A mensagem do presidente iraniano, Hassan Rouhani, de intenções pacíficas e desejo por diálogo traz um eco estranho de dez anos atrás, quando o último ex-futuro agente da mudança do país, Mohammad Khatami, expressou o mesmo intento.
A comparação de suas mensagens mostra o quanto o Irã mudou na última década, mas também como a atual abertura diplomática é frágil e quão pouco tempo Rouhani pode ter para negociar um acordo nuclear, enquanto mantém a linha-dura iraniana ao largo.
Rouhani afirmou recentemente que o Irã estava determinado a perseguir o "envolvimento construtivo" com o mundo e que não possuía intenções de adquirir armas nucleares. Em 2004, Khatami declarou: "Sempre que sentirmos que o outro lado nos respeita e não nos força a nada, estaremos preparados para conversar". Ele também descartou a bomba.
Tanto antes quanto agora, o Irã concorda em brecar parte do enriquecimento do urânio e aceitar inspeções das Nações Unidas. Tanto antes quanto agora, os iranianos usaram palcos internacionais, como o recente Fórum Econômico Mundial, em Davos, Suíça, como oportunidade para atrair investidores externos de volta ao país.
Porém, menos de um mês após a promessa de Khatami, o Irã realizou eleições parlamentares frustradas pelo cancelamento, por parte do governo, de milhares de candidatos reformistas. Para Khatami, cuja vitória esmagadora nas eleições de 1997 gerou esperanças de mudança, foi o golpe final às suas credenciais reformistas. No verão seguinte, a diplomacia nuclear falhara e o Irã voltou a religar as centrífugas.
Rouhani enfrenta um caminho igualmente traiçoeiro. Para fechar um acordo nuclear, ele terá de fazer concessões que geraram resistência do Exército dos Guardiões da Revolução Islâmica e outras facções conservadoras. Sua celebridade internacional poderia levar a um confronto com o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei.
Segundo especialistas em Irã, Rouhani tem mais espaço para manobra do que seu predecessor. A dor das sanções internacionais sobre a economia iraniana é uma motivação muito maior para assinar um acordo nuclear do que o medo do país, em 2004, de que os Estados Unidos, que haviam invadido o Iraque no ano anterior, marchasse na direção de Teerã.
Rouhani foi eleito com um amplo consenso de líderes religiosos e militares iranianos para tentar negociar um acordo para reduzir tais sanções. Khatami, que falara a favor da democracia e da sociedade civil, foi um vitorioso heterodoxo cuja eleição pressagiou desacordos com os mulás.
"Em contraste com Khatami, existe uma ampla percepção de que Rouhani está trabalhando com o líder supremo, e não contra ele, para fechar a trégua no exterior e reconciliação em casa", afirmou Karim Sadjadpour, perito em Irã do Carnegie Endowment for International Peace, "think tank" norte-americano.
Rouhani realizou um telefonema histórico para o presidente dos EUA, Barack Obama; o Irã assinou um acordo intermediário com o Ocidente, que paralisou partes de seu programa nuclear; e ele é visto como uma espécie de pistolão na Síria, onde seu suporte ao presidente local, Bashar al-Assad, é um dos motivos pelos quais este se manteve no poder.
Entretanto, ele também mostrou um lado mais calculista do que Khatami. Rouhani declarou à CNN que o Irã não aceitaria desmontar uma centrífuga sequer.
Rouhani, ao contrário de Khatami, mostrou pouco apetite em abrir a sociedade iraniana ou em desafiar a autoridade dos clérigos. Para especialistas, se ele entrar em conflito com o aiatolá Khamenei, será menos por conta do que ele disse do que porque por sua adoção de atividades do primeiro mundo, tais como o Twitter e o Facebook.
"Davos é totalmente aprovado pela teocracia", afirmou Suzanne Maloney, especialista em Irã do Centro Saban para a Política do Oriente Médio do Instituto Brookings. "São outros elementos da estratégia, como a mídia social, que são problemáticos internamente."