A presidente do Brasil deveria estar em êxtase. Reeleita após uma campanha na qual defendeu ferozmente seu papel de transformar o Brasil, por pelo menos alguns anos, em uma estrela em ascensão no cenário mundial. Porém, nos dias que se seguiram à sua vitória em outubro passado, Dilma Rousseff se preocupava com indicações de que os triunfos do Brasil corriam o risco de desaparecer. “Fomos longe demais”, resumiu recentemente Aloízio Mercadante, chefe de gabinete de Dilma.
Não foi só a queda dos preços globais das commodities brasileiras como minério de ferro, nem a queda da demanda em mercados como a China, nem mesmo o escândalo de corrupção na Petrobras que fizeram o país sofrer. As políticas econômicas de Dilma estavam cobrando um preço também, admitem autoridades.
Agora, a crise econômica faz a nação explorar os motivos pelos quais o Brasil desperdiçou seu sucesso arduamente conquistado. Para piorar a situação, a agência de risco Standard & Poor’s rebaixou fortemente a nota do Brasil em 9 de setembro, gerando a liquidação de ativos financeiros. Acredita-se que o golpe irá aumentar os custos de empréstimos para o Brasil, além de ampliar ainda mais o escrutínio sobre a incapacidade do governo de controlar as despesas públicas.
“Estávamos adiando nosso encontro com a realidade”, disse o ex-presidente do Banco Central, Carlos Langoni, após o rebaixamento.
Os recém-chegados à frágil classe média estão revoltados, pois a economia perde empregos e as taxas de juros sobem. O Tribunal de Contas da União analisa se a presidente utilizou indevidamente fundos de bancos públicos para sustentar o orçamento federal.
“O modelo brasileiro tão celebrado poucos anos atrás está se transformando em um acidente em câmera lenta,” disse Mansueto Almeida, proeminente comentarista de política econômica. “Nossos líderes políticos querem botar a culpa na China ou algum outro vilão externo, mas não podem negar o fato de que essa crise autoinfligida foi feita no Brasil.”
Alguns historiadores dizem que o crescimento econômico do governo Dilma está entre os piores se comparado ao de qualquer presidente brasileiro no último século. O Brasil cresceu apenas 0,1% em 2014. A economia deve encolher quase 3% este ano. Para 2016, os economistas estão prevendo crescimento zero ou uma recessão.
Muitos deles argumentam que os problemas do Brasil têm suas origens nas mudanças de políticas feitas por Dilma, incluindo sua tentativa de evitar uma desaceleração ao controlar bancos e empresas de energia estatais. Dilma pressionou o Banco Central a reduzir as taxas de juros, alimentando uma farra de crédito entre os consumidores que estão agora lutando para pagar empréstimos. Cortou impostos de certas indústrias e impôs controles de preços sobre a gasolina e a eletricidade. Utilizando fundos do tesouro nacional, o BNDES aumentou empréstimos subsidiados pelo contribuinte feitos a corporações com taxas significativamente mais baixas do que a população poderia obter em bancos.
No entanto, seus apoiadores afirmam que o Brasil continua com uma base financeira mais forte do que no passado, descartando a necessidade de recorrer ao Fundo Monetário Internacional. O país continua a ser um credor líquido após acumular uma grande quantidade de títulos do tesouro dos Estados Unidos; o Banco Central tem aproximadamente US$ 370 bilhões de reservas em moeda estrangeira.
Além disso, o programa nos quais o governo paga aos pobres quantias mensais em dinheiro não parece estar em risco.
Mesmo assim, os preços da energia, que estão caindo em grande parte do mundo, continuam subindo no Brasil, agora que o governo afrouxou seu controle de preços. Tarifas de eletricidade residencial subiram mais de 40% este ano.
A desaceleração na China está limitando o Brasil, que cresceu dependente da exportação de commodities como minério de ferro, soja e petróleo para esse país. A parcela de bens manufaturados nessas exportações, que era de 62% em 2000, caiu para 45% em 2013. E a taxa de desemprego brasileira atingiu seu maior índice em cinco anos, 7,5% em julho, em grande parte devido a projetos de infraestrutura paralisados ou abandonados, agora que os gigantes de construção estão envolvidos no escândalo da Petrobras. Esse escândalo, onde empreiteiros pagaram estimados US$ 3 bilhões em subornos a funcionários, poderia engolir o equivalente a 2,5 por cento do produto interno bruto brasileiro em 2015, de acordo com uma análise.
Economistas avisam que a solução dos problemas pode levar anos, fazendo comparações com os anos 80, a chamada década perdida, quando houve hiperinflação e crise da dívida.
“Os brasileiros continuaram dançando mesmo depois que a música parou”, disse Norman Gall, diretor do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial em São Paulo. “Agora, eles estão com medo.”
Colaborou Mariana Simões, do Rio de Janeiro.