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Nova York

Revistas policiais ainda amedrontam o Brooklyn

Policiais de Nova York adotaram a estratégia de alta visibilidade em áreas perigosas. Abaixo, a partir da esquerda: Shawn Pitts, Ernest Johnson, Pharaoh Pearson e Ernest Payne diante do conjunto habitacional Tilden Houses | Victor J. Blue
Policiais de Nova York adotaram a estratégia de alta visibilidade em áreas perigosas. Abaixo, a partir da esquerda: Shawn Pitts, Ernest Johnson, Pharaoh Pearson e Ernest Payne diante do conjunto habitacional Tilden Houses (Foto: Victor J. Blue)
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Nos conjuntos habitacionais da zona leste do Brooklyn, em Nova York, alguns rapazes deixaram de cumprimentar-se segurando a mão um do outro nas duas mãos. Dizem que têm medo que o gesto seja confundido com uma transação envolvendo drogas. Amigos a caminho do mercadinho do bairro andam separadamente, com receio de atrair a atenção da polícia se caminharem em grupo.

Esses são os efeitos duradouros de anos de revistas policiais de rapazes, principalmente em bairros de população negra e latina. Um tribunal federal concluiu no ano passado que em muitos casos não houve justificativa legal para a ação da polícia.

Hoje a política do "stop and frisk" (parar e revistar), conforme praticada em Nova York, foi eliminada, derrotada por uma enxurrada de ultraje público e pressão política, sem falar nas contestações legais que culminaram com a decisão judicial de que o aumento drástico do "stop and frisk" feito pela polícia na década precedente foi anticonstitucional.

A polícia ainda mantém presença visível no bairro de Brownsville, no Brooklyn, onde a grande extensão de conjuntos habitacionais públicos fez da área um campo de testes do uso da tática pela polícia para frear a violência armada. Como parte de uma nova estratégia intitulada Onipresença, os policiais agora ficam postados nas esquinas, como sentinelas. Apenas raramente barram jovens e os revistam para verificar se portam armas.

Mas os moradores de Brownsville ainda tratam os policiais com cautela. Algumas pessoas dizem que vão para casa mais cedo, porque a escuridão aumenta não apenas o perigo de violência, mas também as chances de ser parado e revistado pela polícia. Algumas pessoas hesitam em visitar amigos ou familiares em conjuntos vizinhos, onde correm o risco de ser paradas sob suspeita de estarem invadindo o lugar. E, em lugar de apertos de mão entusiasmados, as pessoas se cumprimentam encostando seus punhos ou cotovelos.

"A gente não encosta mais as palmas das mãos abertas, apenas os cotovelos", explicou recentemente o promoter de clubes Pharaoh Pearson, 38 anos, sentado no pátio do conjunto Tilden Houses, em Brownsville. "Isso geraria uma revista automática", explicou um de seus amigos, o operário Erneste Payne.

Os casos de pessoas paradas na rua aumentaram muito nos anos em que Michael R. Bloomberg administrou Nova York; a tática tornou-se uma das bases de seus esforços para combater as armas. Raramente eram encontradas provas de atividade criminal, mas ser revistado virou ocorrência corriqueira na vida de rapazes negros e hispânicos em bairros de alta criminalidade.

Quando Bill de Blasio assumiu a prefeitura, este ano, a prática já estava perdendo força. Mas há um limite à rapidez com que promessas de campanha e decisões judiciais conseguem mudar o sentimento em relação à polícia, especialmente em bairros onde ela é uma presença perpétua.

Embora Brownsville hoje seja um lugar mais seguro do que era no início dos anos 1990, quando a delegacia de polícia local, a 73ª, registrou mais de 70 homicídios em alguns anos, ainda é um lugar perigoso. Até 7 de setembro deste ano, mais de 13 homicídios e 400 agressões criminais tinham sido registradas na área.

A nova estratégia para o policiamento dos conjuntos habitacionais está ganhando forma. Os policiais ficam em postos, muitos deles na periferia do Tilden Houses ou do vizinho Brownsville Houses. Para elevar sua visibilidade, estacionam suas viaturas na calçada e ligam as luzes piscantes do teto delas.

"Eles passam a noite inteira aqui", disse um jovem de 20 anos que se negou a dar seu nome. Mas, se a polícia tem parado e revistado menos pessoas nas ruas, parar pessoas por questões como congregar-se diante da entrada de um prédio ainda faz parte fundamental do policiamento dos conjuntos habitacionais.

A aplicação da lei para punir infrações menores vem sendo um dos marcos do comissário de polícia de De Blasio, William J. Bratton, e ele dá poucos sinais de mudar de tática, mesmo depois de Eric Garner ter morrido em julho após uma escaramuça com policiais em Staten Island que tentavam prendê-lo por vender cigarros avulsos, sem impostos.

Hoje, adolescentes e rapazes de Brownsville vivem à sombra de anos de encontros com a polícia, que os acostumaram a ter de provar sua inocência à polícia. "Às vezes deixo que me revistem só para não pensarem que eu tenho alguma coisa a esconder", disse Tijay Lewis, 15 anos. "Digo que não estou portando armas. Eles falam ‘temos que verificar’."

Tijay contou que já foi parado dez vezes desde que completou 13 anos. "Sou negro, por isso me param muitas vezes", ele disse. Mas observou que não é barrado há alguns meses. "O clima está um pouco diferente."

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