Esboço original para o logotipo dos Stones| Foto: Norman,Benjamin/The New York Times

Os preparativos para o relançamento de “Sticky Fingers”, álbum clássico dos Rolling Stones de 1971, enfrentaram recentemente um contratempo no processo industrial: a fabricação do zíper que abre a calça jeans da capa, uma criação de Andy Warhol reaproveitada em alguns exemplares de uma nova edição de luxo, estava demorando demais.

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Deveriam ter pedido ajuda a Craig Braun.

Como dono e diretor de criação da Sound Packaging Corporation, nas décadas de 1960 e 1970, Braun se tornou referência como idealizador de capas complexas para long-plays. Entre suas criações, estão a banana descascável de “The Velvet Underground & Nico”, de 1967.

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Agora, quando os Stones revisitam “Sticky Fingers” em sua turnê “ZIP Code”, Braun contou a história por trás daquela que o canal de música VH1 considerou a melhor capa de disco de todos os tempos. “Sticky Fingers” marcou ainda a estreia do famoso logotipo da boca com a língua de fora, ícone da história do rock cuja criação também teve o envolvimento de Braun.

Braun, 75, que hoje trabalha como ator, lembra-se de ter testado outros conceitos lúdicos no disco dos Stones —como uma embalagem gigante de papel de seda para fumar, uma ideia depois aproveitada pela dupla Cheech & Chong—, mas que Mick Jagger estava decidido a usar a ideia do zíper, de Warhol. Não só o zíper precisava funcionar —tinha de ter algo por trás.

“Eles sabiam que, se colocassem um jeans e um zíper que funcionasse, as pessoas iriam querer ver o que havia detrás”, disse Braun. Essa inserção também atendia a um propósito prático. “Eu sabia que a parte de trás dos zíperes, que precisariam ser colados à mão, poderia danificar o disco”, disse ele. “Então decidi incluir uma terceira parte dobrada.”

Braun ligou para o ateliê The Factory, de Warhol, pedindo uma arte adicional. Warhol mandou polaroides de um modelo vestindo cueca branca justa —fotos que Braun ainda guarda em seu apartamento. A identidade dos modelos dessa inserção —que muita gente acha ser o próprio Jagger— e da capa continua sendo um mistério.

Com o zíper e a foto da cueca em mãos, Braun ainda enfrentou outros obstáculos. Mesmo com um pedaço de cartolina para proteger cada disco, a primeira leva chegou às lojas com alguns defeitos. Por causa do peso dos álbuns empilhados durante o transporte, o fecho do zíper de um álbum estava arranhando o vinil que vinha acima.

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“Tive a ideia de que, se a cola estivesse bem seca, poderíamos colocar umas senhorinhas no final da linha de montagem para puxar o zíper até que a parte abaulada coincidisse com a etiqueta do meio do disco”, contou ele. “Funcionou, e ficou ainda melhor ver o zíper meio puxado para baixo.”

Em Londres, John Pasche, aluno do Royal College of Art, trabalhava na criação de um logotipo para a banda. Jagger, segundo Pasche, havia se inspirado na língua da deusa hindu Kali, “mas eu não queria fazer nada indiano, porque achei que ficaria datado muito rapidamente, já que todo mundo estava passando por essa fase naquela época.” Mesmo assim, a boca e os lábios de Kali “dispararam alguma coisa”, disse ele.

Em Nova York, Braun tinha um prazo e precisava do logotipo. Como o desenho da língua ainda estava inacabado, ele se contentou com um pequeno esboço, que Marshall Chess, fundador e presidente da Rolling Stones Records, enviou por fax de Londres. “Eu não disse a ele o que iria fazer com aquilo”, contou Braun.

Os ilustradores da sua agência terminaram a boca —estreitando a língua, acrescentando mais reflexos brancos e um fundo preto como garganta— e estamparam a imagem na aba interna da edição americana do álbum.

Esses retoques feitos no logotipo permanecem ainda hoje, apesar das ligeiras variações de cor e tamanho dependendo do evento. Eles estão presentes também na publicidade oficial da turnê “ZIP Code” e em inúmeros produtos alusivos à banda.

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Braun estima que a criação da capa de “Sticky Fingers” lhe rendeu mais de US$ 100 mil. Durante alguns anos, na década de 1970, ele também licenciou e desenhou uma versão alternativa do logotipo dos Stones para uma linha de produtos chamada Licks, pagando apenas um pequeno royalty à banda.

“O merchandising para os Rolling Stones atualmente está na casa dos bilhões”, disse Braun “Eu deveria ter ficado no negócio.”