Quando a prefeita da cidade divulgou o plano que pretende proibir a circulação de veículos a diesel no centro até 2020, enfatizou que a medida era uma necessidade de saúde pública em um país que se preocupa cada vez mais com a qualidade de seu ar.
Se for aprovada pelo Conselho Municipal, depois de discutida em fevereiro, a proposta pode levantar um desafio que poucas metrópoles conseguiram cumprir: manter a maior parte da frota fora de partes da região central.
A medida está entre uma das mais ambiciosas da Europa na tentativa de restringir o volume de partículas prejudiciais presentes no combustível e o número de veículos de alta emissão de poluentes e também o uso dos automóveis no perímetro, cujos engarrafamentos muitas vezes são consequência dos passeios para se ver/conhecer locais como o Palais Garnier e o Champs-Élysées ou simplesmente para se chegar ao trabalho.
No entanto, apesar de elogiada pela saúde pública, ela levanta questões sobre a verdadeira intenção da prefeita Anne Hidalgo, socialista, que pode estar agindo de acordo com os interesses da elite da cidade, totalmente contra o tráfego, e passando por cima das necessidades dos parisienses de baixa renda, gente que mora na periferia e cujos carros provavelmente não passariam nos testes de controle ambiental.
"A linguagem escolhida pela prefeita de Paris para falar da campanha antipoluição indica mais uma guerra contra os proprietários de automóveis do que uma batalha ecológica pela capital", escreveu Le Figaro, um jornal de tendência direitista.
Daniel Quéro, presidente do "40 millions dautomobilistes", grupo que representa os proprietários de veículos e tem mais de 320 mil membros em toda a França, questionou as credenciais socialistas da prefeita.
"O que o barman que mora longe vai fazer quando precisar chegar ao trabalho tarde da noite? A proposta da Sra. Hidalgo é a de uma socialista movida a champanhe que ignora totalmente as dificuldades das pessoas comuns", acusa ele.
Apesar de famosa por sua beleza e de não chegar nem perto do nível de poluição de Mumbai ou Pequim Paris também se preocupa com os riscos à saúde que representam as partículas liberadas pela queima do diesel combustível.
E a cidade já teve sua cota de picos alarmantes: em março, a poluição estava tão pesada que a Prefeitura ofereceu três dias de transporte gratuito nos ônibus e metrô para ajudar a limpar um pouco o ar.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, os vapores do escapamento de um carro a diesel causam câncer pulmonar e alguns especialistas garantem ser mais cancerígeno que o fumo passivo. O estudo da Comissão Europeia de 2005 citado pela Prefeitura afirma que 40 mil pessoas morrem prematuramente todos os anos na França, vítimas das partículas microscópicas presentes no ar.
A França tem uma das maiores frotas a diesel da Europa, onde são muito populares por causa do excelente desempenho.
Em Londres, que aplica multas para evitar os congestionamentos no centro, o prefeito Boris Johnson diz que pretende introduzir uma zona de baixa emissão na área, a partir de 2020, na qual os veículos a diesel e outras vans e motos ecologicamente incorretas teriam que pagar 12,50 libras/dia. Já os ativistas, que pedem a proibição total de carros a diesel, dizem que Paris pode ser a pioneira.
De acordo com uma pesquisa feita este mês, 54 por cento dos moradores da região metropolitana parisiense apoia a proibição de circulação de carros a diesel no centro.
Os críticos à medida, por sua vez, afirmam ser pura hipocrisia já que, até recentemente, os políticos franceses e europeus afirmaram que os carros a diesel eram mais "limpos" e econômicos. Na França, o combustível é mais barato que a gasolina.
Stephen Joseph, do grupo ambiental Campanha por um Transporte Melhor em Londres, afirma que os governos europeus ajudaram a criar uma geração de carros danosos à saúde e agora têm que se retratar.
"A ciência que estuda os efeitos da poluição do ar na saúde, e principalmente o perigo que representa o carro a diesel, está ficando cada vez mais alarmante", afirma.
Contribuiu Aurelien Breeden
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