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Um censo no Afeganistão pode levar anos para ser concluído, em parte porque muita gente não tem sobrenome. Mohammad Akhtar, comandante aposentado da polícia, escolheu “Naibkhil”, o nome de sua tribo | Bryan Denton para The New York Times
Um censo no Afeganistão pode levar anos para ser concluído, em parte porque muita gente não tem sobrenome. Mohammad Akhtar, comandante aposentado da polícia, escolheu “Naibkhil”, o nome de sua tribo| Foto: Bryan Denton para The New York Times

Como muitos afegãos, Khaliddudin tem um nome só, mas já escolheu aquele que vai acompanhar o primeiro: "Mayroj" que, segundo explica, todo orgulhoso, significa "mais alto".

Como funcionário do censo para o governo, porém, Khaliddudin tem mais o que levar em consideração além do próprio nome: ele está na vanguarda da iniciativa pública para encorajar todo mundo no país a adotar um sobrenome.

É uma empreitada ambiciosa, que quer mudar as convenções locais — tão flexíveis que até o novo presidente recentemente lançou uma diretiva para revelar o nome que pretende usar. Como candidato, era Ashraf Ghani Ahmadzai; como líder, será simplesmente Ashraf Ghani.

Todo dia, Khaliddudin, que calcula ter uns 28 anos (os afegãos também escolhem a própria data do aniversário), e sua equipe vão de casa em casa para tentar convencer os moradores a responder a um questionário. Realizar um recenseamento não é uma tarefa fácil, até mesmo em países desenvolvidos, mas no Afeganistão há dificuldades muito peculiares — como evitar o Talibã e atravessar as Montanhas Pamir e Hindu Kush, em cujos vales vivem inúmeras famílias.

Após longos atrasos, alarmes falsos e o desperdício de milhões de dólares em ajuda estrangeira, finalmente o grande censo afegão está sendo realizado. Na verdade, o processo está mais para um exercício de contagem de corpos, mas as autoridades esperam que pelo menos evite a fraude eleitoral que marcou o pleito eleitoral deste ano.

As equipes, que geralmente incluem um homem e uma mulher, passam um tempo considerável esperando na frente de portas que nunca se abrem – quase sempre por causa do "purdah", o costume de isolar as mulheres dentro de casa, longe daqueles que não são familiares ou maridos.

Não faz muito tempo uma das duplas bateu em um dos apartamentos do condomínio Mikrorayon, complexo construído pelos soviéticos, e que hoje abriga parte da classe média. Ouviu-se algum movimento.

"O chefe da família não está em casa, então não podem responder as perguntas. É um problema que enfrentamos toda hora", explica o supervisor Masoud Rahmani.

Em outro bairro, na região norte, uma mulher abriu a porta, mas só para entregar o telefone a um dos funcionários de Khaliddudin. Do outro lado da linha estava o marido, que pediu que voltassem mais tarde.

Desde que os funcionários começaram a recensear a cidade, no início do ano, registraram 70 mil pessoas, ou o equivalente a dois por cento da população.

"Nossa intenção é alcançar 70 por cento em cinco anos", revela Homayoun Mohtaat, diretor do projeto.

O último censo, de 1979, contou 14,6 milhões de pessoas, mas o Departamento de

Registro da População atual mantém o registro de 17 milhões de cidadãos.

Mohtaat calcula que o número final ficará entre 35 e 40 milhões de afegãos.

Cada um que tiver participado da contagem também receberá um cartão com chip, contendo dados biométricos, tais como impressões digitais e escaneamento da íris.

Entretanto, muitos temem que a nova identidade afete o equilíbrio étnico entre pashtuns, tajik, hazaras, uzbeques e outros – mas a pergunta mais difícil deve ser mesmo a clássica "Como você se chama?".

Khaliddudin explica que vai usar a versão resumida do nome do pai, Mayrojuddin, embora vários de seus parentes tenham optado por Hanifi, por causa do avô.

"Contei para o meu pai que escolhi o nome dele para ser meu sobrenome. Não falou nada, mas sei que ficou bem satisfeito", explica.

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