Se você algum dia estiver sentado ao lado do roqueiro Nick Cave em um avião, não se preocupe se ele pegar o saquinho disponibilizado para passageiros com enjoo. É mais provável que ele só queira escrever sobre o saquinho.
Seu novo livro, “The Sick Bag Song”, é um poema sobre suas viagens pela América do Norte. As origens são evidentes pelo título.
Cave começou a trabalhar no livro no ano passado, quando estava em um avião no início de uma turnê que o levaria para 22 cidades. Ele teve uma inspiração repentina e pegou o saquinho para enjoo oferecido a cada passageiro.
“Comecei a escrever uma letra comprida, e em algum momento ela explodiu e se transformou em outra coisa”, contou o roqueiro, que nasceu na Austrália e mora em Brighton, na Inglaterra.
“De repente, percebi que estava escrevendo algo que eu não teria que cantar, uma poesia. Isso me assustou, porque sempre vi a poesia como algo mais nobre.”
Mesmo assim, ele continuou a escrever ao longo da turnê.
O carrancudo e desajeitado Cave, 57, é o vocalista da banda Nick Cave and the Bad Seeds. Ele já escreveu dois romances. “The Sick Bag Song” é um experimento com um misto de prosa, poesia, letras de canções e autobiografia.
O trabalho foi publicado recentemente e não está disponível nas livrarias ou na Amazon. Cave o está vendendo diretamente aos fãs através do site thesickbagsong.com, uma estratégia que funcionou para bandas como Radiohead e o humorista stand-up Louis C.K.
O livro está disponível em forma impressa, digital ou como audiolivro narrado pelo próprio Cave, por cerca de US$45. Há edições limitadas que incluem um LP, audiolivro e saquinhos originais de enjoo customizados por Nick Cave, ao custo de cerca de US$ 1.100.
“The Sick Bag Song” transita entre memórias de infância de Cave e momentos de seu casamento, passando por episódios dos bastidores da vida de um roqueiro.
Cave escreve sobre procrastinação, solidão e criatividade, sem deixar de descrever o processo de tingimento de seus cabelos negros em um banheiro de hotel.
“Preparo a pasta com cuidado numa bacia e pinto meu cabelo de preto/ para que fique como uma asa negra de corvo / sobre minha testa de muitos andares”, escreve.
“A luz do banheiro é brutal. / Reposiciono meu rosto para que eu pare de me parecer / com King Jong-un e comece a ficar mais parecido com Johnny Cash / ou alguém.”
O romancista Hari Kunzru disse que o lirismo desvairado do livro o lembrou de Allen Ginsberg, Walt Whitman e John Berryman.
“Não falamos de poesia constrangedora, à moda de Jim Morrison. É uma poesia bastante trabalhada e que merece ser levada a sério por pessoas que podem reagir com atitude esnobe pelo fato de ter sido escrita por um músico.”