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A casa natal de Hitler permanece de pé em Braunau am Inn, e os moradores debatem o que fazer com ela | Laetitia Vancon /The New York Times
A casa natal de Hitler permanece de pé em Braunau am Inn, e os moradores debatem o que fazer com ela| Foto: Laetitia Vancon /The New York Times

Para as pessoas que pertencem a determinado lugar, a identidade de uma cidade é importante. É a sua história. A sua cultura. O seu lugar. Peças que fazem uma cidade ser diferente das demais.

Imagine começar cada dia vendo e passando em frente de um lembrete de que essa cidade —a sua cidade— é a terra natal do líder nazista Adolf Hitler.

Os moradores de Braunau am Inn, na Áustria, se deparam com exatamente esse lembrete: a casa onde Hitler nasceu. É um pedaço da história local que muitos preferem esquecer.

Um morador de lá, Hans Schwarzmayr, disse a “The New York Times” que, quando viaja ao exterior e lhe perguntam de onde ele é, sempre diz “rio abaixo em relação a Salzburgo” ou “uns 120 quilômetros a leste de Munique” —para evitar o estigma.

A casa natal de Hitler só está de pé ainda porque as tropas aliadas impediram que seguidores do nazismo a destruíssem quando a cidade se rendeu.

O edifício já foi museu, escola e biblioteca. Atualmente está vago e deteriorado, e o governo austríaco, locatário do imóvel, tenta encontrar um novo uso. Algumas pessoas na cidade querem que a casa seja destruída.

Andreas Maislinger, um historiador de Innsbruck, propõe que a casa abrigue um memorial internacional e um projeto pacifista. “Braunau é um símbolo”, disse ele. “É onde o mal entrou no mundo.”

O passado não pesa tanto em Cheyenne, uma cidade do Estado de Wyoming na divisa com o Colorado, no oeste americano, orgulhosa do que representa.

“A cidade há muito tempo se apresenta como o último grande ícone do oeste, um contraponto a lugares como Denver”, que se tornaram mais cosmopolitas, escreveu Julie Turkewitz em “The New York Times”.

Ainda assim, os moradores de Cheyenne não chegam a um acordo sobre até que ponto a história deve ser mantida.

Os proprietários de três casas do final do século 19 localizadas atrás do histórico palacete do governador desejam substituir os edifícios por outra coisa —qualquer coisa. Podem ser moradias, ou mesmo um estacionamento.

Mas os preservacionistas barraram o alvará de demolição. Os proprietários, por sua vez, tentaram uma estratégia diferente: oferecer as casas de graça para quem quiser levá-las embora.

Eles ainda não encontraram compradores, em parte porque são necessários US$ 200 mil (R$ 600 mil) para deslocar e reformar os imóveis antigos.

Tais disputas entre proprietários e preservacionistas são comuns nos Estados Unidos. Mas, em Cheyenne, a disputa é pessoal, mesmo para quem não está pessoalmente envolvido.

“Isto aqui é o Oeste de verdade”, disse Don Threewitt, membro do conselho do patrimônio histórico local. “Todo mundo olha e diz: ‘É só uma casa’, ou ‘São só três casas’. Mas, quando você soma tudo, nós começamos a perder tanto tecido histórico a ponto de não termos mais identidade.”

Quando se trata da sua identidade, as cidades podem encontrar simbolismos bem menos significativos do que um templo nazista, e bem menores do que um aglomerado de casas.

A identidade pode estar em algo minúsculo, como os dois pontinhos na palavra Lindström.

Trata-se de uma pequena cidade do Estado americano de Minnesota que foi colonizada por imigrantes suecos na década de 1850, e que se orgulha da sua origem. Uma coisa que os colonos trouxeram foi o trema, um sinal diacrítico que não é usado na língua inglesa.

Em 2012, as autoridades rodoviárias do Estado substituíram as placas que saudavam os visitantes, mas não incluíram o trema. As regras determinam que as placas contenham apenas as letras básicas, sem acentos.

As pessoas de Lindstrom —como o nome passou a ser grafado— não gostaram.

Conforme informou “The New York Times” recentemente, o assunto foi levado ao governador democrata Mark Dayton, que anulou a decisão do departamento rodoviário.

“Se for preciso que eu viaje até Lindström e pinte os tremas pessoalmente nas placas de limite do município”, afirmou o governador em nota, “farei isso”.

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