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Repensando a militarização da polícia

Obama pediu uma revisão dos programas que fornecem armamentos militares a polícias locais. Confronto em Ferguson, Missouri | Eric Thayer para The New York Times
Obama pediu uma revisão dos programas que fornecem armamentos militares a polícias locais. Confronto em Ferguson, Missouri (Foto: Eric Thayer para The New York Times)

Abalado por imagens de manifestantes entrando em choque como policiais fortemente armados em Missouri nos dias depois de um jovem desarmado ser morto por um policial, o presidente Obama ordenou uma revisão abrangente de uma estratégia, adotada nos últimos dez anos, de equipar polícias locais com coletes à prova de bala e outras roupas de proteção, caminhões resistentes a minas terrestres, silenciadores e fuzis automáticos. A informação é de autoridades sêniores.

A revisão liderada pela Casa Branca vai analisar se o governo deve ou não continuar a fornecer esses equipamentos e, se sim, se as forças locais têm treinamento para fazer uso apropriado deles, segundo autoridades.

Nas semanas recentes, quando manifestantes em Ferguson, Missouri, se recusaram a sair das ruas, atiraram coquetéis molotov ou chegaram perto demais de um policial, a resposta foi rápida e implacável: gás lacrimogêneo e balas de borracha.

Para o resto do mundo, as imagens fizeram Ferguson parecer um lugar que podia fazer parte de um canto do Leste Europeu mergulhado no caos. Com isso, de todas as partes do espectro político saiu um chamado pela desmilitarização das forças policiais dos Estados Unidos.

"Num momento em que é preciso tentar reconstruir a confiança entre a polícia e as comunidades locais", disse o secretário da Justiça, Eric Holder Jr., "me preocupa profundamente o fato de que o uso de equipamentos e veículos militares transmite uma mensagem contrária."

A revisão abre a possibilidade de mudanças no modo como Washington arma as agências policiais locais. Após os ataques de 11 de Setembro, o governo passou a ver as polícias como as forças na linha de frente de uma nova guerra ao terrorismo. Embora se preveja que elas conservem esse papel, podem ser efetuadas mudanças no sistema pelo qual dotações federais e um programa de equipamentos militares excedentes enviaram equipamentos e dinheiro a departamentos de polícia, muitas vezes sem estipular condições para seu uso.

O governo deu bilhões de dólares a agências policiais locais, por meio do Departamento de Justiça e do Departamento de Segurança Interna. O dinheiro pagou por computadores, veículos blindados, equipamentos de proteção pessoal, armas, treinamento e mais.

Os americanos tiveram um vislumbre desses equipamentos em Ferguson. "O país inteiro e todos os deputados e senadores viram, e, em algum nível, isso deixou todos nós incomodados", comentou a senadora democrata Claire McCaskill, do Missouri. "Agora é hora de analisar essas políticas."

A revisão da Casa Branca também vai incluir uma análise de um programa do Departamento de Defesa que transfere equipamentos militares excedentes para departamentos policiais, incluindo aviões, óculos de visão noturna e caminhões preparados para sobreviver a bombas enterradas ao lado de estradas.

Num comunicado divulgado em 23 de agosto, Holder reconheceu que equipamentos em grande número "foram enviados às forças policiais locais porque, cada vez mais, pedia-se a estas que auxiliassem no contraterrorismo".

Mas, ele acrescentou, "faz sentido analisar se equipamentos de estilo militar estão sendo adquiridos para as finalidades corretas e se há treinamento adequado para quando e como usá-los".

Muitos parlamentares pediram o fim das medidas de segurança nacional, incluindo a transferência de equipamentos militares, que consideram ser uma infração dos direitos civis.

Mas o deputado republicano Peter T. King, de Nova York, disse que não há provas de que dar armas e equipamentos pesados às polícias agrava a situação ou conduz a abusos. King disse que discorda de quem possa dizer "que a polícia é de alguma maneira a causa do que está errado".

Colaboração de Julie Bosman

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