Para os amantes da arte, e com certeza para os colecionadores que pagam milhões de dólares por uma obra em leilões de arte, a pop art e as imagens que se tornaram suas marcas registradas —retratos de Marilyn, pontos Ben-Day, garrafas de Coca-Cola, lábios pintados com batom—viraram imagens clássicas do século 20, tão canônicas quanto o cubismo.
Mas muitos artistas que trabalhavam fora dos EUA durante o nascimento da pop art, nos anos 1960, viram o movimento como uma espécie de rolo compressor.
“Naqueles anos”, comentou Thomas Bayrle, pintor alemão que criou retratos de Mao anos antes de Andy Warhol, “era como um jogo de futebol em que um dos times sempre ganhava e o outro não acertava um único gol.”
Uma exposição em cartaz no Walker Art Center, em Minneapolis, “International Pop”, demonstra não apenas que a pop art surgiu em inúmeras versões nacionais em várias partes do mundo, mas que o próprio termo “pop art” se tornou estreito demais.
Em setembro a Tate Modern, em Londres, vai apresentar a exposição “The World Goes Pop”. Vistas em conjunto, essa exposição e a de Minneapolis provavelmente vão pôr em destaque dezenas de artistas que não ganharam a fama que mereciam —artistas do Japão, América do Sul, Leste Europeu e até do Oriente Médio.
“O enfoque aqui não é sobre um estilo, não é sobre os EUA e não é sobre onde a arte pop teria começado”, disse Darsie Alexander, curador da exposição americana.
“Todo o mundo sabia que algo incrivelmente novo estava acontecendo na sociedade com a cultura de massa e as imagens, e todo o mundo estava tentando encontrar uma maneira de descrever o que estava acontecendo.”
“Sempre protesto quando sou acusado de ser pop —essa não é minha festa”, disse o brasileiro Antonio Dias, cujo trabalho marcante “O Meu Retrato” (1966), uma amálgama de escultura e pintura, faz parte da mostra.
Trabalhos que parecem pop art assumiram formas distintas em diferentes lugares. A colagem sem título da britânica Pauline Boty que está na exposição parece desafiadoramente feita à mão, sem o caráter bem executado e superficial da pop art americana ou a arrogância de americanos como Robert Rauschenberg, cujos trabalhos parecem mais inacabados.
Uma pintura de 1964 do islandês Erró, “Foodscape”, é um confusão colorida de pacotes de comida processada que parecem algo saído de uma tela de Bosch e dão a impressão de estar se preparando para travar guerra com as inexpressivas latas de sopa de Warhol.
Thomas Bayrle, 77, que fazia arte em Frankfurt e arredores no início da década de 1960, era profundamente fascinado pelo modo como, visto desde onde ele estava, o comunismo e o capitalismo americano pareciam semelhantes.
“Eu via o absurdo do leste europeu, onde havia multidões de pessoas numa marcha oficial, e do Ocidente, com seus estacionamentos enormes, shoppings imensos e vastos lixões”, ele disse.
No Japão, onde a ocupação americana acabou em 1952, Ushio Shinohara fazia algo que poderia ter sido descrito como punk, se o conceito já existisse na época.
Ele vasculhava revistas e jornais em busca de exemplos de arte americana e criava apropriações em série das imagens granulosas em preto e branco que encontrava, dizendo a seus colegas artistas: “Ganha quem imitar primeiro”.
Muitos dos artistas que ficaram de fora da história foram mulheres, incluindo americanas como Rosalyn Drexler, cuja pintura “Sorry About That” está na mostra. Drexler, hoje com 88 anos, disse estar animada por receber atenção, mas que o reconhecimento chegou um pouco tarde.
Para Darsie Alexander, ainda há muita pop art que ainda é desconhecida pela maioria do público. Sua esperança é que essas exposições instiguem uma nova visão do movimento de arte mais reconhecível dos últimos 50 anos.