A escola primária de Nogok vai fechar as portas no ano que vem, depois que o único aluno, Chung Jeong-su, se formar| Foto: Jean Chung/for The New York Times

O correio fechou anos atrás. A delegacia está vazia. O banco também. Ao longo dos anos, os moradores de Nogok viram praticamente todas as suas instituições desaparecerem, vítimas de um êxodo que está esvaziando vilarejos e cidadezinhas no interior sul-coreano.

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Agora, Nogok está prestes a perder um símbolo importante de sua vitalidade jovial: no início do ano que vem, a escola primária fechará as portas, quando o único aluno, Chung Jeong-su, de doze anos, se formar.

“Os vilarejos das redondezas não têm mais crianças para mandar para cá. Os jovens todos foram para a cidade, em busca de trabalho e casamento”, conta Lee Sung-kyun, único professor da escola.

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Nogok, a leste de Seul, é uma cidadezinha típica do interior sul-coreano, reunindo 16 aldeias idílicas, espalhadas por uma série de vales estreitos, cercada de colinas verdejantes nas quais os agricultores plantam batata, vagem e pimentão; no centrinho, pés de damasco e caqui crescem nos jardins de todas as casas. Só que ela também revela os sinais da rápida industrialização do país – e a própria escola teve um papel essencial nessas mudanças.

Com o final da Guerra da Coreia, os produtores de Nogok viram a educação como a melhor saída para os filhos fugirem do trabalho pesado e da pobreza; assim, toda manhã os levavam para a Escola Primária de Nogok, sendo que algumas crianças tinham que percorrer oito quilômetros para chegar até lá.

Mais tarde, por volta dos anos 70, elas engrossaram o fluxo de jovens interioranos que migraram para as cidades em busca de educação mais aprimorada ou empregos nas fábricas. Muitos acabaram como soldadores e pintores nos estaleiros do litoral sul do país, com salários com que seus pais sequer sonhavam.

Esse êxodo coincidiu com uma campanha de controle de natalidade do governo, iniciada nos anos 60 e que durou até meados da década de 90. Em Nogok, os homens casados que se apresentavam para treinamento militar da reserva recebiam preservativos ou trocavam o exercício obrigatório por vasectomias gratuitas. Com isso, a taxa de natalidade, que era de 4,5 filhos/mulher nos anos 70, caiu para 1,2 em 2014, uma das mais baixas do mundo. Durante o mesmo período, o número de alunos nas escolas primárias caiu pela metade, chegando a 2,7 milhões.

Mais atingidas pela mudança demográfica foram as cidadezinhas como Nogok e suas escolas públicas: desde 1982, quase 3.600 delas fecharam na Coreia do Sul por falta de alunos.

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Atualmente, muitos desses vilarejos parecem cidades fantasmas, com casas em ruínas e escolas, antes lotadas, vazias e abandonadas, com as janelas quebradas e cheias de teias de aranha.

“Só sobraram os velhos, gente que não serve para nada. Se alguém aqui encontrar uma jovem com uma criança no colo, vai olhar espantado, como se fosse uma espécie em extinção”, constata o agricultor Baek Gye-hyun, 55 anos.

Em 1960, Nogok tinha 5.387 habitantes, sendo 2.054 com idades até doze anos; em 2010, no último censo, a população se resumia a 615 pessoas, com apenas 17 delas com 14 anos ou menos.

Dentro do prédio de concreto de dois andares, o silêncio é incomum. As paredes, cobertas de desenhos a lápis e origami feitos por ex-alunos, são testemunhas de um passado produtivo. Os professores de pintura e violão aparecem por lá duas vezes por semana, para dar aulas a Jeong-su. Uma van da Secretaria de Educação local entrega o almoço do menino e seu professor.

Segundo Lee, a administração do prédio custa mais de 100 milhões de won/ano (cerca de US$87 mil).

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“Não dá para justificar esse valor para um aluno só”, afirma o morador local Kim Bok-hyun, 71 anos.

Algumas cidades rurais começaram campanhas para salvar suas escolas, contratando ônibus para transporte dos pequenos das aldeias vizinhas e até oferecendo moradia de graça para casais com filhos em idade escolar.

A iniciativa, porém, não funcionou em Nogok, conforme conta Kim Jong-sik, 58 anos, chefe de uma aldeia da área.

“Ninguém vem morar aqui, o pessoal só quer ir embora”.