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Em Roma, um prédio conhecido como o Palácio Salaam surgiu para acomodar o fluxo de refugiados | Massimo Berruti para The New York Times
Em Roma, um prédio conhecido como o Palácio Salaam surgiu para acomodar o fluxo de refugiados| Foto: Massimo Berruti para The New York Times

Em um prédio abandonado nos arredores de Roma, popularmente conhecido como o Palácio Salaam, centenas de imigrantes moram há anos. Mas a rápida crise atual de imigrantes na Europa deixou o espaço superlotado, com a maioria dos recém-chegados transferidos para uma garagem do estacionamento subterrâneo, dormindo em colchões manchados no chão.

A superlotação do Palácio Salaam é uma crise que faz parte de uma emergência nacional maior criada pelo surgimento de mais de 50.000 imigrantes na Itália desde o começo do ano – mais do que o ano de 2013 inteiro. O fluxo esgotou severamente os recursos italianos, espalhando miniaturas do Palácio Salaam em cidades de todo o país.

Com a aproximação do verão, a expectativa é de que haja um pico nos números. Um noticiário nacional recentemente mostrou um grupo de imigrantes, recém-chegados em Puglia, que havia sido transportado por ônibus até a capital e foram abandonados, ficando desorientados em um estacionamento. Mesmo em Roma, o Palácio Salaam é apenas uma de diversas invasões semelhantes, embora certamente essa seja a mais famosa. O presidente da Itália chamou o prédio de uma vergonha nacional em 2012.

O Palácio Salaam é tão conhecido que se torna o destino de imigrantes de lugares bem distantes. O prefeito de Roma, Ignazio Marino, visitou o local no ano passado e prometeu ajudar. O Papa Francisco silenciosamente enviou o seu próprio "Esmoler", ou doador de esmolas, para colocar a sua mensagem social em ação, enviando trabalhadores para desentupir esgotos e doar uma cabana com chuveiros.

Porém, os moradores daqui afirmam que cada rodada de atenção, e cada onda de recém-chegados, meramente frisam a persistência de tudo o que não está funcionando nas políticas de imigração italianas, e nas políticas europeias de forma mais geral.

Este ano, os partidos populistas ganharam terreno em toda a Europa explorando as preocupações com a imigração, alterando o debate para temas sobre a concorrência econômica e sobre o custo social de um continente preso às tradições e que parece mais disposto do que nunca a se isolar das forças globais.

No entanto, nada disso impediu que o fluxo de pessoas quebrasse as defesas da Europa. Somente em um final de semana recente, as autoridades italianas resgataram mais de 5.400 pessoas vindas da Líbia, a maioria cruzando o Mediterrâneo em barcos raquíticos e superlotados comandados por traficantes de pessoas.

"Todos conhecem Salaam, esse lugar é famoso na África", disse Bahar Abdalla, do Sudão, um morador de longa data. "Não mandamos ninguém embora. Mas estamos preocupados. Isso não pode continuar".

Poucos imigrantes pedem asilo na Itália de forma voluntária, mas esperam continuar para o norte da Europa, tornando o Palácio Salaam um ponto de parada para alguns, e um lar permanente para outros que são forçados a ficar devido à chamada regulamentação de Dublin da União Europeia.

Com a intenção de desencorajar múltiplas solicitações de asilo, a regra exige que os requerentes de asilo solicitem o status de refugiado no primeiro estado membro que entrarem.

Os trabalhadores dos direitos humanos afirmam que a regra impõe uma carga desproporcional nos países europeus banhados pelo Mediterrâneo.

Em outubro do ano passado, após a morte de várias centenas de imigrantes em um acidente perto da ilha de Lampedusa, o ponto mais meridional da Itália, a União Europeia intensificou as patrulhas navais, tanto para controlar o fluxo de imigrantes quanto para auxiliar os navios em perigo. Os críticos dizem que as patrulhas só aumentaram os incentivos para os imigrantes arriscarem a travessia.

"Agora, eles chegam ainda cobertos de sal do mar", contou Donatella D’Angelo, médica do grupo de voluntários Cittadini del Mondo, ou Cidadãos do Mundo, que fornece atendimento de saúde semanal no Palácio Salaam.

Cansados de esperar a ajuda do governo e das autoridades municipais, a Dra. D’Angelo recentemente fez um apelo público solicitando sabão, toalhas, roupas e remédios. Segundo ela, muitas instituições de caridade responderam, inclusive uma escola fundamental que doou escovas de dente e creme dental.

"Como está, não é fácil viver aqui, e tivemos de alojá-los na garagem em colchões porque é tudo o que tínhamos para oferecer", disse Ibrahim Abdala, voluntário de Darfur, no Sudão.

Os críticos do sistema italiano afirmam que a assistência aos refugiados é fragmentada entre muitas agências diferentes que não se coordenam entre si.

As autoridades italianas prometeram reformar a clínica médica e construir um depósito para as doações.

O Prefeito Marino visitou o Palácio Salaam no ano passado e prometeu ajuda. Mas a população do Palácio Salaam não se impressionou.

"Marino veio, conversou conosco, mas no final é como se ele não tivesse vindo, nada mudou, e só está piorando", declarou Ali, um morador que se recusou a informar o sobrenome. "Os políticos já vieram e se foram, mas nada aconteceu".

Marino enxerga o problema como além da responsabilidade de Roma. A Europa como um todo "tem de oferecer não apenas camas, mas novas oportunidades para a vida dessas pessoas", disse. Ele exigiu um plano estratégico para os refugiados. "Esse é um desafio que tem de ser enfrentado pela União Europeia", disse.

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