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Sir Elvis faz apresentação de música country em Nairóbi; gênero foi levado ao Quênia por colonos europeus na década de 1940 | Will Swanson/The New York Times
Sir Elvis faz apresentação de música country em Nairóbi; gênero foi levado ao Quênia por colonos europeus na década de 1940| Foto: Will Swanson/The New York Times

Vestindo camisa xadrez, jeans, botas e um chapéu de caubói preto, Sir Elvis afinou seu violão no Reminisce Bar and Restaurant. Então, com um sinal para a banda, começou a cantar o sucesso country de Don Williams “It Must Be Love”. O público se levantou para dançar.

Essa seria uma visão comum em qualquer bar rural dos EUA. No entanto, ali não era o leste do Texas, e sim Nairóbi, na África oriental, onde a música country americana tem um grupo de fãs incrivelmente sólido.

“Eu cresci ouvindo música country, meus pais adoravam”, disse Elvis Otieno, 37, que talvez seja o mais conhecido artista country do Quênia. Sir Elvis, como ele é conhecido no palco, nasceu no ano em que Elvis Presley morreu e foi batizado em sua homenagem.

Os quenianos escutam muitos gêneros de música popular americana. Porém, foi o country que mais se difundiu.

A Kenyan Broadcasting Corporation tem um programa de rádio semanal chamado “Sundowner” [ao pôr-do-sol] que costuma apresentar música country. Um canal de televisão particular, o 3 Stones, transmite um programa chamado “Strings of Country” [cordas do country]. O bar Reminisce e o Galileo Lounge promovem números musicais do gênero. O primeiro festival de música country no Quênia, o Festival Country Boots and Hats, ocorreu em março.

Cada vez mais cantores quenianos compõem músicas sobre amor e saudade usando esse ritmo. Exemplos do fenômeno são Esther Konkara, cantora apaixonada por Dolly Parton, Sir Elvis, que planeja um disco gospel, e Carlos Piba, que espera um dia gravar música country em suaíli, a língua nacional.

A esperança máxima desses artistas, por mais improvável que seja, é de cantar com seus heróis. “Se eu pudesse subir no palco com Charley Pride, Don Williams ou Garth Brooks...”, disse Sir Elvis, “seria um sonho realizado.”

A música country americana encontra plateias ao redor de todo mundo, tendo sido apresentada por soldados americanos no Japão, na Coreia, na Tailândia e na Alemanha e por filmes de Hollywood. Ao longo dos anos, fãs surgiram em lugares inesperados como Austrália, Jamaica e África do Sul.

No Quênia, a popularidade da música country data dos anos 1940 e abrange todas as classes sociais, sendo especialmente pronunciada nos planaltos centrais, o cinturão agrícola do país. Os colonos europeus, na maioria britânicos, transportaram a música para cá durante a era colonial no Quênia, que terminou em 1963.

Segundo John Obongo, o apresentador de “Sundowner”, o apelo do country vem das letras relativamente simples e do ritmo mais lento. “Algumas músicas pop são rápidas demais.”

David Kimotho, diretor da 3 Stones TV, disse que os quenianos “se identificam com as histórias das canções” —histórias de amor, de família, de cavalheirismo, de relacionamentos, de estradas e sobre o campo e a vida dos trabalhadores.

Um gênero musical queniano chamado Mugithi, desenvolvido no centro do país e cantado com acompanhamento de violão na língua kikuyu, tem ritmo country, dando a seus ouvintes uma afinidade pela música country americana moderna.

Os artistas mais apreciados no Quênia são Jim Reeves, Kenny Rogers, Parton e Pride, disse John Andrews, diretor da A.I. Records, agente local da Sony Music Entertainment. O country representa pelo menos 15% de todos os CDs vendidos no país, segundo ele.

Sir Elvis nasceu no centro do país e tocar violão era seu hobby quando criança. “Meus pais não queriam que eu entrasse na música porque tinham a ideia de que os músicos são rebeldes, bêbados e drogados”, disse Sir Elvis.

Ele viveu por algum tempo na Noruega e nos Estados Unidos, antes de voltar ao Quênia, onde começou tocando em pequenos bares. Mais tarde, passou a ser convidado para se apresentar em países vizinhos. “Demorou, mas agora deu certo”, disse ele.

Konkara, 27, cresceu em uma aldeia ao norte de Nairóbi e cantava gospel em kikuyu em uma igreja. “Tínhamos batatas, milho e feijão. A única coisa que não tínhamos eram cavalos”, disse ela, comparando sua aldeia com o oeste americano.

“Assim como Dolly Parton canta sobre as Smoky Mountains, quero cantar sobre os montes Kiambu”, disse ela.

A popularidade da música country animou CC Lamondt, músico country da África do Sul que vive no Quênia, a organizar o festival em Nairóbi. O evento de um dia se realizou no terreno de uma pista de corrida. Muitos fãs usavam jeans, botas, chapéus de caubói e coletes de couro.

Mary Kimani, 48, analista de informática que viveu nos Estados Unidos durante três anos —e usava uma grande fivela de cinturão com cristais comprada no Texas—, estava feliz.

“Essa é a música que passa na prova do tempo”, disse.

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