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Juan Felipe Herrera, 66, é filho de trabalhadores migrantes da Califórnia | Gary Kazanjian/The New York Times
Juan Felipe Herrera, 66, é filho de trabalhadores migrantes da Califórnia| Foto: Gary Kazanjian/The New York Times

O “poeta laureado” dos EUA tende a ser muito ocupado, disse certa vez Howard Nemerov, porque ele ou ela passa muito tempo explicando o que significa seu trabalho.

Com Juan Felipe Herrera poderia ser diferente. Como novo poeta americano laureado, gostaríamos de vê-lo escrevendo versos cerimoniais para eventos como a inauguração de pontes ou a morte de velhos soldados. Herrera é um poeta que gostaríamos de ouvir declamar no National Mall em Washington.

Isso acontece em parte porque ele é um laureado incomum, filho de trabalhadores migrantes da Califórnia, um homem que compreende as pessoas que são esgotadas pela dura faina diária.

Principalmente, porém, gostaríamos de ouvi-lo no National Mall porque seu trabalho é feito para ser dito em voz alta. Seus melhores poemas são polirrítmicos e marcados pela sagacidade.

Veja, por exemplo, o longo poema “187 Reasons Mexicanos Can’t Cross the Border (Remix)” [187 motivos pelos quais os mexicanos não podem cruzar a fronteira]. Nele o poeta ergue uma bandeira incomum, de uma maneira que lembra uma mistura de dois ativistas dos anos 1960, Oscar Zeta Acosta e Allen Ginsberg.

Entre os motivos estão: “Porque é melhor ser desenraizado, inconsciente e violável”; “Porque os pesticidas ainda brilham em nossa pele”; “Porque vamos construir uma tenda de ritual indígena na frente do Bank of America”; “Porque estamos presos no realismo mágico”; e “Porque Freddy Fender não era o verdadeiro nome de Baldemar Huerta”.

Herrera, 66, que amadureceu como poeta em meio ao movimento cultural chicano, no sul da Califórnia no final dos anos 1960 e início dos 70, continua perto do chão em muitos de seus poemas mais vívidos. “Blood Gang Call” [Chamado do bando sanguinário], de 1999, inclui estes versos:

Calling all orange & lemon

carriers,

come down the ladder to

this hole

Calling all chile pepper sack

humpers,

you, yes, you the ones with a

crucifix

[Chamando todos os carregadores de laranja e limão, / desçam a escada até este buraco / Chamando todos os carregadores de sacos de pimenta, /sim, vocês, que usam crucifixo]

E o poema termina com:

Calling all tomato pickers,

the old ones, wearing

frayed radiator masks.

[Chamando todos os catadores de tomates, /os velhos, que usam / máscaras de radiador gastas.]

As melhores obras de Herrera estão compiladas em dois volumes: “Half of the World in Light: New and Selected Poems” e “187 Reasons Mexicanos Can’t Cross the Border: Undocuments 1971-2007”.

Os encantos de Herrera são inegáveis. Quando ele está presente, entra em contato com o público e com os dons democráticos. Seus sentidos estão abertos para o mundo e sua postura na página é nobre e estranha, de um modo cativante. Em um poema de 2004, “Don’t Worry, Baby”, ele parece ter dons ocultos, e escreve: “Eu me preocupo com o karma de Bill Cosby”.

Aqui estão mais algumas coisas que, segundo seu poema, o mantêm acordado à noite: “Eu me preocupo com os sinais de emergência monolíngues”; “Eu me preocupo com as pessoas que usam a palavra folk”; “Eu me preocupo com o suprimento de vitamina D de Stephen King”; “Eu me preocupo com professores de jardim da infância que usam roupas combinando”; e, finalmente, “Eu me preocupo com pessoas que dizem ‘Não se preocupe, nenê’”.

Esse poema foi publicado na coletânea “Notebooks of a Chile Verde Smuggler” [Anotações de um contrabandista de pimenta verde], lembrando-nos de que ele tem um dom para títulos.

Dou as boas-vindas a Herrera. Poderemos vir a nos apoiar nele. Como diz um de seus poemas:

I want to write of love in the face of disaster.

[Quero escrever sobre o amor diante do desastre.]

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