O K5 Autonomous Data Machine, da Knightscope, levanta questões sobre a substituição de seguranças humanos e a invasão de privacidade| Foto: Knightscope

O vigia noturno do futuro tem um metro e meio de altura, pesa 140 quilos e se parece muito com R2D2, o robô da saga "Guerra nas Estrelas".

CARREGANDO :)

Uma empresa em Sunnyvale, na Califórnia, desenvolveu um robô móvel, conhecido como K5 Autonomous Data Machine, como ferramenta de segurança para empresas, escolas e bairros.

"Fundamos a Knightscope depois do que aconteceu na escola Sandy Hook", afirmou o cofundador William Santana Li, referindo-se ao ataque armado de dezembro passado em Newtown, Connecticut. "É impossível termos um segurança armado em cada escola."

Publicidade

Mas o que para uns é um caminho tecnológico para comunidades e escolas mais seguras, para outros é um ponto de entrada em um mundo orwelliano e sem privacidade.

"Esse robô é como o gêmeo perverso do R2D2", disse Marc Rotenberg, diretor do Centro de Privacidade e Informação Eletrônica, grupo de direitos de privacidade localizado em Washington.

E o acréscimo de uma máquina como essa ao mercado de trabalho poderia ter implicações para a classe média.

O salário mínimo nos Estados Unidos é de US$ 7,25 por hora. Chegando substancialmente abaixo desse custo, o robô vigia da Knightscope levanta questões sobre se a inteligência artificial e as tecnologias de robótica estariam começando a afetar igualmente o topo e a base da força de trabalho.

Existem cerca de 1,3 milhão de seguranças particulares nos Estados Unidos, em sua maioria mal pagos – a média é de US$ 23 mil anuais, segundo o Sindicato Internacional de Funcionários de Serviços. No geral, eles acabam vulneráveis a alternativas de automação de baixo custo.

Publicidade

O K5 é obra de Li, ex-executivo da Ford Motor Company, e Stacy Dean Stephens, ex-policial no Texas. Eles escolheram posicionar o K5 não como um matador de empregos, mas como um sistema que irá aprimorar a função do guarda de segurança – mesmo se menos seres humanos estiverem empregados.

"Queremos dar aos humanos a habilidade de fazer o trabalho estratégico", explicou Li, descrevendo um analista altamente qualificado que controlaria um exército de robôs de segurança.

O robô ainda é um trabalho em andamento. O sistema terá uma câmera de vídeo, sensores térmicos de imagens, um telêmetro a laser, radar, sensores de qualidade do ar e um microfone. Ele também terá uma autonomia limitada, como a capacidade de seguir uma rota pré-planejada. Pelo menos por enquanto, ele não incluirá recursos avançados como reconhecimento facial.

O K5 também levanta questões sobre a vigilância em massa, algo que já gerou um intenso debate nos Estados Unidos e Europa com a expansão de circuitos fechados de televisão nas ruas e em outros lugares. Os fundadores da Knightscope, no entanto, têm uma noção radicalmente diferente envolvendo a previsão de crimes.

Li imagina um mundo de robôs K5 patrulhando escolas e comunidades, no que seria a versão do século XXI da patrulha do bairro. Os robôs móveis serão eventualmente conectados via wireless a um servidor central de dados, onde terão acesso a "Big Data" – tornando possível reconhecer rostos, placas de veículos e outras anomalias suspeitas.

Publicidade

Segundo Rotenberg, essas habilidades afetariam rapidamente os direitos de privacidade tradicionais. "Existe uma grande diferença entre possuir um dispositivo como esse em sua propriedade privada e num espaço público", argumentou ele. "Ao entrar num espaço público e coletar gravações de imagens e sons, você adentra outro domínio. Esse é o tipo de vigilância universal que vem deixando as pessoas inquietas."

Li acredita que poderia contornar essas objeções tornando os dados produzidos por seus robôs disponíveis a qualquer um. "Por mais que as pessoas se preocupem com o Grande Irmão, isso diz respeito a colocar a tecnologia nas mãos do público", disse ele.

Isso é basicamente uma reprise da discussão de privacidade sobre o sistema Street View, do Google. Mas enquanto os carros do Google capturavam imagens fixas de maneira infrequente, um portal generalizado de áudio e vídeo patrulhando um bairro seria na verdade um Street View em tempo real.

Rotenberg reconheceu que a aparência do K5 é bastante afável. "Ele não se parece com Arnold Schwarzenegger", disse ele. "A menos que o ator tenha sido enrolado e moldado num formato de bola."