Algumas das personalidades mais poderosas e odiadas do governo de Zine El-Abidine Ben Ali, o presidente deposto, estão saíndo da prisão.

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Presos após a revolta da Primavera Árabe, as ex-autoridades foram beneficiadas pela mudança no equilíbrio de poder na Tunísia desde o último verão.

Rafik Haj Kacem, ministro do interior na época da revolução, e Ali Seriati, chefe do serviço da segurança presidencial, foram libertados quando as cortes de recursos alteraram suas sentenças de cumprimento de pena.

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Tais fatos irritaram os defensores da revolução, especialmente as famílias dos manifestantes que foram mortos. Eles acusam os líderes do país de traição.

Mesmo a recente criação da Comissão da Verdade e da Dignidade, autorizada a investigar a repressão do governo durante os mais ou menos 50 anos de ditadura, não os tranquilizou.

"Todos sentimos que nossos filhos morreram novamente nesse dia", disse Fatma Ouerghi, que estava entre a multidão das famílias das vítimas que cercaram a corte militar quando a sentença de 20 anos de Seriati foi reduzida. Seu filho de 24 anos, Ahmed Ouerghi, foi morto a tiros por um oficial militar em janeiro de 2011, e, como muitos outros parentes de vítimas, ela acusa os militares e a polícia de conluio para proteger os culpados, e os políticos de não impedi-los.

"Vivemos três anos em uma grande farsa de justiça", Ouerghi disse. "Nada mudou desde a revolução, a não ser a perda dos nossos filhos".

Do outro lado da cidade, em sua casa no bairro luxuoso de La Marsa, Seriati, de 74 anos, professou sua inocência. "Eu estava feliz na cadeia", disse. "Quando temos certeza de nossa inocência, não existe nada a temer, e confiei em Deus".

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As libertações ocorreram quando o partido islâmico em exercício, o Ennahda, aceitou renunciar, e um governo temporário assumiu antes das eleições parlamentares em outubro e depois a eleição presidencial.

Isso não foi bem visto dentro do partido, mas depois de dois assassinatos políticos, a crescente militância islâmica e os protestos nas ruas, os líderes do Ennahda justificaram que excluir os oponentes geraria instabilidade em longo prazo, e que era melhor deixá-los enfrentar o teste das urnas. "São os tunisianos que dirão que não queremos voltar ao velho regime", declarou Ameur Larayedh, chefe do comitê político do Ennahda. "Essa é uma mensagem muito mais clara e eficiente".

A maioria das 20 ex-autoridades do alto escalão detidas após a Primavera agora está solta. Apenas Ben Ali, que fugiu para a Arábia Saudita, e sua família ainda enfrentam pena severa. O presidente recebeu pena perpétua à revelia.

Sihem Bensedrine, uma ativista dos direitos humanos e ex-jornalista que dirige a Comissão da Verdade e da Dignidade, disse que as dezenas de milhares de casos de tortura, de estupro e de assassinatos durante os 50 anos de ditadura seriam investigados. Os mártires da revolução, no entanto, serão prioridade por causa do simbolismo da revolução contra a tirania.

Muitas vítimas e suas famílias não se convenceram de que a comissão fará justiça.

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"Não queremos um julgamento e depois um perdão e adeus", Ouerghi disse. "Não é apenas uma rixa. Ele não simplesmente bateu no meu filho. Ele o assassinou", disse ela sobre o oficial condenado por atirar em seu filho.

Bensedrine afirma que seu principal objetivo era evitar o retorno de qualquer ditadura. "Ter um Seriati na prisão não é o suficiente para mim", declarou. "Queremos mostrar as peças da máquina, mostrar como se faz e como se desfaz uma ditadura. Não a queremos mais".