógrafos são pessoas sem-teto.

A exposição na prefeitura é apenas o mais recente exemplo de como a política e a arte podem se misturar na França. Há muito tempo que políticos franceses se destacam através do apoio a instituições artísticas, e a prefeita, Anne Hidalgo, tem como meta a construção de habitações para a população de baixa renda e expressa sua preocupação com a questão dos sem-teto em uma das cidades mais ricas do mundo. Existem entre 11 e 12 mil pessoas desabrigadas em Paris, disse Dominique Versini, secretária municipal.

O projeto de fotografia foi uma ideia de Elisabeth Tiberghien, professora aposentada que decidiu agir para ajudar os desabrigados. Primeiro, tornou-se voluntária da Sociedade de St. Vincent de Paul, grupo de caridade que se dedica a ajudar os pobres e, em seguida, ela começou uma organização chamada Deuxième Marche, ou Segundo Passo.

Com a ajuda de um membro da diretoria, ela se aliou ao Wipplay.com, um site de fotografia que, em colaboração com a Olympus, concordou em fornecer câmeras digitais da empresa.

Quinze homens e mulheres sem-teto se ofereceram para participar. Apenas dois não terminaram o projeto.

Elisabeth também convenceu um fotógrafo profissional, Jean-Paul Lozouet, a orientar os fotógrafos, muitos dos quais lutam contra doenças mentais e, em alguns casos, o alcoolismo. A maioria deles agora está em algum tipo de abrigo graças ao Deuxième Marche.

Os participantes tiveram que fotografar de 17 de novembro até 20 de dezembro; então Lozouet fez um corte inicial, reduzindo milhares de fotos para algumas centenas. O Wipplay pediu aos visitantes do site para votar em suas imagens favoritas. Um júri que incluía especialistas em fotografia, artistas e um representante do gabinete da prefeita selecionou 27 fotografias para a mostra.

O Deuxième Marche vende cópias das fotografias, repassa metade do dinheiro arrecadado para os fotógrafos e usa o resto para pagar o Wipplay pela supervisão da votação on-line e para cobrir os custos da exposição. Até agora, foram vendidas cerca de 40 impressões; as maiores podem custar cerca de US$250 e as menores, US$150. Patrocinadores corporativos também fizeram doações.

Vários dos fotógrafos disseram que gostam de ir para a praça perto da prefeitura para calmamente observar os transeuntes olhando suas fotos.

Um deles, que deu apenas seu primeiro nome, Lorenzo, disse: “Ver as reações de todos é muito bom”.

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