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Crônicas dos EUA

Pelos lugares pitorescos de uma cidade eclética

Tom Dalzell, 63 anos registra as esquisitices de sua cidade, incluindo as zebras de brinquedo no capô de um carro Gnomos solitários e a escultura feita de peças de carro | Jim Wilson/The New York Times
Tom Dalzell, 63 anos registra as esquisitices de sua cidade, incluindo as zebras de brinquedo no capô de um carro Gnomos solitários e a escultura feita de peças de carro (Foto: Jim Wilson/The New York Times)

Há quase dois anos, Tom Dalzell, de 63 anos, se dispôs a percorrer todas as ruas, vielas e trilhas desta cidade e registrar suas curiosidades em um site que batizou de Quirky Berkeley. Com 117 mil habitantes, foi o centro dos movimentos anti-guerra e de Liberdade de Expressão dos anos 60 e sempre aprovou leis que pareciam esquerdistas demais para o resto do país, incluindo o primeiro imposto sobre refrigerantes light dos EUA. "Há uma tremenda diversidade de correntes de pensamento aqui e uma das maneiras de expressar a nossa não-adequação se reflete nas coisas esquisitas que colocamos nas casas e nos jardins", conta Dalzell.

Os pré-requisitos de sua catalogação são simples: não valem as decorações sazonais e todos os objetos devem ser vistos da rua. Até agora ele já percorreu quase 250 km e tirou por volta de nove mil fotos de gnomos solitários de jardim que fascinam quem passa; um sinal de paz de um metro de diâmetro na frente da casa há tempos ocupada por Wavy Gravy, que ficou famoso em Woodstock, e seus compatriotas de comuna da Hog Farm; dezenas de chapéus coloridos pendurados em uma árvore; um verdadeiro zoológico de caixas de correio na forma de animais; uma laranja de metal gigantesca que já foi barraquinha de bebida no acostamento de uma estrada e as mais diversas pinturas e esculturas.

Na verdade, Dalzell é presidente de um sindicato trabalhista, mas faz bicos como autor de dicionários de gírias e colecionador de idiossincrasias. Há pouco tempo eu o encontrei na frente da casa que considera o símbolo máximo da esquisitice de Berkeley: uma estrutura estranha e volumosa que o pessoal local chama de "a casa de peixe", na região sul da cidade. Acontece que a inspiração para a construção não veio de um peixe, mas sim de uma microcriatura indestrutível chamada tardigrada, ou urso da água, que já sobreviveu a um congelamento absurdo, temperaturas altíssimas e dez dias no espaço. O arquiteto Eugene Tsui projetou a casa para seus pais, que queriam uma estrutura à prova de terremotos. Hoje ele a aluga para uma start-up de tecnologia. Após um ano de catalogação meticulosa, Dalzell estabeleceu alguns detalhes gerais a respeito das peculiaridades da cidade. Primeiro, uma bizarrice atrai outra."Se uma pessoa instala uma caixa de correio em forma de animal, é bem provável que apareçam outras a seu redor", explica ele.

Segundo: há mais coisas estranhas nas planícies, onde estão os bairros de classe média e baixa, que nas colinas, na região em que moram os mais abastados. Terceiro: nada é permanente. "Às vezes você vê alguma coisa superinteressante, mas volta uma semana depois e já era".

William B. Helmreich, autor de "The New York Nobody Knows", livro sobre suas descobertas ao caminhar todas as ruas de Nova York, diz: "Quando você explora uma cidade quarteirão por quarteirão, é forçado a diminuir o ritmo e olhar para cada detalhe – consequentemente vendo mais e sentindo mais".

"Em áreas urbanas é comum a pessoa não se sentir como um indivíduo, que é o que leva alguém a imprimir sua característica ímpar em algo, nem que seja na pintura da casa", conclui.

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