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Peça sobre Anne Frank destaca a personalidade

Rosa da Silva como Anne Frank em “Anne”, nova peça que, ao contrário de outras versões, começa com sua morte | Kurt van der Elst
Rosa da Silva como Anne Frank em “Anne”, nova peça que, ao contrário de outras versões, começa com sua morte (Foto: Kurt van der Elst)

A história de Anne Frank já foi interpretada no palco das mais diversas formas. Agora chega "Anne" que, apesar do título simples, apresenta um retrato complexo de uma adolescente às vezes impetuosa, outras mimada e solitária, ressentida com a mãe, zombando dos adultos e se divertindo com sua sexualidade incipiente.

A peça, em cartaz no novo teatro do antigo porto de madeira da cidade, está sendo encenada quase 70 anos depois de sua morte em um campo de concentração e faz parte de uma série de projetos da Anne Frank Fonds, instituição beneficente suíça criada em 1963 por seu pai, Otto, para definir sua imagem. Com os direitos autorais dos diários da garota prestes a expirar em vários países em 2016, a fundação quis realizar o que espera ser uma produção permanente para levar para outros países.

Praticamente todas as versões da história de Anne foram contadas com certa dose de polêmica e essa não é exceção. A fundação suíça, situada na Basileia, está em uma disputa acirrada com a organização Anne Frank House, que opera um museu no anexo secreto onde ela se escondeu com sua família. As duas entidades vivem brigando por material de arquivo, o papel da instituição e a preservação do legado de Anne.

"A quem pertence Anne Frank?", questiona David Barnouw, historiador e escritor holandês. "Na Basileia dizem que são eles os verdadeiros ‘donos’ e que a peça e outras atividades comerciais são realizadas para manter o poder e o legado de Anne Frank".

Antes da estreia, o diretor do museu, Ronald Leopold, comentou, em tom de zombaria, que "Anne Frank não deveria ser sinônimo de um bom programa" e condenou o clima comercial, com ingressos sendo vendidos a até 75 euros em um ambiente luxuoso.

Contudo, reconheceu alguns aspectos positivos depois de ver o espetáculo, observando que ela "fez mais justiça à história de Anne Frank" porque termina com sua morte no campo de Bergen-Belsen, ao contrário da peça original de 1955, na qual ela declara que "no fundo, as pessoas são boas", mas reclamou do fato de a peça simplesmente ter deixado de fora três amigos que tiveram um papel essencial na proteção dos oito moradores do anexo secreto e que são tema da exposição atual do museu.

A fundação, que ganhou uma batalha legal no ano passado para forçar o museu a devolver milhares de documentos históricos e cartas que estavam emprestados, defende sua abordagem.

"Temos um problema", disse Yves Kugelmann, membro da diretoria da fundação. "Temos arquivos, somos os herdeiros universais e representamos um livro extremamente famoso. Poderíamos simplesmente deixar como está e não fazer nada — ou realizar o desejo de Otto Frank e contar sua história, usando a renda para caridade."

Dirigida pelo primo de primeiro grau de Anne Frank, Buddy Elias, de 89 anos, ela tem outros projetos em vista: um desenho animado, um filme alemão, um documentário dramático e a inauguração, em 2016, do Anne Frank Family Center no Museu Judaico de Frankfurt.

A peça é baseada nos diários completos de Anne, que foram publicados por seu pai, em 1947, na Holanda, com as passagens sobre sua sexualidade omitidas. Escrita em holandês por Jessica Durlacher e Leon de Winter, explora a vida dos membros da família antes de se esconderem e o sonho de Anne de viajar para Paris, abordando o período em que todos foram descobertos pelas autoridades alemãs e o que aconteceu depois — e se encerra com uma cena surreal, com a voz de Anne sumindo aos poucos e um monólogo de seu pai, Otto, descrevendo o que aconteceu a cada um dos moradores.

A fundação teve um papel fundamental na criação da nova peça, pois escolheu os autores e o produtor, Robin de Levita, veterano da Broadway com um musical na Holanda sobre um guerreiro da resistência, "Soldier of Orange". Com sua empresa, Imagine Nation, ele construiu o novo Teatro Amsterdam em oito meses e, já em meados de junho, os visitantes poderão usar tablets com legendas ou tradução simultânea do original em holandês para mais de sete idiomas.

Robin de Levita disse que seu objetivo era criar um "teatro de imersão" — e para isso usou telões enormes de 180° que exibem um cinejornal no qual Hitler aparece vomitando seu ódio contra os judeus, além do formato elegante da caligrafia da própria Anne em seu diário durante a encenação. Os cenários incluem um dos anexos secretos, construído quase à exatidão. Para Buddy Elias, que é ator, Rosa da Silva interpreta Anne de forma mais autêntica que nas versões anteriores.

"Foi comovente ver Anne do jeitinho como eu me lembrava dela, com sua vivacidade e seu jeito brincalhão", disse ele.

Leon de Winter e Jessica Durlacher, que são casados, usaram os arquivos da fundação para escrever o roteiro. Durante a estreia, a filha do casal, Solomonica, de 16 anos, começou a chorar. "O que me emocionou foi poder ver Anne além do ícone; vi uma garota simples, como eu".

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