Não faltam lendas para explicar a chegada dos primeiros búfalos-do-pântano asiáticos a esta ilha na foz do rio Amazonas.
Segundo uma delas, os búfalos teriam vindo originalmente dos arrozais da Indochina francesa, depois do naufrágio de um navio cujo destino seria a Guiana Francesa.
Seja como for, a espécie invasora se multiplicou em Marajó. Hoje há 450 mil búfalos na ilha, que tem o tamanho da Suíça.
Boa parte do cotidiano da ilha gira em torno dos búfalos. Os marajoaras usam os animais para transportar lixo, promovem corridas de búfalo em dias de festa e saboreiam filés de búfalo cobertos de queijo feito de leite de búfala. “A importância que o búfalo tem em Marajó nos fez pensar”, comentou o major Francisco Nóbrega, 41, do 8° Batalhão da Polícia Militar do Pará, Estado da Amazônia brasileira do qual a ilha de Marajó faz parte.
“Por que não fazer as patrulhas de búfalo, também?”
A unidade de polícia montada em búfalos começou na década de 1990, patrulhando a cidade modorrenta de Soure, com cerca de 23 mil habitantes, e apartando ocasionais brigas de bar.
Ao longo dos anos, a missão se ampliou para incluir perseguição a suspeitos que fogem para a região agreste do Marajó, além de reprimir o roubo de búfalos nas fazendas mais distantes da ilha.
“Os búfalos-do-pântano nadam muito bem, melhor que cães, e são mais ágeis que cavalos quando é preciso andar no barro”, disse José Ribamar Marques, que trabalha em Marajó para a Embrapa, empresa brasileira de pesquisas voltadas a agricultura e pecuária tropicais.
“E o animal é dócil, facilitando seu contato com o homem.”
Várias raças de búfalo estão presentes na ilha de Marajó, como a Murrah, famosa por sua carne e seu leite, e a Carabao, conhecida pelos chifres em forma de foice.
Alguns oficiais disseram que o uso dos búfalos no trabalho da polícia acarreta outro benefício: ajuda a reduzir as tensões.
“O fato de ser um sujeito montado num búfalo me torna mais abordável, facilitando um pouco meu trabalho”, comentou o policial Cláudio Vitelli, 45.
A polícia militar brasileira é acusada de uma série de violações dos direitos humanos, como a morte de supostos inocentes.
Apesar do clima modorrento, a ilha de Marajó conhece as reações de revolta geradas por episódios desse tipo. Em 2011, depois de um policial matar um homem a tiros na cidade de São Sebastião da Boa Vista, moradores furiosos soltaram os presos da cadeia local, puseram fogo na delegacia de polícia, que foi completamente destruída, e fizeram os policiais fugir para outras partes da ilha.
Em Soure, onde o 8° Batalhão funciona numa pequena delegacia adjacente a um curral com dez búfalos, policiais dizem que a patrulha feita no lombo dos animais pode suavizar as tensões com a população, pelo fato de colocar os membros de baixo escalão da PM, conhecidos como soldados, em contato com pessoas que usam búfalos para transporte, agricultura e outros tipos de trabalho.
Os oficiais do 8° Batalhão dizem estar dispostos a dividir com outros seus conhecimentos e experiência com búfalos. Eles mencionam o Centro de Instrução de Guerra na Selva, do Exército brasileiro, que enviou instrutores a Marajó para aprenderem a usar os búfalos-do-pântano, no lugar de mulas e cavalos, para levar suprimentos a tropas na floresta.
“Meus amigos brincam comigo, dizendo que búfalo só serve para ser talhado em bifes, mas isso é ignorância”, falou o policial Emerson Cassiano, 42, da unidade de búfalos.
“Pense no que o homem realizou desde que começou a andar no cavalo, em vez de apenas comer o animal. Nossa patrulha no lombo de búfalo pode ser o início de uma coisa grandiosa.”
Colaborou Lis Horta Moriconi, do Rio de Janeiro