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Avalanche

Russos tentam domar montanha olímpica

Especialistas estão construindo barragens, derrubando cornijas e recorrendo a explosões com rajadas de gás para afastar o risco de avalanches em Sochi | James Hill/The New York Times
Especialistas estão construindo barragens, derrubando cornijas e recorrendo a explosões com rajadas de gás para afastar o risco de avalanches em Sochi (Foto: James Hill/The New York Times)

Espalhados no alto de penhascos escarpados e cobertos de neve, nas montanhas do Cáucaso, dezenas de tubos metálicos com diâmetros imensos se projetam horizontalmente a partir das rochas. Um cotovelo colocado nos canos os direciona para baixo, como se fossem gigantescos bicos de torneiras.

Eles são parte de um intrincado arsenal concebido para evitar que avalanches potencialmente catastróficas e letais atinjam a nova estação de inverno de Rosa Khutor, que abrigará as modalidades de esqui alpino e snowboarding na Olimpíada de Inverno de 2014.

Rosa Khutor é tão nova que há pouco conhecimento sobre a probabilidade e o perigo dos deslizamentos de neve. Os primeiros estudos sobre avalanches na área foram conduzidos em 2008, depois de Sochi ter sido contemplada como sede dos Jogos e assim que a construção da estação começou para valer.

"A área era totalmente virgem, um espaço selvagem que consistia em grandes florestas interrompidas em algumas partes por trilhas de avalanches", diz um documento de 2012 escrito por consultores externos e por autoridades da nova área de esqui. Os peritos constataram que as condições para avalanches eram quase perfeitas.

É por essa razão que há uma equipe de especialistas dedicada somente à prevenção de avalanches em Rosa Khutor.

É por essa razão que duas retroescavadeiras rastejam no topo dos cumes mais altos, removendo perigosas cornijas.

É por essa razão que as encostas das montanhas foram remodeladas, com barragens de nove metros de altura para afastar as avalanches das pessoas e das edificações.

E é por essa razão que existem 43 imensos tubos brotando das rochas, os quais podem provocar uma explosão de oxigênio e gás propano para criar avalanches artificiais, antes que possam ocorrer as grandes, em escala natural.

"Com a filosofia de controlá-las com frequência, acreditamos que não teremos problema", disse Jean-Louis Tuaillon, administrador da montanha de Rosa Khutor.

O topo do pico Rosa pode até parecer o teto do mundo. A elevação é de 2.320 metros. O Mar Negro, 48 quilômetros ao sul, é visível em dias claros. A vista pode ser comparada, com vantagem, a quase todos os lugares dos Alpes ou das Rochosas. E o acúmulo de neve também.

Cerca de 300 metros abaixo do topo, em uma vasta bacia branca, está o local planejado para a largada dos homens no percurso de esqui "downhill" na Olimpíada. Um pouco mais abaixo fica o ponto de início da prova feminina. Parte das pistas está nas principais zonas de avalanche. Uma estrutura maciça foi instalada para proteger as pistas de um grande deslizamento.

Uma década atrás, os planos para Rosa Khutor incluíam alguns teleféricos e uma modesta estação de esqui. Tudo mudou em 2007, quando Sochi foi contemplada com os Jogos de 2014. O orçamento para a construção deu um salto de US$ 200 milhões para US$ 2 bilhões, disse Alexander Belokobilski, diretor-executivo de Rosa Khutor. Com 18 teleféricos e quase 96 quilômetros de pistas de esqui, Rosa Khutor já é a maior área de esqui da Rússia.

Mas havia poucos registros climáticos históricos, o que ainda causa preocupação sobre a situação meteorológica nos vários espaços do evento durante a Olimpíada de Inverno. Os organizadores adotaram medidas drásticas para garantir que haja neve suficiente, estocando, por exemplo, enormes pilhas de neve do ano passado no fundo de florestas escuras. Havia ainda menos informações sobre o perigo de avalanches.

