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Preços recordes das belas-artes escondem um mercado morno

Em novembro, um retrato tríptico do pintor modernista britânico Francis Bacon foi vendido por US$ 142,4 milhões, um recorde para uma obra de arte num leilão. Na noite seguinte, uma gravura em serigrafia, "Batida do Carro Prata (Desastre Duplo)", do artista pop norte-americano Andy Warhol, foi comprada por US$ 105,4 milhões. E no começo deste mês, "Fazendo a Oração", do ilustrador norte-americano Norman Rockwell, foi arrematada por US$ 46,1 milhões.

Porém, apesar das manchetes e do entusiasmo hiperbólico de muitos leiloeiros e marchands, o mercado das belas-artes como um todo está estagnado, segundo especialistas que registam dados das vendas. Muitas obras estão sendo adquiridas perto ou abaixo de suas estimativas mais baixas ou não conseguem sequer ser vendidas.

Segundo dados do índice Mei Moses, parâmetro do setor amplamente citado, o mercado das belas-artes declinou 3,3 por cento em 2012, e ganhou 2,2 por cento em novembro, mesmo com as vendas recentes que estabeleceram recordes. Tirando a arte chinesa tradicional, cujo valor vem subindo há anos graças ao interesse de compradores chineses ricos, o desempenho seria muito pior.

Em comparação, o índice de ações 500 da Standard & Poor’s ganhou 13,4 por cento em 2012 e já subiu mais de 27 por cento neste ano.

Na Sotheby’s, onde a serigrafia de Warhol estabeleceu um recorde, outra imagem de um acidente de carro, esta verde e chamada "Cinco Mortes em Turquesa", foi vendida por pouca coisa acima dos US$ 7 milhões. Um retrato que Warhol fez de Liz Taylor com fundo amarelo saiu por US$ 18 milhões (sem contar as comissões), abaixo da estimativa que girava entre US$ 20 milhões e US$ 30 milhões. E na Sotheby’s, outra ilustração de Rockwell com tema religioso, "Caminhando para a Igreja", foi vendida por apenas US$ 2,8 milhões (sem descontar a comissão), abaixo da estimativa de US$ 3 milhões a US$ 5 milhões. (As estimativas não incluem as comissões.)

Porém, pelo menos elas foram vendidas. A obra-prima sobre a Guerra da Secessão de Sanford Robinson Gifford, "Manhã de Domingo no Acampamento do Sétimo Regimento", emprestada à Casa Branca e pendurada no Salão Oval por mais de 20 anos, não foi vendida no começo do mês na Christie’s. Estima-se que valha de US$ 3 milhões a US$ 5 milhões.

O que explica a diferença entre a percepção e a realidade?

"O que nós vimos é que os preços explosivos representam um subconjunto bastante reduzido de lotes", afirmou David Kusin, antigo curador do Museu de Arte Metropolitana que também trabalhou em Wall Street e que agora chefia a Kusin & Company, consultoria de Dallas, Texas, e se especializa na economia do mercado de arte. "Elas recebem toda a atenção da imprensa, mas vimos preços ao bater do martelo relativamente estáveis na maioria das categorias ao longo dos últimos anos."

E somente duas categorias pressionaram as médias para cima.

"Arte contemporânea e do pós-guerra – artistas ativos de 1950 a hoje em dia – que inclui Francis Bacon e Jackson Pollock, tem se saído extremamente bem nos últimos 25 anos", disse Michael Moses, professor aposentado de economia da Escola de Negócios Stern, da Universidade de Nova York, e cofundador do índice de arte Mei Moses. "E a arte tradicional chinesa – obras criadas antes de 1900 – tem se saído ainda melhor."

Moses afirmou que seus dados indicavam que a arte tradicional chinesa havia ganhado uma taxa de retorno anualizada de 15,5 por cento entre 2002 e 2012. A arte do pós-guerra e contemporânea ganhou 11,6 por cento. Em contrapartida, os velhos mestres da pintura ganharam somente 3,3 por cento e as pinturas norte-americanas somente um por cento. Como um todo, o índice subiu 7,4 por cento.

Há quem ache a noção de um mercado de arte repugnante. Michael Findlay, autor de "The Value of Art" e diretor da galeria Acquavella, em Nova York, disse: "Eu acredito é no valor social e estético da arte. Nós vivemos numa sociedade onde tudo é tão monetizado que a única maneira pela qual as pessoas conseguem falar sobre arte é em termos de dinheiro".

Como muitos profissionais da arte, Findlay é um crítico do índice Mei Moses, que não leva em consideração as vendas particulares em galerias como a Acquavella. Moses reconhece que seu índice tem limitações. Por definição, ele pega o que são objetos únicos e os combina com padrões amplos. O mercado de arte é "como os imóveis". "Dois objetos não são exatamente iguais."

Moses pediu para os colecionadores não se deixarem levar pela empolgação dos lances.

Para ele, existem coisas piores do que perder o leilão de qualquer objeto. "A beleza da arte está no fato de que existe muita arte."

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