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crônicas dos EUA

Perseguindo um rival astuto e saboroso

James Gensaw mostra como girar uma lampreia com o arpão para evitar que escape | Jim Wilson/
James Gensaw mostra como girar uma lampreia com o arpão para evitar que escape (Foto: Jim Wilson/)

A pesca de enguias na turbulenta desembocadura do rio Klamath começa no fim do inverno, quando as garças azuis voltam a ocupar as margens.

É o momento em que os pescadores indígenas yurok ficam parados com seus arpões durante horas nas ondas fortes para capturar uma especialidade da temporada: um peixe parecido com uma cobra, com uma boca que suga e dentes afiados, que são uma iguaria para os yuroks há séculos.

“Você precisa rezar toda vez que vem para cá”, disse James Gensaw, que acha normal escalar rochas para chegar à área predileta das enguias, uma faixa de areia batida pelas ondas do Pacífico.

O Klamath, cuja foz fica a cerca de 65 quilômetros ao sul da divisa com o Oregon, é o lar ancestral dos yuroks. Coberto de florestas de pinheiros, também é um território para a procriação de enguias, salmões, pintados e trutas.

Normalmente chamados de enguias, os peixes são na verdade lampreias do Pacífico, que comem fluidos corporais de outros peixes.

Elas são adversários astutos. Suas barrigas brancas e prateadas aparecem em brilhos rápidos na curva das ondas, exigindo do pescador olhar atento, decisão firme e um pouco de sorte.

O melhor momento para apanhá-las é na maré baixa. É quando as que vêm do oceano para desovar no rio chegam mais perto da praia, de carona nas ondas.

Gensaw se estende para fisgar um peixe com seu arpão na fração de segundo antes de quebrar a onda. Ele o puxa da água, gira sobre o ombro e em círculos sobre sua cabeça. A força do movimento impede que ele escape.

Como esses animais são principalmente noturnos, os pescadores chegam à praia à noite, quando a neblina densa cobre a foz. Suas lanternas iluminam as ondas. Não é para os fracos de coração.

“Já perdemos várias pessoas aqui que queriam só mais uma enguia”, disse Dewey Myers, que é conhecido por seus arpões entalhados com requinte.

As lampreias aparecem no rio antes da corrida de salmões, “ajudando nosso povo a passar o inverno”, disse Barry McCovey, um biólogo dos pesqueiros yuroks.

O índice de desemprego na reserva varia de 30 a 75%. As únicas lojas de alimentos são minimercados nos postos de gasolina, e há uma temporada agrícola limitada.

“Eu vejo nisso como fazer compras no mercado”, disse Gensaw.

A população de lampreias declinou de modo significativo em todo o norte da Califórnia, segundo Damon H. Goodman, do Serviço Federal de Pesca e Vida Natural. As represas intransponíveis são uma das causas principais, disse ele.

Pescadores de enguias como Gensaw querem transmitir essa tradição. Seu filho James Jr., 8, treina no quintal com um arpão e um pedaço de mangueira de 60 cm, mais ou menos o comprimento de uma enguia adulta.

Certa manhã, na foz do Klamath, um pescador que passou a noite em claro dormia sobre um tronco. “Você fica teimoso quando está lá”, disse Myers. “Sabe que assim que se afastar verá uma enguia.”

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