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Ethan Brown usa próteses feitas por impressoras 3D, que custam muito menos que os aparelhos tradicionais | Kevin Liles/The New York Times
Ethan Brown usa próteses feitas por impressoras 3D, que custam muito menos que os aparelhos tradicionais| Foto: Kevin Liles/The New York Times

Dawson Riverman nasceu sem os dedos da mão esquerda e lutava para desempenhar as mais simples tarefas, como amarrar os sapatos ou segurar uma bola.

“Deus o fez especial”, diziam-lhe seus pais. Mas, aos cinco anos, Dawson exigia, entre lágrimas, saber por quê.

Os Riverman, de Forest Grove, Oregon, não podiam pagar por uma prótese de alta tecnologia para o filho. Além disso, esses dispositivos raramente são feitos para crianças.

Então a ajuda surgiu na forma de um desconhecido com uma impressora tridimensional.

Ele fez uma prótese para Dawson, em azul cobalto e preto, sem cobrar nada da família. Hoje o menino de 13 anos pode andar de bicicleta e segurar um taco de beisebol. Ele pretende ser o goleiro de seu time de futebol.

  • Dawson Riverman usa próteses feitas por impressoras 3D, que custam muito menos que os aparelhos tradicionais
  • Ethan Brown usa próteses feitas por impressoras 3D, que custam muito menos que os aparelhos tradicionais

A proliferação das impressoras 3D trouxe um benefício inesperado: os dispositivos são perfeitos para criar próteses baratas. E um número surpreendente de crianças precisa delas: uma em cada mil crianças nos EUA nasce com falta de dedos, além das que perdem dedos e mãos em acidentes.

Próteses tradicionais podem custar milhares de dólares. Como as crianças crescem rápido, elas são usadas por pouco tempo antes de terem que ser trocadas. Por isso, muitas famílias não podem investir na sua compra, e a maioria das crianças não as utiliza.

Uma organização de voluntários online, a E-nable, pretende mudar isso. Fundado em 2013 por Jon Schull, o grupo põe em contato crianças que precisam de próteses de mãos e dedos, como Dawson, e voluntários capazes de fazê-las em impressoras 3D.

O único custo é o material utilizado para a impressão. Para uma mão protética, ele é de US$ 20 a US$ 50.

Alguns especialistas dizem que as próteses de impressoras 3D funcionam tão bem quanto ou melhor que dispositivos mais caros.

Elas não são projetadas para parecer peças de substituição. Um modelo popular, o Cyborg Beast, parece um membro de um Transformer. E não são feitas para ser escondidas —na verdade, podem ser fabricadas em cores fluorescentes e até brilhar no escuro.

Os dedos se fecham ao se flexionar o punho, o que puxa cabos que funcionam como tendões. Movendo o pulso novamente, a mão se abre. As mãos são impressas em partes que costumam ser montadas pelos voluntários.

“Temos milhares de pessoas em nosso site que se voluntariam para fazer mãos”, disse Schull, pesquisador no Instituto de Tecnologia de Rochester, no Estado de Nova York. “O que poderia ser mais recompensador do que usar sua impressora 3D para fazer uma mão para alguém?”

Uma ferramenta online no site da E-nable, a “Handomatic”, é usada para adaptar a prótese à criança. O pai ou a mãe fornece uma série de medidas e a ferramenta produz um desenho adequado à criança, que pode ser baixado para a impressora. A impressão de cada mão leva cerca de 20 horas. Mais duas ou três horas são necessárias para montá-la.

A montagem das peças não é muito mais difícil do que a de um Lego complexo, disse Ivan Owen, um dos inventores das mãos impressas em 3D, que fez a mão de Dawson. “Colocamos os desenhos em domínio público, portanto não há patente e cada um pode fazer o que quiser com eles”, disse.

Ex-vendedor de suprimentos escolares e artista de efeitos especiais, Owen compartilhou em dezembro de 2011 um vídeo no YouTube de uma mão gigante de boneco que ele tinha feito. Esse vídeo foi visto por Richard Van As, carpinteiro da África do Sul que tinha cortado alguns de seus dedos em uma serra. Ele pediu que Owen o ajudasse a criar uma prótese. Em dois anos, a dupla chegou a um desenho funcional. Eles imaginaram que uma impressora em 3D tornaria a prótese barata e fácil de produzir.

Quando Van As soube de um menino na África do Sul que também precisava de uma mão protética, os dois fizeram uma para ele. A ideia pegou.

Alguns especialistas em projetos em 3D estão colaborando com a E-nable em próteses aperfeiçoadas para crianças. As mãos são leves, com menos de 500 gramas, mas os dedos se movem juntos, não separadamente.

As próteses não funcionam para todas as crianças: as que sofreram amputação na metade do braço, por exemplo, geralmente devem ser atendidas por um protético profissional. Mas, em geral, as crianças são como Ethan Brown, 8, que nasceu com dois dedos a menos na mão esquerda.

Hoje ele usa um Cyborg Beast preto e vermelho. “É ainda mais bacana do que na foto”, disse ele. “Parece o Homem de Ferro ou o Homem Aranha.”

Ele já foi alvo de zombaria por causa de sua deficiência, disse sua mãe, Melina Brown, de Opelika, Alabama, que hoje é voluntária da E-nable. “Agora ele é diferente de um modo bacana, e os outros garotos dizem que também querem uma nova mão.”

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