A poucos quilômetros do centro de Cabarete, a atividade turística pulsa de forma vibrante: restaurantes à beira-mar oferecem pratos variados, de ceviche a pizza; turistas carregam pranchas de surfe e ostentam suas pochetes; a areia branca acena para os veranistas.
Porém, aqui, neste canto abjeto da ilha, medo e ódio são os sentimentos mais comuns.
O Jardín Deportivo, que já foi um ponto luxuoso para turistas interessados em alternativas aos resorts caribenhos do tipo “all-inclusive”, é uma relíquia duas vezes abandonada —e também um testemunho da profunda mudança em curso na República Dominicana.
Construído fora do perímetro turístico da cidade, o Jardín ocupa um terreno que, no começo da década de 2000, parecia destinado a acompanhar a crescente atividade turística da região.
No entanto, esse impulso foi interrompido, os turistas pararam de vir até aqui e o proprietário, de quem pouco se sabe, sumiu.
A flora e a fauna ocuparam o pátio central. As paredes em cores pastel desbotaram. O bar, concebido para ser o centro nevrálgico do local, parou de funcionar. Fios elétricos, lustres e até portas foram arrancados e colocados à venda.
Por volta de 2010, porém, o Jardín recebeu uma inesperada injeção de vida. Depois do terremoto no Haiti, uma avalanche de novos moradores transformou o lugar: trabalhadores migrantes, fugindo do desespero na sua terra natal.
O condomínio, novamente vibrante, ficou marcado por uma alegre deterioração. Ocupantes haitianos transformaram os escritórios em botequins com petiscos e cerveja. Os moradores compraram portas novas e encheram os quartos de hotel com móveis e fotos de família. A antiga loja de artigos para tênis virou discoteca.
Nas últimas semanas, porém, após terminar o prazo dado pelo governo dominicano para que todos os imigrantes indocumentados se cadastrassem, o Jardín Deportivo voltou a ficar abandonado. A maioria dos moradores haitianos fugiu, deixando para trás roupas, móveis e objetos pessoais.
A iniciativa do governo do presidente Danilo Medina, que em breve disputará um novo mandato, pode levar à expulsão de dezenas de milhares de haitianos que vivem na República Dominicana —inclusive daqueles que nasceram no país, mas não tem como comprovar.
Mais de 40 mil pessoas deixaram o país por conta própria desde o final do prazo para o cadastramento, em 17 de junho, segundo o governo. No final de junho, apenas alguns poucos haitianos permaneciam no resort —a maioria dos quais por falta de recursos para ir embora.
Os moradores receberam a reportagem com uma permanente desconfiança, recusando-se a responder perguntas, ou respondendo com outras perguntas, ou exigindo que os mais afáveis entre eles fiquem quietos.
Julissa, que se recusou a revelar seu sobrenome, disse que não há tensão entre os haitianos restantes e os dominicanos. Ela lamentou que um advogado dominicano estivesse alugando quartos dos quais não tinha prova alguma de ser o proprietário. Ele havia sido o primeiro a estimular os medos dos seus “inquilinos” haitianos, de quem cobrava aluguéis abusivos.
Os ocupantes haitianos relataram que o advogado os extorquiu e tentou vender seus serviços para ajudá-los a se naturalizarem dominicanos. Em vez disso, a maioria optou por ir embora.
Repetidas tentativas de localizar o advogado foram infrutíferas.
Outras coisas estranhas andaram acontecendo.
Moradores haitianos que permaneceram no local disseram que, dias antes, alguns homens haviam aparecido nas suas portas no meio da noite, gritando ameaças e mandando-os embora.
Em julho, os temores da comunidade foram confirmados: a polícia expulsou todo mundo do hotel.