Há quase dois anos, Tom Dalzell, de 63 anos, se dispôs a percorrer todas as ruas, vielas e trilhas desta cidade e registrar suas curiosidades em um site que batizou de Quirky Berkeley. Com 117 mil habitantes, foi o centro dos movimentos anti-guerra e de Liberdade de Expressão dos anos 60 e sempre aprovou leis que pareciam esquerdistas demais para o resto do país, incluindo o primeiro imposto sobre refrigerantes light dos EUA. "Há uma tremenda diversidade de correntes de pensamento aqui e uma das maneiras de expressar a nossa não-adequação se reflete nas coisas esquisitas que colocamos nas casas e nos jardins", conta Dalzell.
Os pré-requisitos de sua catalogação são simples: não valem as decorações sazonais e todos os objetos devem ser vistos da rua. Até agora ele já percorreu quase 250 km e tirou por volta de nove mil fotos de gnomos solitários de jardim que fascinam quem passa; um sinal de paz de um metro de diâmetro na frente da casa há tempos ocupada por Wavy Gravy, que ficou famoso em Woodstock, e seus compatriotas de comuna da Hog Farm; dezenas de chapéus coloridos pendurados em uma árvore; um verdadeiro zoológico de caixas de correio na forma de animais; uma laranja de metal gigantesca que já foi barraquinha de bebida no acostamento de uma estrada e as mais diversas pinturas e esculturas.
Na verdade, Dalzell é presidente de um sindicato trabalhista, mas faz bicos como autor de dicionários de gírias e colecionador de idiossincrasias. Há pouco tempo eu o encontrei na frente da casa que considera o símbolo máximo da esquisitice de Berkeley: uma estrutura estranha e volumosa que o pessoal local chama de "a casa de peixe", na região sul da cidade. Acontece que a inspiração para a construção não veio de um peixe, mas sim de uma microcriatura indestrutível chamada tardigrada, ou urso da água, que já sobreviveu a um congelamento absurdo, temperaturas altíssimas e dez dias no espaço. O arquiteto Eugene Tsui projetou a casa para seus pais, que queriam uma estrutura à prova de terremotos. Hoje ele a aluga para uma start-up de tecnologia. Após um ano de catalogação meticulosa, Dalzell estabeleceu alguns detalhes gerais a respeito das peculiaridades da cidade. Primeiro, uma bizarrice atrai outra."Se uma pessoa instala uma caixa de correio em forma de animal, é bem provável que apareçam outras a seu redor", explica ele.
Segundo: há mais coisas estranhas nas planícies, onde estão os bairros de classe média e baixa, que nas colinas, na região em que moram os mais abastados. Terceiro: nada é permanente. "Às vezes você vê alguma coisa superinteressante, mas volta uma semana depois e já era".
William B. Helmreich, autor de "The New York Nobody Knows", livro sobre suas descobertas ao caminhar todas as ruas de Nova York, diz: "Quando você explora uma cidade quarteirão por quarteirão, é forçado a diminuir o ritmo e olhar para cada detalhe consequentemente vendo mais e sentindo mais".
"Em áreas urbanas é comum a pessoa não se sentir como um indivíduo, que é o que leva alguém a imprimir sua característica ímpar em algo, nem que seja na pintura da casa", conclui.