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Rússia semeia a desunião

A guerra na Ucrânia, que colocou a Rússia contra o Ocidente, não é travada apenas com tanques, artilharia e tropas. Cada vez mais, Moscou se aproveita de seu poder econômico, financiando partidos políticos e movimentos europeus e espalhando relatos alternativos do conflito na Ucrânia, de acordo com autoridades americanas e europeias.

O objetivo do Kremlin parece ser semear a desunião e possivelmente acabar com o que até agora tem sido um consenso relativamente unificado, embora às vezes frágil, contra a agressão russa. Se a Rússia conseguir separar um único membro da União Europeia, conseguiria impedir a renovação das sanções econômicas este mês.

O governo da Grã-Bretanha está ciente da estratégia de Putin.

“Com relação ao dinheiro russo, sim, claro estamos preocupados com o que é claramente uma estratégia do Kremlin de tentar acertar, digamos, os irmãos que podem estar mais vulneráveis ou menos empenhados no período que antecedeu a decisão de junho. O Kremlin certamente percebe que esse é um processo de unanimidade e que eles só precisam de um”, disse o ministro britânico das Relações Internacionais, Philip Hammond.

Autoridades americanas e europeias disseram estar confiantes de que as sanções seriam renovadas no encontro da União Europeia, em Bruxelas, nos dias 25 e 26 de junho. A Alemanha apoia sanções amplas até janeiro próximo, e nações menores podem não querer desafiar Berlim. Mas não há o desejo de ampliar as sanções.

Os esforços da Rússia para influenciar o Ocidente assumem diferentes formas.

Ela usa seu status de fornecedor de energia para influenciar clientes na Europa, e agora pressiona países no sudeste do continente, incluindo a Grécia, a apoiarem um novo projeto de gasoduto com promessas de benefícios econômicos.

Há muitos anos, a Rússia paga inserções patrocinadas pelo governo em jornais e websites de 26 países (inclusive o New York Times). Mais recentemente, propôs expandir a RT, seu serviço de televisão, que transmite em inglês e em outras três línguas e aponta as fraquezas ocidentais.

Autoridades americanas e europeias acusaram Moscou de financiar movimentos verdes na Europa para encorajar os protestos contra a fratura hidráulica para defender a indústria de gás russa.

A Rússia parece estar conseguindo resultados recentemente em países como Grécia, Hungria, República Tcheca e até Itália e França. Ela não só está se alinhando aos esquerdistas tradicionalmente associados a Moscou desde a Guerra Fria, mas também a forças de extrema-direita que se rebelam contra a ascensão da União Europeia e que simpatizam com o ataque de Putin ao que ele chama de declínio moral do Ocidente.

O exemplo mais proeminente foi a Frente Nacional, na França, que, sob Marine Le Pen, confirmou o empréstimo de US$ 11,7 milhões do Primeiro Banco Tcheco-Russo em Moscou, que foi associado ao Kremlin. Ela desmentiu uma reportagem que disse que esse dinheiro era apenas a primeira parcela de um empréstimo de US$ 50 milhões para ajudar seu partido nas eleições presidenciais em 2017.

O Partido da Liberdade da Áustria, de extrema-direita, negou qualquer dependência do Kremlin, alegações feitas por seu rival de esquerda, o Partido Social Democrata, depois que o líder do Liberdade, Heinz-Christian Strache, postou fotos de si mesmo e outros líderes do partido em uma conferência em Moscou.

O tabloide alemão Bild informou que o Partido Alternativa para a Alemanha, que é anti-euro, havia se beneficiado com a venda de ouro subfaturado da Rússia, fato negado pelo partido. Alguns membros do Partido Jobbik, da extrema-direita húngara, estão sendo investigados em busca de laços financeiros com a Rússia. E há acusações e inquéritos semelhantes na Bulgária, com seu Partido Ataque de extrema-direita; na Eslováquia, com o Partido Popular; e nos países bálticos, especialmente com o partido pró-Rússia da Letônia.

Partidos de extrema-direita que muitos veem como alinhados com Moscou votam contra resoluções contrárias à Rússia no Parlamento Europeu e enviaram observadores para referendos e eleições realizadas nas regiões separatistas da Ucrânia, Crimeia e Donetsk, juntamente com membros de alguns partidos de extrema-esquerda, como Die Linke na Alemanha e KKE na Grécia.

O Instituto Capital Político, uma organização de pesquisa em Budapeste, listou 15 partidos europeus de extrema-direita “comprometidos” com a Rússia.

De acordo com o Instituto, “A influência russa nos assuntos da extrema-direita é um fenômeno visto na Europa como um risco à integração euro-atlântica.”

Carl Bildt, ex primeiro-ministro e ministro de Relações Internacionais da Suécia, disse que essa tendência é uma preocupação para a Europa. Está “muito claro que o Kremlin tem todo o interesse em fraturar a Europa de qualquer jeito. E age ativamente em todas as divisões que percebe”, disse ele por e-mail.

O general Martin E. Dempsey, presidente do United States Joint Chiefs of Staff, manifestou preocupações semelhantes sobre o que chama de “capacidade de empregar outros instrumentos de poder” da Rússia, além da força armada.

“O presidente Putin considera a OTAN uma ameaça, e irá procurar oportunidades de descreditar e eventualmente comprometer a aliança. O objetivo final de Putin é o desequilíbrio da OTAN”, disse Dempsey em um e-mail.

David Kramer, secretário de estado assistente do presidente George W. Bush e agora um especialista do Instituto McCain de Liderança Internacional em Washington, disse que qualquer financiamento russo dos partidos europeus pode acabar sendo um tiro pela culatra caso aliene a elite governante na Europa.

“É uma grande preocupação, mas gostaria de saber se no final eles vão dar um tiro no pé e gastar esse dinheiro”, disse Kramer.

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