Filhotes de crocodilos do Orinoco incubados em um rancho administrado pelo governo na Venezuela| Foto: Meridith Kohut para The New York Times
Álvaro Velasco

Roubar os ovos de um crocodilo de três metros enfurecido é uma operação delicada.

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"Se você não ficar alerta, este crocodilo consegue pular da água para a areia e, ao mesmo movimento, pode te alcançar", disse Luis Rattia, de 37 anos, que administra uma incubadora no rancho estatal El Frío, parte de um esforço cambaleante para salvar da extinção o crocodilo do Orinoco, o maior predador da América do Sul.

Antigamente havia milhões de crocodilos do Orinoco ao longo das margens do grande rio, que lhes deu o nome, e dos seus afluentes na Venezuela e no leste da Colômbia.

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No entanto, os temíveis animais quase foram exterminados devido à moda. Eles foram caçados à quase extinção desde a década de 1920 até a década de 1950 para alimentar a demanda mundial de botas de couro de crocodilo, casacos, bolsas e outros artigos. Hoje, os biólogos estimam haver apenas aproximadamente 1.500 crocodilos do Orinoco na natureza, quase todos eles na Venezuela.

O Rancho El Frío, que foi expropriado pelo governo de Hugo Chávez em 2009, representa as esperanças e frustrações dos conservacionistas que têm trabalhado para salvar o animal há anos, geralmente com propósitos conflitantes com um governo que frequentemente os vê com desconfiança.

"Não existe um programa devidamente definido com financiamento e objetivos", disse Omar Hernández, diretor de uma fundação ambientalista chamada Fudeci. "O animal está em perigo crítico".

Em 1990, os cientistas começaram a soltar os jovens crocodilos nos rios dentro do rancho El Frío, onde os crocodilos selvagens não tinham sido vistos há pelo menos duas décadas.

Atualmente, os pesquisadores estimam que até 400 crocodilos habitem o rancho.

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"Este é o grande sucesso do programa", declarou Álvaro Velasco, ex-biólogo do governo que lidera um grupo independente de especialistas em crocodilos. "A conquista é que não havia nenhum crocodilo aqui, e agora existe uma população que consegue reproduzir".

Quando El Frío foi expropriado, a estação de pesquisa foi fechada abruptamente, e um biólogo espanhol que antes a administrava foi impedido de entrar no rancho. Após vários meses, quando os crocodilos começaram a morrer, ele fez um apelo aos novos gestores do rancho para que lhe permitissem retornar à incubadora.

Ele vem a administrando quase que sozinho desde então.

Rattia passa a maior parte do tempo pescando para fornecer alimento para os animais na incubadora, que tem 155 crocodilos jovens e 1300 tartarugas da Amazônia, outra espécie ameaçada. Embora ele ganhe pouco mais do que o salário mínimo, ele gasta do próprio bolso para comprar vitaminas para complementar a dieta dos animais.

"Eles não veem o valor disso. Sinto que o dia em que eu partir é o dia em que a incubadora termina", disse Rattia.

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Existem seis instalações na Venezuela envolvidas na criação de crocodilos do Orinoco para soltura na natureza.

Porém, Hernández, o diretor da fundação do meio ambiente, disse que o governo havia cortado praticamente toda a comunicação com tais programas independentes.

Contudo, o potencial da cooperação público-privada pode ser visto em outro rancho administrado pelo governo, chamado El Cedral. Em 2012 com o financiamento de uma fundação privada iniciada por um ex-funcionário do Ministério do Meio Ambiente, o rancho criou uma incubadora de crocodilos, onde existem agora 90 filhotes de crocodilos sendo criados em tanques bem cuidados.

Pedro González, de 57 anos, que trabalha na incubadora, recordou como o pai costumava caçar crocodilos à noite em uma canoa, usando um arpão, o método tradicional por aqui. "Estou recriando o que o meu pai destruiu", González disse.