Warren Beatty, perfeccionista inveterado, estava em ação, filmando uma cena para um projeto ao qual dedica sua atenção há 40 anos e cujo status atual é quase tão misterioso quanto seu tema: o industrial Howard Hughes.
Beatty frequentemente retorna a um filme quando ele está quase pronto para se demorar sobre algum detalhe, mesmo que pequeno —por exemplo, a imagem de um cão passando por uma porta.
Dessa vez, ele estava novamente trabalhando sobre um filme, ainda sem título, que começou a criar em 1976 e do qual é roteirista, diretor, produtor e ator principal.
Invisível até agora e filmado em boa parte nove meses atrás, o filme pode estar chegando perto de sua conclusão e pode ficar pronto para ser lançado neste ano.
Quando finalmente chegar ao público, o filme poderá coroar a carreira famosa de uma figura astuta de Hollywood —em sua época áurea, Beatty era apelidado de The Pro, ou o Profissional— que ficou famosa por levar atrizes jovens para a cama, correr atrás de Oscars e desafiar a visão predominante do mundo do cinema com filmes pouco convencionais como “Reds” e “Bonnie & Clyde: Uma Rajada de Balas”. Ou então poderá virar uma bizarra nota de rodapé na história de seus caprichos, ao lado de equívocos como “Ishtar” e “Ricos, Bonitos e Infiéis”, seu último grande esforço como ator, lançado 14 anos atrás.
Mas isso só vai acontecer se esse astro e cineasta, de aparência ainda jovem aos 77 anos, parar de acertar os detalhes finais de um filme que tem atores como Lily Collins, Matthew Broderick, Martin Sheen, Annette Bening, a mulher de Beatty, e o próprio Beatty no papel de Howard Hughes.
Beatty se negou a comentar como o filme está avançando. Porém, de acordo com uma pessoa informada sobre a produção, a obra já não trata apenas de Howard Hughes. Em vez disso, passou a ser uma história despreocupada sobre uma mulher criada por pais que são fiéis da Igreja Batista do Sul e que vai para Hollywood em 1958. Ali, é contratada por Hughes, que na época já era magnata do cinema, e assiste à queda de uma ordem moral antiga e à ascensão de uma nova, no início dos anos 1960.
Como a herdeira Sarah Winchester, que nunca parou de trabalhar sobre sua célebre casa misteriosa, Beatty também tem estado ocupado com sua obra favorita em curso. Um representante de relações públicas disse que o cineasta terá prazer em falar sobre o filme quando o concluir.
O autor Peter Biskind se recorda de ter ouvido a mesma coisa quando estava concluindo sua biografia de Beatty, “Star: How Warren Beatty Seduced America”, lançada em 2010.
Em e-mail, Biskind observou que o filme sobre Howard Hughes “ainda não saiu e talvez não saia até o ano que vem, quem sabe”.
E acrescentou: “Se eu tivesse dado ouvidos a Beatty, meu livro ainda não teria visto a luz do dia”.