Os cambojanos consomem 160 kWh de eletricidade por ano. Cruzamento de linhas de distribuição de energia elétrica na capital Phnom Penh| Foto: Chor Sokunthea/Reuters

O cidadão médio do Camboja consome cerca de 160 kWh de eletricidade por ano. Os bengaleses estão melhor: consomem mais ou menos 260. Os nepaleses, antes do terremoto devastador, usavam 1000 kWh por ano. Na Etiópia o consumo médio é de apenas 50. A geladeira que você tem na cozinha consome entre 300 e 600 kWh por ano.

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Dezenas de países —entre eles o Nepal, Camboja e Bangladesh— se filiaram ao novo banco chinês de investimentos infraestruturais, potencial rival do Banco Mundial.

Não é difícil entender o porquê: as prioridades ambientais do Ocidente estão obstruindo o acesso desses países ao tipo de infraestrutura energética que poderia lhes garantir o conforto e a abundância desfrutados no Ocidente.

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Cerca de 95% da eletricidade usada nos EUA vem do carvão, gás, energia hidrelétrica ou nuclear, diz Todd Moss, do Centro para o Desenvolvimento Global.

“No entanto, impomos grandes restrições ao financiamento dessas quatro fontes de energia no exterior”, ele diz.

A agenda ambiental ocidental solapa as metas que o Ocidente afirma alcançar, ameaçando intensificar as mudanças climáticas, em vez de retardá-las.

“Estamos falando em pragmatismo, em resultados concretos”, disse Barry Brook, professor de sustentabilidade ambiental na Universidade da Tasmânia, na Austrália. “A maioria das sociedades não vai seguir um rumo de baixo desenvolvimento e baixo consumo de energia, independentemente de trabalhar ou não para proteger o meio ambiente.”

Se bilhões de humanos pobres não tiverem uma chance de desenvolvimento genuíno, o ambiente não será salvo. E isso requer não apenas ajuda para financiar fontes energéticas de baixo carbono, mas também muita energia nova.

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Um grupo de estudiosos envolvidos na discussão ambiental lançou recentemente o que chamou de “Manifesto Ecomodernista”. Os chamados “ecomodernistas” propõem o desenvolvimento econômico como pré-requisito para a preservação do meio ambiente.

Para isso, será preciso abrir mão da meta do “desenvolvimento sustentável”, substituindo-o por uma estratégia de utilização mais intensiva da natureza.

Eles argumentam que, para mitigar as mudanças climáticas, poupar a natureza e combater a pobreza global será preciso “intensificar as atividades humanas —particularmente a agricultura, extração energética, reflorestamento e gestão florestal e os assentamentos—, para que utilizem menos terra e interfiram menos com o mundo natural”.

Esse novo sistema favorece um conjunto de políticas muito diferentes das em voga no momento. Por exemplo, consumir hortifrútis cultivados por pequenos produtores locais pode ser ótimo para os moradores de cidades ricas do Ocidente.

Mas, se isso fosse feito para alimentar 9 bilhões de habitantes, exigiria o uso de cada hectare da superfície do planeta.

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A agricultura de grande escala, com fertilizantes sintéticos e técnicas de produção modernas, pode alimentar mais pessoas, usando menos terra e água.

Como observa o manifesto, até 75% do desflorestamento global ocorreu antes da Revolução Industrial, uma época em que a humanidade supostamente estava em harmonia com a natureza.

No último meio século, a área necessária para cultivar plantações e produzir ração animal suficientes para alimentar uma pessoa diminuiu pela metade.

“Se quisermos que o mundo em desenvolvimento alcance nem que seja a metade do nosso nível de desenvolvimento, isso não será possível sem intensificar a produção”, disse David Keith, da Universidade Harvard, um dos signatários do novo manifesto.

O desenvolvimento permitirá às pessoas dos países mais pobres do mundo mudar-se para as cidades e conseguir ensino e emprego melhores. A urbanização acelerará as transições demográficas, reduzindo a mortalidade infantil e permitindo que as taxas de fertilidade declinem.

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“Com a compreensão e promoção desses processos emergentes, os humanos têm a oportunidade de reflorestar a Terra, ao mesmo tempo em que os países em desenvolvimento alcançam padrões de vida modernos e que a pobreza material acaba”, argumenta o manifesto.

Isso exigiria muita energia. Geradores eólicos ou biocombustíveis colocariam grandes áreas da superfície do planeta a serviço da produção energética; logo, sua utilidade é limitada. Já painéis solares e usinas nucleares podem vir a produzir energia livre de carbono em escala muito grande.

Enquanto isso não acontece, os países pobres vão precisar de acesso a outras formas de energia: hidroelétrica, de gás natural, talvez até mesmo do carvão.

Apesar de todas as objeções de teor ambiental que podem ser feitas a esses caminhos, a alternativa parece ser indefensável: deixar que os pobres do mundo queimem esterco e madeira, promovendo a degradação ainda maior das florestas do mundo.

Ou então colocar painéis solares sobre suas casas, para que possam recarregar celulares.

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O chamado “desenvolvimento sustentável” está presente desde que foi proposto pela Comissão Bruntland, da ONU, em 1987.

Mesmo então, a comissão reconheceu não ter solução para o problema energético. Depois de 27 anos, o discurso mudou pouco.

Hoje a Agência Internacional de Energia afirma que está ao seu alcance oferecer acesso energético moderno a todos. O que isso quer dizer? Quinhentos kWh por ano para as famílias urbanas e 250 para as famílias rurais. Talvez o bastante para fazer uma geladeira funcionar.