A Poundland é uma rede de lojas baratas de variedades no Reino Unido. E “Poundland” é o título de um poema publicado no ano passado por Simon Armitage —uma visão contemporânea da “Odisseia”.
Uma visita à loja vira uma viagem a um mundo infernal de consumismo barato e pobreza, onde o narrador percorre corredores de salgadinhos e brinquedos baratos, um freguês se desespera com agiotas e o bêbado da cidade —“sem meias e cheirando a sidra”— resmunga previsões sobre as Bolsas.
“A união de conceitos aparentemente incompatíveis é algo que faço muito”, comentou Armitage, possivelmente aludindo tanto à sua vida quanto à sua poesia. Filho de um agente de condicional, ele cresceu em um vilarejo de Yorkshire e mais tarde se tornou agente de condicional, ele próprio, em Manchester. Ao mesmo tempo, porém, escreveu poesia.
Em junho, aos 52 anos, Armitage foi eleito professor de poesia na Universidade Oxford. Criado em 1708, é o segundo mais prestigioso cargo literário no país, depois do posto de poeta laureado, cujo detentor é nomeado pela rainha.
Armitage se rendeu à atração da poesia ainda na adolescência, em meio à sua vida de outro modo quieta e sem aventuras. “Eu gostava da ideia de a poesia ser impopular. Era como ser goleiro.”
Ao mesmo tempo, ele percebeu que, uma vez dominada, a poesia é uma arma poderosa “que pode fazer as coisas acontecerem”.
Depois de alguns de seus poemas de juventude serem bem recebidos, Armitage abandonou seu emprego para se dedicar a escrever. Desde então, publicou quatro peças de teatro, 21 coletâneas de poemas e seis livros. Ele já escreveu poemas e prosa para documentários de televisão sobre temas tão diversos quanto a paisagem inglesa, o rei Artur, mulheres que trabalham com pornografia e menores infratores.
Armitage frequentemente encontra beleza nos aspectos mundanos, ásperos e às vezes farsescos do cotidiano, uma filosofia captada no poema “It Ain’t What You Do, It’s What It Does To You”.
“É uma espécie de manifesto”, explicou, “em que eu me lanço em um discurso sobre o fato de que não é preciso ter feito coisas incrivelmente exóticas e glamurosas para ser capaz de escrever.”
Suas obras já foram traduzidas para a maioria das línguas europeias e para o hebraico.
Em sua primeira aula em Oxford, Armitage pretende discorrer sobre o estado atual da poesia. “A poesia tem uma opinião muito elevada dela própria, opinião que nem sempre é compartilhada por quem não lê poesia.” Mas seu papel não é “impor um pouco de modéstia à poesia”, disse. “Só quero explorar sua largura, sua largura de banda.”