Muitas vezes as pessoas revelam suas emoções particulares em minúsculas expressões faciais, visíveis apenas a um melhor amigo ou a um jogador de pôquer experiente. Agora, um software de computador está usando a análise de vídeo quadro a quadro para ler sutis mudanças musculares que passam por nossos rostos em milissegundos, sinalizando emoções como felicidade, tristeza e nojo.
Com um software de leitura facial, a webcam de um computador pode identificar a expressão confusa de um estudante online e oferecer aulas adicionais. Ou jogos de computador com câmeras podem registrar como o usuário está reagindo a cada ação do jogo e acelerar o ritmo caso ele pareça entediado.
Mas essa tecnologia de rápido desenvolvimento está longe de ser infalível, e levanta muitas questões sobre privacidade e vigilância.
Desde Darwin, cientistas descobriram que muitas expressões faciais são universais. Os seres humanos são incrivelmente consistentes na forma como seus narizes se encolhem, por exemplo, ou como suas sobrancelhas se mexem durante certas emoções. As pessoas podem ser treinadas para perceber pequenas mudanças nos músculos faciais, e agora os computadores também podem ser programados para realizar essas distinções.
A Affectiva, sediada em Waltham, Massachusetts, usou webcams durante 2 anos e meio para acumular e classificar cerca de 1,5 bilhão de reações emocionais de pessoas gravadas enquanto assistiam a vídeos em streaming, explicou Rana el-Kaliouby, cofundadora e diretora científica da empresa. Essas gravações serviram como banco de dados para criar o software de leitura facial da empresa.
A empresa acredita firmemente que as pessoas deveriam dar seu consentimento para serem filmadas, e promete aprovar e controlar todos os aplicativos que surgirem a partir de seus algoritmos, garantiu a Dra. el-Kaliouby.
Até agora, os algoritmos da empresa vêm sendo usados principalmente para monitorar as expressões das pessoas como uma forma de testar propagandas, trailers de filmes e programas de televisão com antecedência.
Esse tipo de software também pode encontrar importantes usos em educação e medicina, incluindo a ajuda a pessoas com autismo que podem ter dificuldades para ler e compreender expressões faciais.
Mas Ginger McCall, advogada e defensora da privacidade de Washington, alerta sobre as implicações de privacidade. "As expressões descuidadas que passam por nosso rosto nem sempre são aquelas que queremos que os outros identifiquem prontamente", explicou McCall.
Ela acrescentou: "Empresas privadas estão desenvolvendo essa tecnologia agora. Mas pode ter certeza de que agências do governo, especialmente relativas a segurança, também estão se interessando".
McCall citou diversos relatórios governamentais, incluindo um deste ano do Instituto de Pesquisa da Defesa Nacional norte-americano que discute a tecnologia e suas possíveis aplicações no controle de segurança em aeroportos.
Segundo ela, os programas podem ser aceitáveis para alguns usos, como serviços de namoro, desde que as pessoas concordem previamente em ter suas emoções gravadas e analisadas. "Mas sem consentimento", concluiu McCall, "tudo fica mais problemático e essa é uma tecnologia que poderia facilmente ser implementada sem o conhecimento das pessoas".