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Proibição ajuda russos

Boris Akimov recusou pedidos de supermercados grandes demais pra ser atendidos por sua cooperativa de pequenos agricultores | Sergey Ponomarev /The New York Times
Boris Akimov recusou pedidos de supermercados grandes demais pra ser atendidos por sua cooperativa de pequenos agricultores (Foto: Sergey Ponomarev /The New York Times)

O telefone de Boris Akimov começou a tocar assim que o presidente Vladimir Putin decretou sanções alimentares amplas, em agosto, barrando a importação de muitos alimentos do Ocidente. Desesperadas para encontrar novos fornecedores, redes de supermercados russos procuraram Akimov, fundador do movimento russo ainda incipiente de agricultura orgânica, para saber quantos frangos e ovos ele poderia fornecer ou se poderia entregar cem toneladas de queijo.

Akimov, 36, foi obrigado a dizer "não". Os cem agricultores com quem ele trabalha estão muito longe de produzir as quantidades pedidas. Sua cooperativa de agricultura orgânica, a LavkaLavka, vende no máximo 12 toneladas anuais de queijo artesanal, por exemplo.

"O governo, as empresas e as pessoas começaram a pensar sobre a origem da comida", comentou. "Se as sanções criarem oportunidades de crescimento para agricultores locais e para o desenvolvimento da agricultura sustentável, será muito bom. Mas não sei se isso vai acontecer."

Em agosto a Rússia proibiu por um ano a importação de carne bovina e suína, peixes, frutas, verduras e laticínios da União Europeia, Estados Unidos, Canadá, Austrália e Noruega, como retaliação contra as sanções econômicas impostas pelo Ocidente depois de o Kremlin ter desestabilizado a Ucrânia. Líderes saudaram as sanções alimentares, dizendo que seriam um modo de os russos finalmente estocarem suas despensas com produtos do próprio país. Em outubro o primeiro-ministro, Dmitri Medvedev, lançou um "mapa do caminho" para a agricultura, dizendo: "O objetivo de nossos esforços é aumentar nossa própria produção agrícola e reduzir nossa dependência de alimentos importados".

A agricultura russa desmoronou duas vezes no século 20.

Imediatamente após a revolução, o novo governo bolchevique organizou o que foram praticamente quadrilhas autorizadas a levar qualquer coisa de comestível que a zona rural pudesse ter, para alimentar as massas pobres urbanas revoltadas.

Após a desintegração da União Soviética, o governo promoveu a agricultura corporativa de grande escala e, basicamente, passou a favorecer a importação de alimentos. O especialista agrícola Vladimir V. Miloserdov disse que mais de 44 milhões de hectares de terra arável deixaram de produzir nos últimos 20 anos. Hoje, a Rússia tem menos gado do que tinha na década de 1940.

O efeito principal das sanções, até agora, tem sido o de elevar os preços dos alimentos. A carne e o frango ficaram mais de 18% mais caros ao longo de outubro, e os preços dos laticínios subiram mais de 15%, segundo a agência federal de estatísticas Rosstat.

"A Rússia não tem como se abastecer sozinha de laticínios, peixe, vegetais e outros alimentos", disse Mikhail Anshakov, da Sociedade de Proteção dos Direitos do Consumidor, que defende a rescisão das sanções alimentares. "A autoimposição de sanções foi uma insensatez."

Anshakov falou da possibilidade de escassez de produtos básicos, como o leite. No inverno, as empresas de laticínios geralmente importam volumes imensos de leite em pó para misturar com o leite fresco, e isso agora será impossível.

Enquanto alguns agricultores se alegraram com suas perspectivas em função das sanções, especialistas preveem que, no longo prazo, a alta dos preços não será suficiente para superar os problemas mais básicos enfrentados por pequenos produtores como os que vendem por meio da LavkaLavka.

Esses problemas incluem a falta de crédito e de terra para ampliar sua produção.

A cooperativa LavkaLavka foi fundada cinco anos atrás, quando Akimov e Sasha Mikhailov folhearam o livro de receitas mais conhecido dos tempos czaristas, "Um Presente para as Jovens Donas-de-Casa". Eles se depararam com vegetais que não conheciam, como nabo-da-suécia, pastinaca e escorcioneira.

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