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Rua de Caracas; encher o tanque custa menos de US$ 1 na Venezuela, já que o preço da gasolina é subsidiado pelo Estado | Leo Ramirez/Agence France-Presse — Getty Images
Rua de Caracas; encher o tanque custa menos de US$ 1 na Venezuela, já que o preço da gasolina é subsidiado pelo Estado| Foto: Leo Ramirez/Agence France-Presse — Getty Images

A Venezuela tem a gasolina mais barata do mundo: menos de dois centavos de dólar por litro. O preço é tão baixo que muitos motoristas gastam mais com a gorjeta ao frentista do que para encher o tanque.

No país que possui as maiores reservas petrolíferas estimadas do mundo, muitos venezuelanos veem a gasolina barata como seu direito inalienável, resquício dos tempos de boom, quando a Venezuela se projetou alcançando status de primeiro mundo graças ao petróleo.

Mas o presidente Nicolás Maduro fez algo que antes seria impensável: disse que é hora de elevar o preço da gasolina.

"Estou totalmente de acordo, acho que devem subir o preço", disse Luis Gelvis, 45, trabalhador em um depósito, enquanto enchia o tanque de seu velho utilitário esportivo Chevrolet por US$ 0,48. Mas, quando o frentista observou que ele poderia passar a gastar dois ou três dólares para encher o tanque, o sorriso sumiu de seu rosto. "Nem pensar! Isso é demais!", reagiu. "Se aumentarem tanto assim, haverá greves e barricadas."

O presidente não disse quando haverá aumento nem de quanto será. Segundo algumas estimativas, o governo está dando US$ 30 bilhões em combustível todos os anos, prejuízo enorme em um momento de deficit nacional elevado.

Mas elevar os preços do combustível pode ser politicamente arriscado. Maduro teve dificuldades para ser aceito em seu primeiro ano na Presidência, sendo com frequência visto como nada mais que uma sombra pálida de seu carismático predecessor, Hugo Chávez. Mesmo Chávez, apesar de criticar os subsídios ao combustível, nunca se arriscou a elevar os preços. O tabu a esse respeito se deve em parte à associação entre o aumento promovido em 1989 e os protestos em que morreram centenas de pessoas.

O malabarismo político é comum em países em desenvolvimento, especialmente entre aqueles que são ricos em recursos naturais. Nos últimos anos, houve protestos, em alguns casos violentos, após o corte de subsídios do combustível na Bolívia, na Indonésia e na Nigéria.

Em dezembro, Rafael Ramírez, presidente da estatal petrolífera venezuelana, disse que o preço de custo da gasolina de alta octanagem, que é a que a maioria das pessoas compra, é de cerca de US$ 0,48 por litro. Nos últimos dois anos, segundo a Administração de Informações sobre Energia, de Washington, a Venezuela vem importando dezenas de milhares de barris de gasolina por dia, devido a problemas em suas refinarias. Assim, o país vem pagando preços de mercado pela gasolina que dá quase de graça.

Francisco J. Monaldi, professor visitante de política pública em Harvard, disse que a receita perdida é mais do que o governo gastou com educação e saúde, juntas. Os venezuelanos ricos e da classe média se beneficiam especialmente do subsídio, por serem os que mais possuem carros.

Para Monaldi, muitos venezuelanos pobres entendem que o preço da gasolina é insustentável e que ela pouco os beneficia. Mesmo assim, pelo fato de não confiarem nos políticos, de modo geral eles se opõem ao aumento do preço, mesmo que o governo prometa gastar o dinheiro poupado em programas sociais.

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