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Emily Kim tem 650 mil seguidores no YouTube | Morgan Lone Yeage/The New York Times
Emily Kim tem 650 mil seguidores no YouTube| Foto: Morgan Lone Yeage/The New York Times

Durante os anos em que foi viciada em jogos on-line, a vida de Emily Kim começava quando chegava em casa, depois do trabalho, às seis da tarde.

“Tomava um banho rápido e engolia alguma coisa às pressas para poder começar a jogar — e só parava lá pelas três da manhã”, conta ela que hoje é conhecida como Maangchi, a estrela culinária coreana do YouTube.

Em 2003, divorciada e com os dois filhos crescidos e já fora de casa, Emily começou a se interessar pelo jogo de batalha “City of Heroes” e chegou ao ponto de não conseguir parar. Maangchi, que significa “martelo” em coreano, era o nome de seu avatar on-line. Até que finalmente, em 2007, os filhos a convenceram a tentar uma forma de expressão mais produtiva na internet: vídeos culinários. “Não tinha a mínima ideia se alguém ia me ver ou não, mas as receitas coreanas que eu via em inglês estavam cheias de erros, só queria mostrar a maneira certa de fazer as coisas”, revela.

Hoje Emily já superou a marca de 619 mil assinantes em seu canal.

Aos 58 anos, ela acabou de publicar um livro de receitas, “Maangchi’s Real Korean Cooking”, uma das obras mais abrangentes sobre a culinária coreana já escrita para norte-americanos, mas sem grandes adaptações para tornar os pratos mais “palatáveis”.

Vendo seus vídeos é difícil imaginá-la como uma jogadora compulsiva reclusa. Usando sombras em cores extravagantes e batom rosa brilhante, ela prepara grandes porções de delícias populares como bibimbap, bulgogi e KFC, o frango frito coreano, adocicado e apimentado — e mostra as infinitas variações de kimchee, além de ensinar ao seu público a pronúncia correta de pratos como soegogi-muguk (SEI-go-dji mu-GÃK), uma sopa de carne e rabanete.

Embora reforce a aparência juvenil e simpática, Emily é, acima de tudo, uma professora — muito rígida, aliás. “Tenho que fazer tudo bem certinho, senão são os coreanos que vão reclamar”, afirma.

Essa foi a frase que teve que repetir à exaustão aos editores do seu livro, que hesitaram em incluir receitas que levavam sardinha fermentada, salada de água-viva e caldo de alga marinha. Para Emily, esse é o problema que acomete praticamente todos os restaurantes coreanos dos EUA: a comida é mais doce, mais salgada, menos ardida e leva menos umami do que deveria.

Emily é de Yeosu, cidade portuária no extremo sul da Península Coreana, onde sua família comercializava frutos do mar. E, como incontáveis gerações de mulheres coreanas antes dela, aprendeu com a mãe, as tias e as avós não só a cozinhar, mas também a fazer conservas, defumar, desidratar e fermentar.

Chegou aos EUA em 1992, com o marido, um acadêmico que deixou seu país para assumir o cargo de professor no Missouri. No Meio-Oeste, liderou verdadeiras expedições em busca de restaurantes japoneses ou chineses.

Hoje mora e grava seus vídeos acima da agitação de Times Square. Divide o apartamento e a vida com David Seguin, desenvolvedor de sistemas para a Internet do New York Times, com quem se casou em 2009. Ali, pratica a antiga (e lenta) arte da fermentação, preparando gochujang (pasta de pimenta) e doenjang (pasta de soja), elemento rico em umami amplamente usado na culinária coreana. A receita pede um cobertor elétrico, quase quatro quilos de sal e feno e leva quase um ano para ficar pronta.

Tradicionalmente, o jantar mais básico em família consiste em oito ou dez pratos: sopa ou refogado, arroz, kimchee, um stir-fry de proteína e legumes e pelo menos três acompanhamentos como salada picante de pepino ou berinjela cozida.

“Não há nada que os coreanos amem mais do que se sentar à volta de uma mesa lotada de comida — e se tiver uma grelha no meio, melhor ainda”, conclui ela.

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