A Engineerisk, empresa francesa especializada em estudos de riscos e prevenção, foi contratada para fazer recomendações. Descobriu duas grandes questões, e ambas envolviam o planejamento das pistas olímpicas de esqui.

"Primeiro, os acúmulos de neve são especialmente importantes ao longo dos penhascos expostos ao vento no topo da estação", observou Fanny Bourjaillat, da Engineerisk, em um relatório apresentado em 2012 no evento Oficina Internacional de Ciência da Neve 2012, em Anchorage, no Alasca.

"Notavelmente na Bacia da Rosa, essas encostas superiores ameaçam diretamente as corridas de esqui "downhill". Dependendo da temperatura, essas placas frias ou avalanches de neve molhada e pesada podem começar quase em qualquer lugar e descer para a área de esqui."

Uma segunda questão envolvia uma face adjacente do cume. "Além disso, em Ober Khutor, ou Bacia Leste, onde muitas bacias se sobrepõem a longas encostas íngremes, é possível a ocorrência de avalanches imensas, arrastando grandes volumes de neve capazes de chegarem a altitudes mais baixas", diz o relatório.

O que se seguiu foi um vasto projeto de mitigação de avalanches destinado a combater os piores cenários imaginados. Em fevereiro, Tuaillon organizou uma visita. Ele partiu de um escritório na base do vale fluvial, onde não havia neve alguma, e caminhou até o primeiro dos três teleféricos necessários para chegar ao topo do pico Rosa, onde as cornijas de gelo, se deixadas intocadas, podem formar três patamares.

A parte de cima, alcançada pela primeira gôndola, é uma área movimentada, com elevadores e alojamentos, a base para os esquiadores de Rosa Khutor. Nas imediações fica o Parque Extremo, onde serão realizados os eventos olímpicos de snowboarding e esqui estilo livre —que envolve manobras, saltos e obstáculos—, fora da área de risco para avalanches, segundo as autoridades. Tuaillon conduziu os visitantes até um escritório, o centro de controle de avalanches. Computadores monitoravam as condições do tempo e da neve de uma dúzia de lugares na região da estação.

Se a neve estiver prestes a ficar muito profunda ou bastante instável perto de qualquer um dos 43 tubos protuberantes, que fazem parte do sistema chamado de Gazex, alguns cliques de mouse podem provocar uma explosão. Uma rajada invisível de gás empurra a ponta para baixo. Se as coisas correm como planejado, a neve embaixo se rompe e desliza lentamente montanha abaixo. Em alguns casos, ela é afastada das estruturas e dos teleféricos por enormes bordas, como calhas de um bueiro para água da chuva. No final, a neve e os detritos se sedimentam, formando montes, sem causar danos.

Tuaillon e outros peritos em avalanches durante muito tempo pediram às autoridades russas que os deixassem usar um arsenal de técnicas de mitigação comumente empregadas por patrulhas em áreas de esqui de estações ocidentais —principalmente cargas de explosivos jogadas manualmente, para aplicação em lugares especialmente problemáticos, e o Avalancheur, um aparelho que dispara explosivos em longa distância.

Os russos disseram que não. Eles não queriam nenhum explosivo em áreas civis, explicaram. As montanhas do Cáucaso abrigam extremistas antirrussos.

No primeiro semestre deste ano, depois de muita discussão, Tuaillon foi informado de que ele poderia utilizar um tipo específico de explosivo (seus dois componentes estocados separadamente não têm utilidade e só servem se forem misturados) e um Avalancheur.

Do segundo teleférico, Tuaillon apontou para as barragens construídas para desviar a neve no inverno. Do terceiro, surgindo detrás de árvores, o conjunto dos tubos Gazex é visível. Ele indicou a pequena cabine onde quatro trabalhadores servirão como os olhos e ouvidos das mudanças na montanha a cada nevada e mudança do tempo.

"Sinceramente, não acho que o risco seja grande", disse Tuaillon. "Mas como em qualquer lugar do mundo, você pode ter um tempo louco. E são montanhas."

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