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Pele de carneiro sustenta a economia afegã

Em 2014, a Finlândia importou quase meio milhão de peles de carneiro do Afeganistão. Sayed Mohammad Sultani, à esquerda, é o maior exportador do país | Bryan Denton/The New York Times
Em 2014, a Finlândia importou quase meio milhão de peles de carneiro do Afeganistão. Sayed Mohammad Sultani, à esquerda, é o maior exportador do país (Foto: Bryan Denton/The New York Times)

Hajji Sher Mohammad cuidava de seu rebanho de carneiros, no sopé da cordilheira no norte do Afeganistão, com o olhar fixo na distância, evocando o que se tornou um nome mágico: Finlândia. Lá longe, em algum lugar.

“Tem um país chamado Finlândia e é para lá que as peles vão”, disse. E, depois de uma pausa: “Só Deus sabe onde fica”.

A maioria dos países ocidentais pouco importa do Afeganistão, a não ser tapetes e ópio, mas o conhecimento, cada vez maior, dos compradores finlandeses a respeito da pele dos caraculs transformou o país no maior comprador do produto do Ocidente, pelo menos de acordo com as estatísticas de exportação.

No ano passado, a Finlândia, líder mundial do setor de peles, importou quase meio milhão de unidades do Afeganistão, para vendê-las para as grandes casas de moda e serem transformadas em luxuosos casacos, entre outros itens. É um produto de nicho, geralmente encontrado apenas em boutiques exclusivas ou lojas de departamentos (onde é vendido como astrakhan), mas o setor permanece sendo crucial para a combalida economia afegã.

O centro do comércio afegão-finlandês é a cidade de Mazar-i-Sharif, no norte. Ali os mercadores se reúnem todos os anos, entre março e abril, para comprar as peles dos criadores.

E as conversas geralmente acabam sendo sobre o país europeu, embora só aqueles que comercializam de vinte mil peles para cima tenham condições de ir aos leilões de Helsinki – e quem já esteve lá descreve a cidade como um lugar frio, de pessoas que se recusam a aceitar propina e ativistas de direitos animais bravos.

“Começaram a gritar: ‘Voltem para casa! Por que matar os animais?’ Só que foi em finlandês, então tive que perguntar o que o sujeito estava falando”, conta Amin Tawakaly, descrevendo os manifestantes na porta do hotel em que se hospedou na capital finlandesa.

As ovelhas caracul recém-nascidas são mais valorizadas que as outras raças por causa do brilho e da trama do pelo, bem cerrada, além da maciez e dos padrões dos arabescos que se formam – mas um dia ou dois depois do nascimento, ele perde a forma e, consequentemente, o valor.

E aí é hora de decidir se a ovelha é sacrificada ou vai crescer para fornecer carne e lã; os criadores fazem isso avaliando o volume de grama e chuva disponíveis no ano, mas geralmente cerca de metade dos animais é abatida por causa da pele.

Quando ainda estava no poder, o Talibã tentou acabar com o comércio, principalmente a parte mais cruel do processo: o da pele do animal que nem tinha nascido, que exige a morte da mãe, ainda prenha. Segundo os especialistas, menos de dez por cento dos exemplares vendidos seguem esse método.

Alguns dos melhores exemplares são enviados a Cabul, onde os artesãos os transformam nos chapéus pelos quais o presidente Hamid Karzai ficou famoso. Se for em tom prateado ou caramelo, o preço da peça pode ultrapassar os US$1 mil. Embora o caracul responda por uma fatia bem menor do mercado que a raposa e o vison, sua preferência vem crescendo, explica Kari Huotari, gerente da Saga, maior operação de leilões de peles da Finlândia.

No último trimestre de 2014, o Afeganistão exportou US$3,6 milhões de peles para a Finlândia.

Em Mazar-i-Sharif, a maioria das peças passa pelo escritório de Sayed Mohammad Sultani, maior exportador de peles afegão. Cada uma é vendida por cerca de 1.200 afeganes, ou US$21.

Para ele, é um alívio fazer negócio com os finlandeses.

“É um povo muito honesto”, afirma. E explica que chegou a essa conclusão fazendo um teste: “Uma vez ofereci propina para o responsável pelas listas de clientes do leilão, assim ele poderia vender direto, sem intermediar com a casa. Cem mil euros, coisa de US$108 mil. E o leiloeiro recusou.”

Para os pastores, a Finlândia se tornou um lugar mágico.

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