A população de adultos idosos e frágeis cresce rapidamente no mundo desenvolvido, exigindo que a sociedade pense em como poderá ajudá-los a cuidarem de si mesmos em suas próprias casas. Naira Hovakimyan tem uma ideia: drones.
A roboticista da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, recentemente recebeu uma doação de US$ 1,5 milhão da Fundação Nacional para a Ciência para explorar a ideia de projetar pequenos drones autônomos que executem tarefas domésticas simples, como pegar um frasco de remédio na outra sala. Naira reconheceu que a ideia pode parecer desanimadora para muitos, mas acredita que os drones não só serão seguros, como se tornarão um instrumento do dia a dia para cuidados com idosos daqui a uma ou duas décadas.
“Estou convencida de que dentro de 20 anos os drones serão como os celulares de hoje.”
Sua pesquisa é apenas um exemplo das muitas abordagens estudadas no uso da tecnologia para ajudar pessoas idosas. Mesmo que os cuidadores robôs estejam longe de ser uma realidade, roboticistas e médicos preveem que uma nova onda de avanços em computação, robótica e tecnologias conectadas à internet estarão disponíveis nos próximos anos para ajudar a população mais velha a ficar mais tempo em casa.
“A solidão chegou a níveis epidêmicos entre as pessoas idosas nos EUA hoje”, disse Juliet Holt Klinger, diretora de programas e cuidados na demência do Brookdale Senior Living, um dos maiores provedores de serviços de assistência e atendimento domiciliar do país.
A Brookdale usa uma variedade de serviços cibernéticos para facilitar a relação entre seus clientes mais velhos com familiares e amigos. Juliet disse que há cada vez mais provas de que permanecer em contato, mesmo que eletronicamente, diminui o declínio cognitivo associado ao envelhecimento. “Temos muitas histórias de famílias que se reencontram através do Skype”, acrescentou ela.
Em meio a tantas ideias promissoras, no entanto, os céticos também notam que muitas delas são “tecnologias buscando uma solução” que inevitavelmente falham no teste de praticidade.
“Ficamos realmente animados e depois nos desiludimos”, disse Laurie Orlov, analista de negócios que começou o blog Aging in Place Technology Watch em 2008.
Mesmo assim, exemplos de tecnologias robóticas e derivadas da inteligência artificial que estarão disponíveis comercialmente na próxima década incluem andadores inteligentes, pingentes que rastreiam quedas e caminhadas a esmo, sensores domésticos que monitoram o estado de saúde, aparelhos para ajudar no equilíbrio, companheiros eletrônicos virtuais e robóticos e até drones.
Em seu laboratório, Naira começou a experimentar com drones pequenos e grandes. Ela os chama de “Bibbidi Bobbidi Bots”, usando uma frase do desenho “Cinderela”, para que soem menos intimidantes. Em novembro, no laboratório da Nicer Robotics da Universidade de Illinois, os pesquisadores iniciaram experiências com o Oculus Rift, um visualizador de realidade virtual, para mostrar às pessoas qual a sensação de se estar perto de um pequeno drone. Naira acredita que esses dispositivos poderiam um dia ser usados para executar todo tipo de tarefa doméstica, como pegar um objeto debaixo da mesa, limpar lustres e remover ervas daninhas no gramado.
Muitos outros também estão em busca de soluções: em um laboratório em Seattle, Washington, Tandy Trower, ex-desenvolvedor de software da Microsoft e executivo, está testando um robô de 1,2 metro de altura chamado Robby. Com câmeras, radar, microfone, alto-falante, interface de tablet e bandeja móvel, Robby pode um dia ser capaz de servir como companheiro móvel e até mesmo executar algumas tarefas pequenas.
Trower disse que o robô, agora um protótipo em seu laboratório Hoaloha Robotics, seria capaz de monitorar a saúde do companheiro humano e ajudar com tarefas como controlar os medicamentos. Sua tela também pode ser usada para videoconferências com médicos e outros prestadores de serviços de saúde.
Ele disse que o futuro de ficção científica em que robôs cuidam de idosos está mais perto do que muita gente imagina.
“Ao invés de avistar o trem ao longe, agora a luz de seus faróis já nos ilumina o rosto”, ele disse.
A necessidade de tal tecnologia vai crescer acentuadamente, dadas as amplas mudanças demográficas na população de todo o mundo.
Apesar de inúmeras e variadas pesquisas e alguns produtos comerciais, os Estados Unidos parecem estar ficando para trás em relação ao Japão e à Europa no desenvolvimento de soluções.
“Nessas duas regiões parece que os governos estão mais sintonizados com o potencial da tecnologia para o envelhecimento da população”, disse Jeffrey A. Kaye, neurologista da Universidade de Saúde & Ciências do Oregon, que se dedica a tecnologias para idosos.
Há mais de uma década, a China buscou ajuda de Eric Dishman, cientista da Intel que se dedica ao desenvolvimento de tecnologias para ajudar os idosos.
“Agora tenho uma equipe na China trabalhando com terceiros, colaborando na Iniciativa Cidade Amiga do Idoso”, disse Dishman. Isso levou à instalação de sensores domésticos para monitorar até cem mil pessoas.
O projeto Intel China usa as chamadas técnicas de aprendizado de máquina, que determinam padrões de comportamento para os cuidadores.
“Seus hábitos diários são um sinal vital”, disse Dishman.
Além de sensores domésticos inteligentes e robôs que se movimentam, há uma variedade de outras iniciativas que usam robôs estacionários como instrutores e até para comunicação e companhia.
A Internet, sistemas de tablet e smartphone tais como o grandPad, um tablet simplificado para idosos, e o CareAngel, um sistema telefônico para ajudar familiares mais jovens a ficarem conectados, surgem para ajudar com os cuidados e para diminuir o isolamento.
O teste final de todas essas ideias será a aceitação do público.
Na Conferência Aging 2.0 em novembro em San Francisco, que tratou de novas tecnologias de cuidados, Cynthia Breazeal, do MIT Media Lab, mostrou o Jibo, um pequeno robô conectado à internet com uma tela giratória redonda onde aparece um rosto robótico simpático.
Nem todo o público ficou muito animado com o conceito.
Durante uma sessão de perguntas e respostas no final da apresentação, uma senhora de 91 anos de idade disse: “Se o Jibo fosse meu último amigo, eu ficaria muito deprimida”.