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Produtores chineses descarregam toneladas de repolho nas calçadas de Pequim para as vendas, aprovadas pelo governo | Gilles Sabrie para The New York Times
Produtores chineses descarregam toneladas de repolho nas calçadas de Pequim para as vendas, aprovadas pelo governo| Foto: Gilles Sabrie para The New York Times

O céu escuro não é a única indicação garantida de que o inverno finalmente chegou à capital chinesa; os camelôs que vendem batata doce assada em forninhos reciclados também invadem as esquinas. Além deles, há as pilhas de repolho, verdadeiras torres amontoadas em pátios e escadarias, disputando espaço com bicicletas velhas e os sacos de briquetes que ainda aquecem inúmeras casas.

"Quando você vê um monte de repolho empilhado na porta, sabe que não vai morrer de fome durante o inverno", diz o funcionário público aposentado Wang Jianrong, de 62 anos, orgulhoso, ao lado de uma pequena montanha da verdura.

Numa cidade lotada de shopping centers exclusivos e supermercados recheados de produtos de todos os tipos, o acúmulo de repolho é o impulso que reflete uma era de escassez ainda assustadora para os chineses de mais idade.

Os pequineses mais idosos ainda têm imagens vívidas dos invernos de penúria extrema dos anos 50 e 60, principalmente depois da tentativa desastrosa de Mao Tsé-Tung de industrializar a nação durante o Grande Salto para a Frente, quando foram as rações de nabo, salsão e repolho que sustentaram milhões de pessoas. "Quando eu era criança não existia gente gorda", conta Yang Renzhi, de 60 anos, professor de Matemática aposentada que comprava três dúzias de repolhos para os pais.

O acúmulo começa em novembro, quando os produtores descarregam toneladas e mais toneladas de repolho recém-colhido nas calçadas para venda. As montanhas verdes atraem verdadeiras hordas de caçadores de ofertas grisalhos, que examinam cada pé com a intensidade e experiência de um comerciante de joias.

"Quero 200 jin dos mais fresquinhos", resmungou Zhang Libao, um operário aposentado de 72 anos para Li Xueqing, o produtor, que pesou o equivalente a 100 kg na traseira do triciclo do homem.

Li, de 46 anos, que planta repolho há mais de duas décadas e dorme na calçada ao lado de seus produtos durante a temporada na cidade, disse que vendeu 900 kg/dia ao longo das duas semanas de compra de repolho.

No entanto, também reclama do declínio inevitável do negócio — e observou que a venda média por pessoa ficou abaixo dos 45 kg, comparado aos 225 kg no início dos anos 80, quando as mudanças de mercado começaram a transformar o sistema agrícola comunal nacional, tornando o suprimento de alimentos mais abundante.

Li e outros vendedores dizem que com os preços irremediavelmente baixos — resultado das práticas agrícolas modernas e excesso de plantio — o declínio do acúmulo de inverno fica ainda mais difícil. Embora trinta por cento mais alto que o do ano passado, segundo o jornal estatal Diário da Juventude de Pequim, o preço sazonal do repolho não passa de míseros 18 centavos/kg. "Quando começa a nevar, chega a triplicar", diz ele.

Mesmo zombando do hábito, os mais jovens são forçados a ceder aos caprichos dos mais velhos, mesmo que muitos deles raramente consumam o estoque, sendo forçados a jogar tudo fora quando chega a primavera.

"Minha mãe tem 90 anos e me pediu para ver se o repolho estava bom e barato", conta uma mulher de 68 anos que só se identificou pelo sobrenome, Xia. "Ela não vai ter sossego enquanto eu não comprar o suficiente. Não vive sem."

É injusto, porém, considerar a procura anual por repolho barato uma simples questão de sustento.

Yang diz que o acúmulo não tem a ver só com comida.

"É a nostalgia que envolve uma época mais simples, talvez até romantizada pelos mais velhos. Quando meu pai vê o repolho empilhado na sacada do apartamento, no 16˚ andar, ele sorri e sabe que está tudo em ordem."

Mia Li contribuiu com a pesquisa

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