| Foto: Alison Rosa/CBS Films

Ele era um peixão no laguinho da cena folk de Greenwich Village, em Nova York, por volta de 1960, procurado e imitado por recém-chegados como Bob Dylan e Tom Paxton. Mas quando seu livro de memórias, "The Mayor of Macdougal Street", foi publicado postumamente, em 2005, Dave Van Ronk havia se transformado em pouco mais que uma nota de rodapé na história da música popular dos Estados Unidos, mais conhecido por ter incentivado a carreira de muitos cantores e compositores do que pela própria obra.

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Agora, Van Ronk pode finalmente receber o reconhecimento que merece. "Inside Llewyn Davis", o novo filme dos irmãos Coen, lançado em março, baseia-se livremente no livro de memórias, que acaba de ser republicado; e uma retrospectiva de três CDs de Van Ronk chamada "Down in Washington Square", com 16 gravações inéditas, está sendo lançada pela Smithsonian Folkways. Ao lado de um novo livro e um CD sobre o clube folk "Caffè Lena", em Saratoga Springs, Nova York, um dos shows de Van Ronk, realizado no local em 1974, pode ser encontrado na internet.

"Dave Van Ronk não é uma figura obscura", afirmou Ethan Coen a respeito das origens do filme. "Ele é a figura mais importante de uma cena obscura, tocando um tipo de música de nicho que conhecíamos e do qual gostávamos."

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Conforme Van Ronk escreveu na canção que dá nome à retrospectiva em CD, o seu mundo era o dos "poetas beatniks acompanhados por congas, virgens suburbanas e vagabundos de Bowery, com dedilhados de bluegrass e batidas de flamenco". Nascido no Brooklyn em 1936, ele foi para Greenwich Village no início dos anos 1950, e ficou lá até morrer em 2002, trabalhando em clubes que desapareceram antes dele e gravando com frequência para selos que tiveram vida curta.

Sendo assim, o que garante a Van Ronk, um cara parecido com um urso barbudo, essa qualidade que ainda resiste em 2013?

"As pessoas falam de guardiões e Dave Van Ronk era um desses caras", afirmou Jeff Place, arquivista musical da Smithsonian Institution, responsável por reunir as faixas do box de CDs. "Ele fazia a pesquisa e ensinava o reportório para muitas pessoas, que gravaram essas canções e se tornaram mais famosas do que ele."

Porém, foram a voz de Van Ronk, um barítono de voz grave e rouca capaz de produzir agudos assombrosos, seu domínio de estilos de violão associados a blueseiros como o Reverendo Gary Davis e Mississippi John Hurt, e sua escolha inteligente de materiais que atraíram as pessoas a ele.

"Ele era um ótimo cantor, com um feeling incrível, além de ser um curador de canções brilhante, que recorria às fontes limitadas da época", afirmou T Bone Burnett, supervisor musical de "Inside Llewyn Davis", cujo título é uma homenagem a um dos discos de Van Ronk ("Inside Dave Van Ronk"). A viúva do cantor, Andrea Vuocolo, diz o mesmo em outras palavras: "Ele era a biblioteca de todo mundo" e todos os seus colegas emprestavam dele.

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Nenhuma das canções na trilha sonora que acompanha "Inside Llewyn Davis", por exemplo, foi escrita por Van Ronk. Porém, ele buscava canções tradicionais, do blues a músicas de marinheiros, escrevia novos arranjos para violão e retrabalhava o vocal tão extensamente que elas passaram a fazer parte do repertório folk carregando sua marca pessoal. Este é o caso de "Hang Me, Oh Hang Me", que abre o filme e a trilha sonora; "Fare Thee Well (Dink’s Song)"; e "Green, Green Rocky Road", que fecha o CD em uma versão cantada por Van Ronk.

"Seus arranjos eram inteligentes, não virtuosos, e ele usava o violão como moldura", afirmou Elijah Wald, que escreveu "The Mayor of Macdougal Street" ao lado de Van Ronk. "Ele sempre se considerou um cantor e, porque não tinha dinheiro para pagar uma superbanda, se transformou no melhor acompanhante que poderia ter."

No início dos anos 1970, estava claro que Van Ronk não teria um grande sucesso comercial. Ele tocou até morrer, escreveu canções e foi o mentor de uma nova geração de cantores e compositores, entre os quais Shawn Colvin e Suzanne Vega. A coleção da Smithsonian Folkways contém diversas gravações poderosas feitas no fim da vida, incluindo uma leitura gravada em 2001 de "Buckets of Rain", escrita pelo apóstolo, amigo e rival Bob Dylan.

"Van Ronk estava à frente de uma comunidade; ele era o guardião dessa comunidade, e fez isso melhor do que ninguém", afirmou Burnett.