Tudo quanto é tipo de negócio nesse incansável baluarte pró-Europa perto da fronteira com a Polônia tem sua própria ideia de como tornar a Ucrânia mais parecida com a vizinha próspera.
Para Yaroslav Rushchyshyn, fundador de uma confecção, é abolir regras bizarras que geram multas ameaçadoras pela forma com que ele lida com restos de tecidos e pelo modo em que informa suas perdas financeiras.
Para Andrew Pavliv, que comanda uma empresa de tecnologia e sonha em transformar Lviv num pequeno Vale do Silício ucraniano, é modernizar o rígido sistema de educação para ajudar a formar empreendedores.
Para Natalia Smutok, executiva de uma empresa que faz mostruários de cores para tintas e cosméticos, é lançar uma campanha contra o suborno, mesmo ela estando na 36a semana de gravidez.
Com o Ocidente propenso a injetar bilhões de dólares na Ucrânia, o dinheiro pode não passar de um curativo temporário se o governo não atacar alguns dos desafios regulatórios e a estrutura ultrapassada do país.
O Fundo Monetário Internacional deve pedir reformas como condição para dar ajuda a longo prazo. Economistas enfatizam que os problemas são profundos na Ucrânia, país que ainda lida com o legado do passado soviético enquanto busca oportunidades comerciais além da Rússia.
Desde a dissolução da União Soviética, o crescimento da Ucrânia ficou muito aquém de outros antigos Estados comunistas. E sua situação se mostra bastante ruim se comparada à Polônia, na fronteira oeste, que, longe de ser perfeita, se mostrou um modelo da velocidade com que um antigo satélite soviético pode progredir.
Contando com o aço e os produtos agrícolas entre os principais artigos de exportação, a produção da Ucrânia caiu desde os últimos dias da União Soviética. A da Polônia cresceu acentuadamente e é muito maior do que a da Ucrânia, embora tenha população menor. Ainda que o crescimento polonês tenha se reduzido ultimamente, seu produto interno bruto per capita de US$ 13 mil é quase três vezes e meia maior que o da Ucrânia.
Em Lviv, a uma hora de carro da fronteira polonesa, tais diferenças são visíveis, disse Smutok e sua assistente, Iryna Bulyk. "Estradas melhores", pediu Bulyk. "Casas melhores", acrescentou Smutok.
Victor Halchynsky, ex-jornalista que agora é o porta-voz da unidade ucraniana de um banco polonês, disse que a divergência dos dois países era uma fonte de frustração. "É doloroso porque nós sabemos que isso só aconteceu por uma questão política", ele disse, acrescentando que embora os dois países tenham começado a realizar reformas, a Polônia "terminou a sua".
Grandes subsídios à energia mantiveram o consumo elevado e deixaram o país dependente do gás natural russo, secando os cofres públicos. Pavliv afirmou que o sistema universitário público, o qual qualificou de "puramente soviético", era inflexível demais para estabelecer um programa de treinamento para gerentes de projeto ou permitir que executivos sem diplomas específicos lecionassem. Antes o celeiro soviético, o setor agrícola foi prejudicado por regras antiquadas, incluindo restrições à venda de terras. Uma agressiva fiscalização tributária tem sido empregada para extorquir empresas. De forma mais imediata, existe a ameaça de guerra com a Rússia.
Smutok, cuja campanha contra suborno fez líderes empresariais locais confrontarem agentes alfandegários, disse que o tumulto era "tão perto da minha casa que, na verdade, não estou com medo de coisas pequenas, tais como a corrupção e enfrentar o governo".
Os executivos daqui recebem de braços abertos um potencial acordo de associação com a União Europeia para abrir fluxos de capital ocidental e mercados, embora não estejam universalmente ansiosos em se unir à UE. Há quem tema que fronteiras abertas sejam ruins, drenando trabalhadores qualificados e permitindo que concorrentes estrangeiros mais experientes tomem o mercado.
Pavlo Sheremeta, novo ministro do desenvolvimento econômico e nativo de Lviv, disse que "o primeiro problema é o excesso de regulamentação; o segundo problema é que os mercados ucranianos são monopolizados por pessoas e grupos com influência política, e esse é um dos motivos pelos quais observadores estrangeiros são, em essência, indesejados".
De acordo com ele, o terceiro problema era o sistema jurídico da Ucrânia que "toma decisões políticas, não legais, o que afugenta o investidor". Rushchyshyn, que tem nove confecções, afirmou que a Ucrânia ainda tem um relacionamento desconfortável com o capitalismo. "Empresário é sinônimo de palavrão", disse. Rushchyshyn diz que não se identifica como empresário. "Dou trabalho. As pessoas não entendem que é a mesma coisa."