Os turistas de verão, em shorts e vestidos leves, caminham pela íngreme ladeira da rua Institutska em direção à praça Independência, parando para tirar fotos de si mesmos em frente às barricadas remanescentes, espécies de fortalezas feitas de metal retorcido, pedras e pneus empilhados. Na descida, eles observam atentamente as pilhas de destroços: blindagens corporais enferrujadas, capacetes de construção, de plástico laranja, curativos desbotados e trapos ensanguentados. Enquanto a guerra contra os rebeldes pró-russos explode no leste da Ucrânia, o clima na capital, Kiev, é de tranquilidade. Mas quando os turistas chegam à praça, os monumentos em homenagem à revolta ucraniana, conhecida como Euromaidan, voltam a ganhar vida.

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Centenas de pessoas vivem em barracas montadas na rua Khreshchatik, antes a principal via que atravessava o centro da cidade. Eles cozinham em enormes caldeirões sobre fogueiras e recolhem doações para batalhões voluntários que ajudam na luta contra os separatistas no leste. Embora a Ucrânia tenha um novo presidente, Kiev tenha um novo prefeito e eleições parlamentares estejam programadas para os próximos meses, as pessoas estão prontas para uma nova mobilização. A crise começou no final do ano passado, com uma série de manifestações em favor de uma integração com a União Europeia, e depois mergulhou num longo período de revolta contra o governo do então presidente, Viktor Yanukovich. A primavera local começou com a anexação da Crimeia pela Rússia e o início de uma insurreição armada no leste.

Agora, a ocupação da praça da Independência —conhecida pelos ucranianos simplesmente como Maidan— continua. A praça, bloqueada logo depois dos protestos que começaram em novembro, tornou-se um monumento vivo. As ruas em seu entorno talvez nunca mais sejam totalmente reabertas. Para alguns, as barricadas são uma lembrança do preço pago com sangue pelos ucranianos para proteger sua liberdade, e um aviso aos novos líderes do país de que a população continua alerta. Para outros, os acampamentos são um transtorno cada vez mais fétido. O novo prefeito de Kiev, Vitali Klitschko, tem se esforçado em reduzir a imagem de uma cidade cheia de barracas. Depois do pedido para que os manifestantes saíssem, em maio, Klitschko não tentou mais remover os acampamentos e barricadas, e disse que não os expulsará à força.

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Dmytro Sediakov, 39, que mora perto da praça da Independência, disse que gostaria de ver os acampamentos desmontados e a cidade normalizada — se é que isso seria possível. Sediakov afirmou que teria sido melhor se Yanukovich tivesse deixado o poder durante as eleições programadas para 2015, em vez de sair como consequência dos protestos. "Muitas pessoas morreram por causa disso", disse o residente. O palanque onde os líderes se reuniam para os discursos no auge dos protestos, e que agora serve para apresentações musicais esporádicas, é um dos muitos monumentos em homenagem aos chamados Cem Celestiais, os manifestantes mortos no Euromaidan. Próximo ao palco principal, Pavlo Huminiuk, 52, e sua mulher, Larysa, 51, músicos que moram em Chernivtsi, também no oeste da Ucrânia, olhavam surpresos para a enorme barricada de pneus. "Estamos chocados", disse Larysa. "É difícil imaginar quantas pessoas morreram aqui em época de paz."