O último arranha-céu construído em Paris foi inaugurado em 1973: é o Montparnasse Tower, um bloco sem graça de 59 andares, por sinal considerado um desastre.
Até hoje os parisienses brincam dizendo que o prédio oferece a melhor paisagem da cidade, já que é o único lugar de onde ela não pode ser vista. Depois dele, a Prefeitura passou a proibir a construção de edifícios altos.
Agora, entretanto, já considera a criação de uma nova torre de 42 andares, triangular a Triangle Tower, projetada pelos arquitetos suíços Jacques Herzog e Pierre de Meuron para se tornar o destaque da região sudoeste da capital.
Ao longo dos anos, a população aprendeu a aceitar ousadias arquitetônicas como a pirâmide de vidro instalada nos jardins do Louvre e o Centro Pompidou, cujos canos de água e do ar condicionado, multicoloridos, foram mantidos do lado de fora mas a resistência contra os edifícios altos é irredutível.
Para muitos, a proposta desfiguraria uma das características mais belas da cidade: o perfil quase perfeito de obras preservadas do século XIX. E elogiam o trabalho das autoridades locais que, nas últimas décadas, manteve os prédios comerciais como La Défense fora dos limites centrais mas a prefeita atual, Anne Hidalgo, pensa de forma diferente e não esconde a satisfação com a possibilidade de um investimento enorme em uma área de Paris em que não há muito a se ver.
Como está hoje, a região não passa de um grupo de centros de convenções entre a via expressa que circunda a periferia e um bairro residencial sem graça no 15« arrondissement.
Segundo a administração, a torre geraria cinco mil empregos na construção, oferecendo um espaço atraente para novas empresas. Financiada pela Unibail-Rodamco, uma das maiores construtoras europeias, a Triangle Tower deve custar 500 milhões de euros, ou cerca de US$627 milhões.
"Esse projeto tem muitos pontos positivos", diz Jean-Louis Missika, Secretário Municipal de Arquitetura e Urbanismo.
Ele alega que o novo edifício funcionaria como um farol, com grande destaque dentro do bairro.
Olivier de Monicault, presidente da SOS Paris, associação fundada para se opor a projetos arquitetônicos, afirma que a construção do prédio tem muitos pontos negativos, a começar da sombra que faria sobre as casas e edifícios à sua volta.
Talvez, porém, o principal fator de reprovação seja o temor do prejuízo ao visual e ao clima da cidade: "Os turistas não vêm para cá para ver uma Manhattan", constata.
Uma pesquisa realizada em 2013 pelo Instituto BVA concluiu que a maioria dos parisientes 62 por cento é contra novos arranha-céus. E parece que só os mais jovens tendem a ver o Triangle Tower de forma positiva.
"Eu acho que faz sentido em termos econômicos, porque vai criar empregos e deve aquecer o comércio na região", diz Ralph Hippocrate, assessor de imprensa de 28 anos de um canal de TV nacional.
Já para os mais velhos, o novo projeto prova que o governo não aprendeu a lição de Montparnasse.
"O que eu gosto em Paris é o fato de não estar cercada por prédios enormes. Deixar as empresas nos escritório de La Défense já está bom demais", comenta Danielle Outreman, aposentada de 60 anos.
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