Foi bem na saída desta cidade, entre antigas ruínas gregas, na cidade de Morgantina, que no final da década de 1970, ou no começo dos anos 1980, que acredita-se ter sido encontrada uma estátua de Perséfone de tirar o fôlego. A estátua, que tem mais de dois metros de altura e data de aproximadamente 425 A.C., tornou-se uma das obras de arte mais disputadas do mundo.
A sua jornada da Sicília até o Museu J. Paul Getty na Califórnia e finalmente de volta à Sicília oferece uma visão pungente do mundo da restituição da arte.
Nos últimos anos, os museus dos Estados Unidos e da Europa começaram a restituir artefatos aos seus países de origem. Embora muita atenção tenha sido concentrada no ato da repatriação, o jornal The New York Times acompanhou o que aconteceu posteriormente. Algumas obras assumiram significado maior ao ficarem em exposição novamente nos países que as produziram. Outras foram vítimas da negligência benigna.
Alguns casos de repatriação parecem ser um esforço dos países para afirmar um lugar no palco mundial em vez de simplesmente reclamar a glória passada.
"Se você pegar o nosso patrimônio, iremos ao fim do mundo", disse Luis Jaime Castillo Butters, o vice-ministro da cultura no Peru. "O Peru está levando isso muito a sério".
Em 2012, após anos de conversas ásperas, o Museu Yale Peabody de História Natural de New Haven, em Connecticut, restituiu ao Peru milhares de objetos desenterrados em Machu Picchu há um século pelo explorador Hiram Bingham.
"Agora, o que antes era um sinal de poder é um sinal de fraqueza", declarou Castillo. "Permanecemos na posição moral que é mais forte. Seja quem for que pegou nossos artefatos, nós os queremos de volta porque seu lugar é aqui".
Os artefatos repatriados que incluem cerâmica, ferramentas, joias e ossos humanos e de animais estão agora em exposição em um museu em Cuzco, a cidade mais próxima de Machu Picchu.
"Acho que o caso de Yale é um bom exemplo, porque foi resolvido de forma diplomática, e não através de decisões judiciais", declarou Richard Burger, presidente do Conselho de Estudos Arqueológicos da Universidade de Yale e ex-curador do Museu Peabody.
O caso também preparou o caminho para o Peru recuperar objetos ao redor do mundo, inclusive a coleção de artigos têxteis de Paracas, que a cidade de Gothenburg, na Suécia, está em negociações para devolução.
Em casos raros, a repatriação é organizada de forma que o colecionador conscientemente compra obras identificadas como roubadas a fim de protegê-las contra maiores danos ou contra a destruição. Isso aconteceu em 1985, quando a colecionadora de artes Dominique de Menil comprou alguns afrescos bizantinos do século 13 de um negociante de artes turco após a Igreja Ortodoxa Grega do Chipre e as autoridades do governo de lá identificarem-nas como roubadas. Os afrescos haviam sido subtraídos do pórtico e da redoma da igreja de São Eufemiano em Lysi, em uma parte do Chipre que havia sido anexada à Turquia em 1974.
Dominique de Menil prometeu devolvê-las ao Chipre em 20 anos. O Acervo Menil em Houston, no Texas, pagou pela restauração dos afrescos, o que levou anos. A instituição construiu um espaço minimalista sob encomenda para eles perto de sua Capela Rothko e as colocou em exposição lá em 1998. O museu esperava que o Chipre estendesse o acordo e permitissem a eles a continuação da exposição da obra.
Porém, em 2012, o Chipre solicitou a devolução, e o Acervo Menil cumpriu a sua promessa. "É claro que ficamos tristes, mas do ponto de vista moral, ficamos muito orgulhosos porque eticamente, isso era exatamente o que precisava acontecer", declarou Josef Helfenstein, o diretor do Acervo Menil.
Os afrescos estão agora em exposição no Museu Bizantino da Fundação do Arcebispo Macário III em Nicósia, o segundo museu mais visitado do Chipre, "até o dia em que serão colocados novamente na capela", declarou John Eliades, o diretor do Museu Bizantino. Isso pode não ser tão fácil.
Assim como o Acervo Menil, a maioria dos museus ocidentais agora reconhece a forte causa ética de restituir as antiguidades, especialmente se ficar constatado que elas deixaram o país de origem sob circunstâncias duvidosas, como no caso da deusa de Morgantina. O Museu J. Paul Getty, que comprou a estátua em 1988 por 18 milhões de dólares, devolveu-a à Itália em 2011 após promotores italianos descobrirem que ela havia sido roubada.
Contudo, alguns questionam se certos museus têm a infraestrutura para proteger os tesouros que foram devolvidos ou para torná-los acessíveis. Os críticos argumentam que tais perguntas indicam uma postura neocolonial.
A deusa de Morgantina está em exposição atualmente no museu arqueológico de Aidone. A ideia era espalhar os tesouros italianos por todo o país e permitir que o público visse a obra no contexto onde ela foi encontrada. A estátua está agora em uma estrutura de metal no museu.
Numa viagem de aproximadamente 90 minutos do oeste de Catania, Aidone fica na província de Enna, a mais pobre de Sicília. O transporte público não é confiável, e as estradas às vezes são fechadas.
No ano passado, 30.767 pessoas visitaram o museu, comparados a 400.000 pessoas que visitaram o Museu J. Paul Getty em 2010, o último ano da estátua por lá.
Cortes orçamentários gerais deixaram o museu com poucos recursos para manutenção, para segurança e publicidade, declarou Laura Maniscalco, arqueóloga e diretora do museu de Aidone.
Na Turquia, a estátua de "Hércules Cansado", datando do segundo século A.D. e cuja metade estava no Museu de Belas Artes de Boston até 2011, está em um museu em Antália, cerca de 800 quilômetros ao sul de Istambul.
Em 2011, o museu de Boston concordou em devolver o torso da escultura de Hércules após acadêmicos determinarem que ele se encaixava na parte inferior da estátua escavada em 1980 em Perge, no sudoeste da Turquia, e já estava em exposição no museu arqueológico em Antália.
Com grande fanfarra, o Primeiro Ministro Tayyip Erdogan levou o torso de volta à Turquia no avião do governo.
Poucos casos de repatriação foram tão contenciosos quanto o da cratera de Eufrônio, um vaso do antigo artista grego Eufrônio. Encontrado em 1971 em escavações ilegais em uma tumba etrusca em Cerveteri, ao norte de Roma, o vaso foi comprado pelo Museu Metropolitano de Arte de Nova York em 1972 de um negociante de antiguidades. O vaso ficou em exposição no museu durante anos.
Após muita conversação, em 2006, o Museu Metropolitano consentiu devolver a cratera e 21 outros artefatos à Itália, que celebrou o acontecimento uma forte repreensão aos invasores de tumbas que ajudaram a subtrair centenas de obras de arte da Itália para a venda no mercado estrangeiro.
Hoje, a cratera de Eufrônio fica em uma vitrine de vidro no Museu Nacional Etrusco no parque de Villa Borghese em Roma. Embora grupos escolares visitem o vaso, em uma tarde recente, havia poucos visitantes.
Considerado um dos mais belos exemplos da pintura grega antiga, o vaso exibe os deuses Mercúrio, Hipnos e Tanatos carregando o corpo do guerreiro ferido Sarpedão, filho de Zeus, de volta à terra natal para o enterro após ser morto por Pátroclo na Guerra de Tróia.