Pode ser tentador entender as recentes negociações de gás de efeito estufa em Lima, no Peru, como um confronto entre os países em desenvolvimento, que tentam preservar seus ambientes vulneráveis, e os ricos representantes do capitalismo multinacional, que querem explorá-los. Porém, defensores ambientais e aliados parecem estar perdendo de vista a restrição não negociável dos países em desenvolvimento: eles não concordam com menos crescimento.
O Brasil, por um lado, não quer que seu ambiente seja protegido em detrimento do desenvolvimento. Atordoado por uma abrupta desaceleração do crescimento econômico nos últimos três anos, o país tem urgência em explorar seu meio ambiente, quer seja oferecendo gasolina mais barata para incentivar o mercado ou investindo trilhões na exploração de suas reservas de petróleo.
"Há uma visão estratégica no Brasil que diz que é preciso diminuir a diferença que ainda o separa de países ricos e desenvolvidos. Para conseguir isso, ele pode queimar seu capital natural, que é o que os americanos e os europeus fizeram", disse Sérgio Leitão, do Greenpeace em São Paulo.
Essa atitude prevaleceu por décadas. Em 1972, quando as Nações Unidas organizaram sua reunião de cúpula ambiental pela primeira vez na Suécia, o Brasil estava no meio do chamado "milagre econômico". A Rodovia Transamazônica era inaugurada, uma mega hidrelétrica no Rio Paraná, a Itaipu, estava em planejamento, além da construção de uma usina nuclear em Angra dos Reis.
O Brasil não via nenhum motivo para proteger suas florestas nativas e até mesmo ofereceu incentivos fiscais para substituí-las pelo plantio mais lucrativo do Pinus caribaea e do eucalipto.
Poluição significava progresso. O país não seria enganado por propostas de conservação que visavam apenas mantê-lo na pobreza. Relutantemente, talvez, os países ricos aceitaram a noção de que os países mais pobres que emitem muito menos dióxido de carbono deveriam ter mais tempo para reduzir suas emissões ou, em alguns casos, nem mesmo cortá-las e deveriam receber dinheiro e tecnologia para ajudá-los a limitar suas emissões de carbono.
A tensão entre clima e desenvolvimento se espalha por toda América Latina. O Chile, pobre em combustíveis fósseis e rico em vento e sol, pode parecer uma base natural para uma economia de baixo carbono. No entanto, Aldo Cerda, responsável pela mudança climática no país, diz que a utilização do carbono deverá crescer significativamente nos próximos 15 anos.A tensão é também evidente no Peru, onde o governo atenuou regulamentos ambientais este ano para tentar incrementar o crescimento.
"Algumas pessoas no governo têm planos de proteção florestal, mas há também planos para abrir novas estradas na Amazônia", disse Joe Keenan da Nature Conservancy.
Resolver essa tensão é difícil. Considere o relatório divulgado este ano pela Rede de Soluções de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. Ele trabalha com o pressuposto de que cada país cortaria suas emissões de carbono anuais para apenas 1,6 toneladas por pessoa até 2050.
Mas no Brasil, onde as emissões advindas da geração de energia subiram para cerca de 2,4 toneladas por pessoa no ano passado, é improvável que isso aconteça tão cedo.
Na Cúpula do Clima de Copenhague em 2009, o Brasil prometeu cortes profundos de dióxido de carbono e, até recentemente, parecia que estava no caminho certo. Mesmo com as exportações agrícolas e minerais alimentando um crescimento econômico que tirou quase 25 milhões de brasileiros da pobreza, as emissões de gases de efeito estufa caíram quase pela metade entre 2004 e 2012.
Quando a economia brasileira emperrou no ano passado, as preocupações com o meio ambiente perderam posições na lista de prioridades. O imposto sobre a gasolina foi cortado na esperança de incentivar a economia, decisão que removeu a vantagem competitiva do etanol. Uma queda na geração de energia hidrelétrica, causada por uma seca persistente, foi rebatida pelo investimento em gás e carvão.
E as emissões de gases de efeito estufa aumentaram cerca de oito por cento em 2013 em comparação com o ano anterior.
"Até 2010 tivemos crescimento e queda das emissões. Hoje, o Brasil está no pior dos mundos, emitindo mais e crescendo menos", observou Tasso Azevedo, um dos elaboradores do plano brasileiro de combate ao desmatamento.
Nações pobres querem se desenvolver