Os patrocinadores se pronunciaram de maneira incomum após as acusações mais recentes de corrupção contra a Fifa, que vieram à tona em junho antes da Copa do Mundo no Rio de Janeiro.
A Sony exigiu uma investigação de possíveis irregularidades na escolha do Qatar para sediar a Copa do Mundo de 2022. A empresa alemã de moda esportiva Adidas advertiu que "o teor negativo do atual debate público sobre a Fifa não é bom para o futebol nem para a Fifa e seus parceiros". Essas preocupações foram ecoadas por outras empresas, incluindo Coca-Cola, Visa, Hyundai e Budweiser.
Com o fim dos jogos da Copa deste ano, porém, é improvável que os patrocinadores exijam reformas.
As corporações parceiras da Fifa têm um longo histórico de manter silêncio diante de controvérsias envolvendo a poderosa Federação Internacional de Futebol, pois há demasiado dinheiro em jogo.
"Esses patrocínios não são baratos", disse Simon Chadwick, da Universidade de Coventry, no Reino Unido. Ele explicou que as empresas gastam até US$ 100 milhões (R$ 227 milhões) pelos direitos de patrocínio e um montante semelhante com o merchandising.
É incomum patrocinadores se pronunciarem quando há acusações de que subornos influenciaram a decisão de realizar a Copa do Mundo em 2022 no Qatar. O país era considerado uma opção improvável devido a seu verão muito quente e à falta de jogadores qatarianos de relevância internacional.
Jan Simon, professor-adjunto da Faculdade de Administração de Empresas Iese na Espanha, disse que os patrocinadores poderiam tirar vantagem da situação assumindo uma posição clara.
"Do ponto de vista de divulgação positiva da marca, essa é uma grande oportunidade para dizer Nós somos a empresa que quer a implantação de mudanças", disse Simon. "Se essas mudanças não ocorrerem, pegaremos nosso dinheiro para colocá-lo em lugares onde essas ideias realmente sejam implementadas."
A federação declarou, por e-mail, que "acaba de passar por um amplo processo de reforma da governança, seguindo os princípios de transparência e tolerância zero com quaisquer irregularidades". No entanto, resta saber se os patrocinadores vão querer mudanças. Nenhum dos patrocinadores da Fifa procurados pela reportagem se dispôs a comentar que ações poderiam empreender para evitar futuros escândalos na Fifa.
Se há um patrocinador que a direção da Fifa ouve é a Adidas. A relação entre a Adidas e a Fifa remonta há décadas e tem sido lucrativa para ambas. Durante a Copa do Mundo no Brasil, todos os jogos começavam com um árbitro tirando uma bola, de uma edição especial da Adidas, de um pedestal. A exposição do produto ajudou a vender 14 milhões de bolas Brazuca.
Jan Runau, porta-voz da Adidas, disse que a empresa está preocupada com as acusações relativas ao Qatar, mas também "muito feliz" com sua parceria com a Fifa.
"Quando se pensa na Fifa, é preciso considerar os dois lados da moeda", disse ele. "Por um lado, existem essas alegações que não são boas, mas há também o desenvolvimento da Copa do Mundo."