Em termos de protestos, esse foi minúsculo: somente um punhado de pessoas se reuniu tranquilamente num prédio condenado que, para eles, não deveria ser derrubado. Porém, num lugar onde a discordância é rara, a manifestação foi vista como ousada, quase radical.
E também inútil, já que o protesto era contra uma empresa controlada pela família real de Mônaco.
"Não existe nada, de verdade, que alguém possa fazer", afirmou Elizabeth Wessel, estilista de moda que se opõe à demolição do Sporting dHiver, um dos últimos prédios art déco remanescentes da região, para dar lugar a um grande empreendimento apoiado pelos interesses comerciais da família real.
Mônaco parece o lugar mais benigno de todos, uma fatia da irrealidade na Rivera Francesa com menos de 2,5 quilômetros quadrados e uma população de aproximadamente 36 mil pessoas, renda per capital superior a US$ 150 mil e zero de índice de desemprego. O país é governado como uma espécie de ditadura consensual pelo príncipe Albert II, ex-playboy de 55 anos de idade.
A revista "Forbes" estimou a fortuna de Albert em cerca de US$ 1 bilhão. Os monegascos o descrevem como afável, mas também parecem relutantes em questionar suas políticas publicamente.
Em poucas áreas a autoridade do Estado é mais sentida do que no setor imobiliário. Muitos grandes projetos daqui estão ligados à Société des Bains de Mer de Monaco, força dominante do principado no setor de entretenimento. A S.B.M., como é chamada, detém 33 restaurantes, cinco cassinos e quatro hotéis. Albert e familiares têm 69 por cento do seu controle. Maior empregador de Mônaco, com 3.700 funcionários, a S.B.M. já começou a demolir o Sporting dHiver. Ele será substituído por um amplo complexo de escritórios, apartamentos de luxo e butiques refinadas.
Quando foi anunciado o plano, críticos tentaram impedi-lo. No Hôtel de Paris, também de propriedade da S.B.M., os empregados deixaram os postos numa greve de uma hora. Os interessados na preservação pressionaram os legisladores no Conselho Nacional, como o Legislativo é conhecido. Eles também escreveram artigos furiosos, realizaram reuniões públicas e deram início a uma petição que atraiu mil assinaturas, mas nada funcionou.
"Nós sabemos que existe somente um chefe", afirmou Eric Elena, integrante do Conselho Nacional. Ele se manifestou no começo do ano contra a demolição do Sporting dHiver, um dos três legisladores a agirem assim. Porém, mesmo com o apoio de todos os seus colegas, pouca coisas eles poderiam fazer. O Legislativo meramente oferece conselhos ao príncipe e ao governo (nomeado pelo príncipe).
Entretanto, mesmo quando os monegascos reclamam da falta de nuances democráticas, eles exaltam as muitas virtudes de Mônaco ruas cintilantes, altos salários, sistema de saúde generoso e crime quase inexistente. Muitos acreditam que "estão sendo sufocados aqui" e "não têm nenhuma liberdade", disse Elena. Todavia, ele acrescentou: "Em termos de padrão de vida, Mônaco ultrapassa todos os outros países".
Roger-Louis Bianchini, jornalista aposentado, se expressou desta forma: "Não é uma ditadura, mas ao mesmo tempo as pessoas têm medo de tomar o poder. Elas têm medo de perder os benefícios".
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