Os Deuses da Cozinha foram interrogados pelo assistente do imperador: “O que se curva delicadamente?”
Os deuses usavam vestes flutuantes adequadas a uma corte real do século 17. Mas eram atores em um estúdio de televisão. Quatro respostas possíveis brilharam na tela. Uma delas dizia: “Uma rua recém-construída”.
Nguyen Ba Tien, instrutor de uma autoescola, assistia ao programa em Hanói.
Ele disse que a resposta da rua era engraçada porque se referia ao rumor de que o trajeto de uma rua na capital tinha sido modificado para não passar pelas casas de autoridades do governo.
O programa, chamado “Conhecendo-se no Fim do Ano”, aborda “temas quentes da sociedade”, disse Tien. O programa vai ao ar na televisão estatal em todas as vésperas do Ano Novo lunar. Muito antecipado e amplamente assistido, ele é famoso por suas caricaturas inteligentes das políticas do governo e por transmitir uma visão diferente de problemas como a corrupção e a crescente lacuna entre ricos e pobres.
Os comentários feitos pelos atores são muito menos críticos que a dissensão que permeia os blogs políticos vietnamitas. Mas, à diferença dos blogs, o programa é extremamente popular entre os vietnamitas comuns.
No Dia do Deus da Cozinha, uma família vietnamita típica queima três figurinhas votivas do Deus da Cozinha e solta três peixes em um lago ou rio. Os rituais facilitariam a viagem dos deuses ao céu, onde eles fazem relatórios a um imperador celestial sobre o comportamento da família no último ano. “Conhecendo-se no Fim do Ano”, que foi ao ar pela primeira vez em 2003, é uma interpretação do que acontece quando os Deuses da Cozinha chegam ao céu: em vez de relatar sobre uma família, eles avaliam o país.
O programa deste ano visou a crise bancária no Vietnã. A piada começou quando um Deus da Cozinha encarregado de relatar sobre a Terra disse que o mercado imobiliário havia melhorado em 2014. “Então quer dizer que as dívidas ruins foram reduzidas?”, perguntou um dos assistentes do imperador. “Dívidas ruins? Pergunte ao Deus do Metal”, disse o Deus da Terra, transferindo a culpa para o setor financeiro dominado pelo Estado.
Le Van Lan, professor emérito de história na Universidade Nacional de Hanói, disse que os militares e o Partido Comunista nunca foram diretamente ironizados no programa. Peter B. Zinoman, professor de história do Sudeste Asiático na Universidade da Califórnia em Berkeley, disse que o programa Deuses da Cozinha nunca lhe pareceu especialmente inovador. No entanto, ele acrescentou, pode funcionar como uma “válvula de segurança” para a veiculação de críticas sobre os desvios no nível inferior do governo.
Vários vietnamitas que assistiam ao último programa perto da Xa Dan Road, em Hanói, disseram que haviam esperado por aquela transmissão o ano inteiro. “São críticas, mas de uma forma divertida”, disse Pham Minh Hieu, estudante universitário que assistiu ao programa com sua mãe, seu pai, um primo e um avô. Ele disse que o programa se tornou parte da rotina do Ano Novo.
Nguyen Ba Tien, o instrutor de auto-escola, admitiu que não tinha certeza se o programa era censurado, muito menos se tentava defender alguma tese sobre as políticas do governo. Mas, disse ele, “as piadas são engraçadas porque são verdadeiras”.
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