Qualquer interessado em comprar uma obra de Amedeo Modigliani se confronta com três fatos desanimadores. As telas tendem a custar muitos milhões de dólares, elas estão entre os alvos favoritos de falsificadores de arte e, não obstante a abundância de especialistas, nenhum inventário das obras de Modigliani é considerado digno de confiança.
Por exemplo, Christian Parisot, autor de um catálogo e presidente do Instituto Modigliani, em Roma, enfrenta a acusação de ter autenticado obras falsificadas, ainda que estivesse ciente disso.
Marc Restellini, pesquisador francês que está compilando outra lista dos trabalhos de Modigliani, descartou parte de seu projeto anos atrás, depois de receber ameaças de morte. Mesmo quem aposta na validade de uma lista de 337 obras criada pelo crítico e avaliador Ambrogio Ceroni admite que ela tem lacunas.
Autenticar obras de arte de todos os tipos vem se tornando mais difícil nos últimos anos, na medida em que cada vez mais estudiosos e fundações de artistas se negam a dar pareceres ou publicar um "catalogue raisonné", ou compêndio definitivo da obra de um artista, por medo de ser processados por compradores ou vendedores insatisfeitos com suas conclusões.
Mas, possivelmente mais que os de qualquer outro artista, os trabalhos de Modigliani ilustram a confusão que as dificuldades de autenticação trouxeram para um mercado repleto de dinheiro, compradores e obras falsificadas.
Os vendedores esperam estar de posse de um Modigliani genuíno, mesmo que pouco conhecido. Mas, quando não há parecer de especialista que seja adotado como definitivo, é difícil prever o que os potenciais compradores poderão pagar. "É muito diferente do mercado de Picasso e Braque, pares de Modigliani", explicou o marchand nova-iorquino David Nash.
Outro fato que não ajuda é que Modigliani deu alguns de seus desenhos e pinturas, sem documentar sua criação ou seus proprietários, para pagar suas contas.
Italiano intenso e dotado de enorme talento, Modigliani, descrito por um amigo como "um jovem deus", enfrentou a pobreza, a dependência de drogas e a rejeição na Paris da virada do século 20, morrendo aos 35 anos de meningite tuberculosa. Ele bebia demais, varava a noite em bacanais e teve casos tempestuosos com inúmeras mulheres, incluindo a poeta russa Anna Akhmatova.
Sua amante de 21 anos Jeanne Hébuterne, que estava grávida, não suportou a morte dele em 1920 e se suicidou logo depois.
O romantismo trágico apenas elevou o valor de mercado de seu trabalho, que é altamente prezado por compradores, apesar de muitas vezes ser recebido com pouco entusiasmo pela crítica. Em fevereiro, por exemplo, um dos retratos que Modigliani fez de Hébuterne foi arrematado por US$ 42 milhões em um leilão em Londres. Em 2012, uma tela que não constava do catálogo de Ceroni, "Jeunne Fille aux Cheveux Noirs", foi vendida por US$ 1,3 milhão.
Kenneth Wayne, fundador do Modigliani Project, diz que acha exageradas as queixas sobre o caráter variável do mercado para obras de Modigliani.
Outros são menos otimistas. Aludindo à presença de muitas falsificações, o colecionador italiano Carlo Pepi comentou: "Modigliani morto está produzindo mais do que quando estava vivo".
Colaborou Elisabetta Povoledo e Maïa de la Baume
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